Simone Ribeiro: “Formosa é um polo agropecuário gigante, e esse potencial precisa ser explorado”

15 fevereiro 2025 às 21h16

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Psicóloga por formação, Simone Ribeiro, do PL, fez história ao ser a primeira mulher eleita prefeita do município de Formosa, no Entorno do Distrito Federal. Ela chegou ao cargo do Executivo com mais de 23,3 mil votos – desbancando grupos políticos tradicionais da cidade. A gestora entrou na política no ano de 2020, quando se candidatou ao cargo de vereadora de Formosa e venceu. Antes disso, Simone conta que “não gostava de política”, mas passou a se interessar por ela ao perceber, incentivada por mulheres de seu círculo, que seu perfil – considerado determinado e resolutivo – era intrinsecamente ligado aos requisitos de um mandato eletivo. Ao longo da campanha de 2024, a chefe do Executivo municipal de Formosa contou com o apoio de nomes de peso da política no espectro da direita, entre eles o do ex-presidente Jair Bolsonaro e da deputada federal Bia Kicis. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Simone Ribeiro revela ter assumido uma gestão endividada e sucateada, problemas que, segundo ela, têm enfrentado mesmo ante o bombardeio de ataques de oposicionistas. A prefeita se intitula cristã e “uma mulher de fé”, o que, conforme ela, a ajuda a enfrentar as adversidades do mandato à frente de uma cidade com problemas tão graves como Formosa.
Ton Paulo – A senhora foi eleita prefeita de Formosa, com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e desbancando grupos políticos tradicionais da cidade. A senhora tinha essa expectativa de chegar à Prefeitura? Como foram as articulações, a campanha, o processo até o pleito e depois dele?
Nunca tive muitas pretensões políticas. Entrei na política em 2019, participei da campanha de 2020 para a vereadora pelo então PSL e fui eleita vereadora, com 446 votos. Tramitei minha vereança com muita transparência e contato com as pessoas. Na verdade, o que antecede a política na minha vida é cuidar de pessoas. Amo servir, engajar pessoas em projetos. Sempre fiz isso.
Sempre digo que o Espírito Santo de Deus e a psicologia me ajudaram muito na campanha para a vereadora, no processo legislativo. Tramitei muitos projetos interessantes para a população. E sem muitas pretensões, realmente. Pensava que seriam só quatro anos de mandato e já estaria satisfeita. Só que o processo político é muito natural. Você vai ganhando popularidade, vai ganhando um capital político, e meu nome começou a ser evidenciado em pesquisas.
Eu questionei “Como assim?”, pois eu não tinha pretensão, mas meu nome começou a gradativamente crescer nas pesquisas, mas sempre em terceiro lugar. Sou cristã, acredito muito em Cristo, e vejo que nós, cristãos, temos que seguir os sinais de Deus nas nossas vidas. Em dado momento, falei, “Vou ser candidata à prefeita da minha cidade, por que não?”.
Ton Paulo – E a senhora foi desencorajada?
Ouvi muito que eu tinha a possibilidade de me tornar vereadora de novo, e que eu perderia a eleição para a Prefeitura pois não conseguiria enfrentar os grandes grupos. E eu tive que lutar para ter meu partido, para concorrer à eleição. Eu era desacreditada. No entanto, quando tenho certeza de algo que é de Deus para mim, eu vou e, como dizem, enfio a cara.
Foi uma campanha bem árdua. Os grupos que estavam disputando atacavam família, e quando mexe com a família, mexe com a gente. Por mais que eu não me envolvesse nas polêmicas, você está dentro do processo e acaba respingando. Muitas das vezes, eu tinha vergonha de pedir voto, por conta do processo que estava acontecendo na cidade.
Mas eu não respondia a ataques e continuei garantindo meu voto. Todo eleitor se tornava um cabo eleitoral gratuito. E, assim, nossa campanha foi olho no olho, sempre com muita proximidade, explicando o que é a política.
Tive 23.319 votos em todas as urnas. Formosa tem uma especificidade interessante: é um grande centro, três distritos e uma zona rural muito extensa. Em todas as urnas tivemos votação expressiva.
Ton Paulo – E a senhora é a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita de Formosa. Qual o peso, a responsabilidade desse papel?
O fato de ser mulher é algo desafiador na política. Sempre enfrentei muitos desafios, muita escassez, muito sofrimento, mas sempre tive uma fé inabalável e a convicção de que ninguém jamais me deixaria para baixo, ou me diria que não posso fazer algo.
Sempre fui à luta. Sempre aproveitei as oportunidades. Quando elas não vinham, eu as criava. A política, por mais desafiadora que seja, é um campo gigante para você criar. E quando eu digo criar, falo da atração e uso de tecnologias, de inovações. Mas ao mesmo tempo, o que precisamos enquanto seres humanos? Acolhimento, olhar no olho, abraço sincero. É isso que mais entrego para a minha população.
A mulher Simone Ribeiro tem entregado isso para a população. É muito desafiador porque, em contrapartida, algumas pessoas não querem acreditar que existe uma mulher forte, guerreira, e que pensa assim. Nunca vi, em um início de mandato alguém ser tão criticado, ter as suas ações evidenciadas de maneira pejorativa, de maneira persecutória. Mas eles estão falando sobre eles, não sobre mim.
Existe preconceito, sim, por ser mulher, isso é um fato. Mas eu sei quem eu sou nesse processo, e isso me basta.
Luan Monteiro – Prefeita, a senhora falou um pouco sobre um “chamado para servir”. Como a senhora se preparou para assumir o posto que ocupa hoje?

Acredito que tudo deve ter uma preparação. Quando decidi ser vereadora, me preparei estudando por seis meses, porque, até então, eu não gostava de política. Aqui, evidencio uma das mulheres que mais me inspiram, que é a doutora Janete Vaz, do Grupo Sabin. Trabalhei em um laboratório como gestora na minha cidade e ela disse, pelo meu perfil, que eu deveria ser política.
Me lembro que, na época, falei algo como “Deus me livre, odeio política!”, mas eu já era politizada. Hoje, sou prefeita da cidade e ela diz “Acreditei nisso antes mesmo de você acreditar”. E quando eu disse sim para a política, fui estudá-la.
Me preparo todos os dias, me conecto com pessoas, políticos com os quais me identifico. E aqui referencio mais uma mulher de destaque na política, que é a deputada Bia Kicis. Ela lutou por mim, acreditou em mim, lutou para eu ter um partido, para eu ter um pouco de recurso. E ela sempre me ajudou quando eu era vereadora.
Ton Paulo – Em que situação a senhora pegou a Prefeitura de Formosa?
É válido ressaltar que, em segundo lugar, nas urnas no ano passado, ficaram os votos nulos, brancos e indecisos, tamanho o descrédito que a população tinha em relação à política de Formosa. Foi quando eles disseram “Chega, agora é a Simone Ribeiro”.
Nossa arrecadação é, em média, de R$ 30 milhões, e fiquei com uma dívida de mais de R$ 150 milhões. Serviço básico estava sucateado. Saúde, educação, tudo sucateado. A ordem desde outubro era parar tudo
Ainda temos muitas situações de pendências que precisávamos resolver da gestão passada. A pior delas são as dívidas.
Ton Paulo – Quanto a senhora pegou em caixa e qual o tamanho da dívida deixada?
Em caixa? Nada. Só pegamos dívidas. Consignado de banco, situação em que o banco repassou o consignado para os funcionários, mas não recebeu o pagamento de volta. O Fundo De Previdência Social Do Município De Formosa, o FormosaPrev, que só ele tem R$ 19 milhões [em dívidas]. Tivemos que pagar os credenciados, demitir comissionados.
Nossa arrecadação é, em média, de R$ 30 milhões, e fiquei com uma dívida de mais de R$ 150 milhões. Serviço básico estava sucateado. Saúde, educação, tudo sucateado. A ordem desde outubro era parar tudo. Imagine, entrar em uma casa suja, quebrada, endividada, sem dinheiro, sem remédio na UPA, criança em escola com parede caindo, transporte caindo pneu.
E a ordem desde outubro era parar tudo. É muito desafiador, mas tenho uma esperança porque as pessoas estão olhando para a nossa gestão e percebendo que é uma gestão de choque. Sou uma mulher que pensa na zeladoria. Eu quero zelar pela minha cidade, quero trazer esse olhar belo para Formosa, quero deixá-la limpa. Temos feito mutirões de limpeza em que conseguimos limpar avenidas, pinta meio-fio, por exemplo.
Mas estou tirando leite de pedra e olhando para frente. Para o alto e para frente. Porque se olharmos para um lado ou para o outro, bate o desânimo. E vamos combater a corrupção: não roubar e não deixar roubar. Isso é bíblico. Cabe ao homem usufruir do trabalho do suor de seu rosto.
Quero fazer por Formosa em quatro anos o que ninguém fez ainda, que é amar e cuidar da cidade. E vamos conseguir fazer isso junto com a população.
Ton Paulo – A senhora foi eleita com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. Qual foi, exatamente, o papel dele em sua campanha?
O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e eu tivemos contato desde 2020, quando fui candidata a vereadora. Me identifico muito com as pautas da direita, mas costumo dizer que eu não tenho político preferido, mas enquanto presidente, Bolsonaro despertou um patriotismo.
Isso não significa que concordo com tudo o que ele fala e faz. Extremismo não cabe na minha identificação com a política. Não sou extremista, abro diálogos, discussões. Tive muitos votos de petistas, por exemplo. Semana passada, estive na Câmara e me sentei ao lado da deputada Adriana Accorsi, e eu disse para ela que a causa da população não tem cor e não tem partido. É assim que eu penso.
Claro, tenho identificação e tive um apoio de Jair Messias Bolsonaro, e da Michelle Bolsonaro. Eles não participaram presencialmente da minha campanha, mas me mandaram vídeo de apoio. Isso ajuda muito. Mas eu não fechei portas para a esquerda, porque eu penso que na minha cidade, na minha realidade, eu não posso focar em partido e lado A ou B, porque o meu povo precisa de desenvolvimento, de dignidade, e a minha figura nesse processo é de diálogo.
Ton Paulo – A senhora é do PL, e é sabido que o partido deve ter candidato ao governo de Goiás em 2026. Qual a visão da senhora sobre isso, e sobre o projeto em curso do governador Ronaldo Caiado, que deve disputar o Palácio do Planalto, e do vice Daniel Vilela, que vai concorrer ao Palácio das Esmeraldas?
Acredito que todos podem se posicionar, e já estão se posicionando. No PL, temos o nosso senador Wilder Morais. Mas temos também o Daniel Vilela. Valorizo e respeito muito esses projetos, mas quem sou eu para dizer que vai ser A ou B o candidato e eleito? Até porque A e B podem se juntar.
O fato de ser mulher é algo desafiador na política. Sempre enfrentei muitos desafios, muita escassez, muito sofrimento, mas sempre tive uma fé inabalável e a convicção de que ninguém jamais me deixaria para baixo
Euler França de Belém – O Daniel Vilela e o PL podem se unir em 2026?
É arriscado fazer essa declaração, mas na política tudo pode acontecer, inclusive nada. Sou construtiva e agregadora. Já sentei com o Daniel Vilela, e eu quero muito ainda ver uma política de Estado agregadora, pacífica e pacificadora, porque na briga entre o elefante e a formiga, quem perde é a grama, ou seja, é o povo que está ali no meio.
Portanto, acredito muito na parceria município-Estado, Estado-município, e luto todos os dias para ter esse apoio do governo. Temos que trabalhar essa governabilidade e inteligência emocional. Falta inteligência emocional para os políticos entenderem isso.

Euler França de Belém – Quais são as demandas de Formosa em relação ao governo do Estado?
É impossível o Estado pensar que não precisa do município. Não só pelo capital político que os prefeitos têm, mas pelas contrapartidas de competência do município. O Estado tem seus programas, seus projetos e o município precisa desse apoio.
Vou dar um exemplo. O IBGE traz que temos 115 mil habitantes, mas tenho certeza que contamos com cerca de 140, 150 mil habitantes. Formosa tem um grande centro, e além desse centro, temos três distritos e uma zona rural muito extensa que atende micro, pequeno, médio e grande produto rural.
Formosa é um polo agropecuário gigante, temos um distrito agroindustrial imenso. Quando falamos em estrada, precisamos, por exemplo, pavimentar a última fronteira agrícola do estado de Goiás, que é a GO-116, que liga 15 municípios e a zona rural de Formosa. Imagine o potencial daquele lugar para produtividade e o produtor rural.
Temos a GO-484, a GO-454, várias GOs que precisam de manutenção, inclusive fora do período chuvoso.
Euler França de Belém – E a senhora já apresentou a demanda para o governo, para a pavimentação?
Sim, já apresentamos. Na semana retrasada, o deputado estadual Alessandro Moreira levou um ofício da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes, a Goinfra, no qual dizia que vai ter início o projeto executivo, para pavimentação. Então temos uma esperança.
Há outras demandas também que envolvem o Estado. Uma delas é o hospital estadual, que vai ser referência em tratamento cardiovascular. É uma estrutura gigantesca.
E preciso dizer que Formosa é o polo que vai atender as redondezas, mas precisamos realmente discutir com a Secretaria de Saúde do Município e a direção do hospital para que atendamos principalmente o nosso povo, que pena muito, que precisa ir para Uruaçu ou para Goiânia para fazer cirurgias básicas.
Esse hospital é do Estado. Mas, infelizmente, ainda há pacientes que não são atendidos lá, mas sim em Goiânia e Uruaçu. E eu preciso do diálogo entre o Município e o Estado para entender o porquê dessa situação. Ele está atendendo parcialmente, mas quando for inaugurado, tiver todas as suas possibilidades, acredito que Formosa terá essa atenção.
Outra coisa que precisamos ampliar é a policlínica estadual. Segundo a última pesquisa que fiz, nós tínhamos apenas 25 lugares para hemodiálise. Precisamos ampliar o atendimento da hemodiálise.
Euler França de Belém – Muitos prefeitos já se referiram a Formosa como “ingovernável”. A senhora, por exemplo, assumiu uma prefeitura endividada. Quais as expectativas quanto a isso?

Marcar a história de Formosa como a primeira mulher eleita prefeita é um fator, porque poderia ser outra mulher. Mas mais desafiador ainda é deixar o nosso nome na história, nosso legado. Acredito muito que, mesmo diante de tantos desafios, Formosa hoje está tendo um olhar diferente. A cidade já está sendo vista de maneira diferente, até nacionalmente.
É válido ressaltar que, em segundo lugar, nas urnas no ano passado, ficaram os votos nulos, brancos e indecisos, tamanho o descrédito que a população tinha em relação à política de Formosa. Foi quando eles disseram “Chega, agora é a Simone Ribeiro”
Muitos que iam embora da cidade, inclusive grandes empresários, me falaram “Agora eu não vou mais. Eu pensei em parar de investir em Formosa, mas agora eu vou pensar em investir na cidade”. Estamos adquirindo essa credibilidade. E em cima dessa credibilidade é que eu acordo todos os dias, peço a Deus força, coragem, oriento o meu secretariado, que é todo técnico, porém sensível à dor das pessoas e também muito bem direcionado a fazer a coisa certa.
Já estamos vendo bons frutos, principalmente com a parceria público-privada. Quando cheguei e vi essa “ingovernabilidade”, me questionei o que fazer. A cidade tem muita gente com dinheiro, mas não tira o dinheiro do bolso porque não acredita no local. Agora estão acreditando em mim, na minha gestão.
Então, o que nós vamos fazer? Vamos trazer esse pessoal para perto. Na primeira semana de gestão, publiquei um decreto que cria o Mãos que Zelam, que é um programa de voluntariado que busca envolver cidadãos em ações de cuidado e transformação da nossa cidade. E recebemos muita ajuda.
Prefeita, Formosa, não só Formosa, mas os municípios em geral do entorno indéfino sofrem com alguns gargalos de infraestrutura, tem as vezes a questão do governo do estado, que são os municípios que tem até piada, nem lá nem cá, fica bem na divisa.
Ton Paulo – Sem contar a dívida milionária que a senhora mencionou, quais são os maiores, e prioritários na solução, problemas de Formosa hoje?
O maior desafio para mim, hoje, é fazer o básico bem feito. Entregar uma educação de qualidade, bem feita, porque as estruturas das escolas estão caóticas. Falta mobília, falta reforma. É entregar uma saúde de qualidade, que é o mínimo que o ser humano e o município precisam. Mas as UPAs estão sucateadas, estão aguardando realmente um socorro de provimentos básicos.
Enquanto vereadora, eu tinha conhecimento dessa situação e fui a parlamentar que mais levou recursos para a cidade, mais de R$ 4 milhões. Mas hoje sou executora, e hoje eu entendo com mais afinco que tem como fazer. Tem muito dinheiro e falta projeto.
Nossos indicadores da saúde são catastróficos. Por falta de informação e sistema, nós deixamos de receber recurso do governo federal, por exemplo. Portanto, estamos trabalhando bastante. Vamos trabalhar direito, vamos fazer a coisa certa, então o recurso vem.
Quando me perguntam qual a minha prioridade, digo que é entregar saúde, educação e infraestrutura. E nesses 100 primeiros dias de gestão, quero fazer chegar até o povo a consciência de que somos uma cidade estrategicamente importante, estrategicamente bem posicionada, uma cidade privilegiada, perto de Goiânia e ao lado de Brasília.
Ton Paulo – Já há emendas parlamentares em vista? Ou que já foram levadas para Formosa em sua gestão?
A senadora Damares Alves esteve Formosa e levou um milhão de reais em recursos. Já o senador Wilder Morais vai empenhar cinco milhões de reais. A própria Adriana Accorsi, do PT, que tem dois vereadores na Câmara Municipal, se comprometeu a ajudar. O Rubens Ottoni, também do PT, é outro. E tem nossa deputada, uma mulher que tem lutado por mim desde a transição de governo, que é a deputada Silvye Alves, que também já sinalizou que vai nos ajudar.
Tem também o deputado Daniel Agrobon, que foi até Formosa e se prontificou. Também o deputado federal Professor Alcides, uma pessoa que sempre me ajudou quando eu era vereadora, e que agora se dispôs a nos ajudar na Prefeitura. E aqueles que quiseram ajudar serão evidenciados, independente de partido.
Ton Paulo – E como está a base da senhora na Câmara Municipal de Formosa? Como estão os diálogos com o Legislativo?
Acredito que os Poderes precisam ser independentes. Eles têm que ter autonomia, porém respeitar a harmonia. Tenho realmente a maioria votando conosco, tenho a maioria dos vereadores que entram junto na missão. Que dizem “Olha, a gente está junto, pode contar conosco, acreditamos no seu trabalho”.
Portanto, fora da minha coligação e dentro da minha coligação, tem muitos vereadores que estão próximos.

Ton Paulo – E a senhora tem uma autobiografia publicada, é isso mesmo?
Sim. Se chama “O poder de ser quem você é – Descubra a sua importância no mundo e avance sem medo”, com prefácio escrito pela doutora Janete Vaz, uma amiga que me estimulou muito a entrar na política.
Sempre fui muito de rede social. Sou uma pioneira dessa questão de desenvolvimento de pessoas, das mulheres, sobretudo em Formosa. Tanto que eu era criticada e tachada como a que “gostava de aparecer”. Mas muitos que criticavam, hoje me pedem dicas. Eu gravava vídeos dentro do carro, palavras rápidas e de motivação. Acredito que, na rede social, onde temos autoridade para falar, precisamos falar. Pois é tanta besteira, tanta coisa que surge, então devemos usar as redes para um fim significativo.
Então, o Márcio Aguiar, meu amigo, cientista político de Santo Antônio do Descoberto, me disse “Você tem que escreveu um livro”. Inclusive, eu evidencio o nome dele na obra. Eu sempre tive vontade de escrever. Comecei, e compartilhava com o Márcio, e ele foi me motivando.
Em 2021, quando entrei na vereança, com cinco meses de mandato perdi uma das pessoas mais importantes na minha vida: meu pai, que me criou. Sou filha adotiva dele. Ele me resgatou de uma comunidade rural, onde tínhamos muita escassez. Não passávamos fome, mas era tudo muito escasso.
Esse meu pai morreu aos 64 anos, tirou a própria vida, o que aconteceu logo quando entrei na vereança. Hoje falo sobre isso com naturalidade, mas foi algo que me abalou muito. Eu disse, na época: “Não, não quero saber de nada de política, não quero saber nada”. No entanto, quando me refiz, tive mais força. Inclusive para lutar para ser prefeita da cidade, ser prefeita para honrar o pequeno produtor rural, que era meu pai. Tudo que eu vivencio, eu penso muito nele.
Pausei o livro um período, deixei engavetado porque eu precisava elaborar minhas emoções. E, depois, falei: “Agora é a hora”. E em julho do ano passado, no meu aniversário, lancei o livro.
No livro, conto minha história. Morávamos na roça, sou da época de que era necessário ir ao rio buscar água para tomar banho. Da época da lamparina. Hoje, é tudo urbanizado, o que também é bom. Se você tem uma mãe ou um pai, que independente da condição financeira, diz que você é burro, que você não vai dar nada, isso vai impregnar e você pode ser um adulto limitado. Mas minha mãe, minhas tias, minhas avós sempre me admiravam como criança.
Eu tinha menos de três anos quando meu pai biológico faleceu. Mas a minha mãe disse que quando meu pai bebia, ele pedia pra eu ir até fazenda ao lado, o que dava cerca de três quilômetros. E eu ia buscar pinga para o meu pai, no meio do mato. Ele ficava me acompanhando com o olhar, mas eu era uma criança muito corajosa, criativa. Eu conto tudo no livro.