Neste último domingo, 14, a capital goianiense recebeu o artista e empresário Kleber Simões, mais conhecido como DJ KL JAY, um dos fundadores do mais importante grupo de Rap do Brasil, os Racionais MC’s. 

A discotecagem de KL JAY foi a atração principal das comemorações de aniversário do bar Shivas, de Goiânia, que completou nove anos. Durante a segunda semana de julho a casa recebeu outros artistas como Taxi Dermia & Pink Opala, Albuquerque, Seu Pereira & Brazilian Blues Band e discotecagem com DJ Eloah, Anarkotrans, Ju Gonzaga, Selvática (coletivo de arte), Criolina, Xêpa, Inà Avessa e Criolina. No domingo a festa foi na rua r-18, ao lado do bar. Haviam dois palcos um na rua e outro no interior do bar. 

KL JAY subiu no palco com sorriso tranquilo, fazendo sinal de paz e amor em respostas aos gritos do público daquela noite. Cumprimentou a DJ que estava tocando com abraço e simpatia. Tirou o casaco antes de montar as pick-ups. Manuseou cada equipamento atentamente com calma enquanto os assobios não paravam. “TE AMO!”, gritou alguém em euforia. 

Os hip-hop’s de todas as gerações foram tocados naquela noite. O set de Kleber é didático no que se refere a história do movimento cultural. Iniciou com os clássicos americanos “Hypnotized” de The Notorious B.I.G. e “Love” de J Dilla. Chegou em brasilidades e depois disso tudo ficou diferente. Deu boa noite pela segunda vez com“Baianá” originalmente dos Barbatuques, só que a versão do Tropkillaz.

Usou de back spins criando misturas jamais antes encaixadas daquela maneira. Em suas viradas, KL Jay faz o público enlouquecer com o inédito. Além de rap, tocou funk e fez todo mundo dançar apaixonado quando “Ela Só Pensa em Beijar” de MC leozinho encheu as caixas. E finalmente tocou “Jesus Chorou” do disco de estúdio Nada como um Dia após o Outro Dia (2002) como primeiro som dos Racionais MC’s da noite. Colocou o beat em loop, pegou o microfone e contou a história de realização dessa faixa. 

KL Jay compartilhando sobre o processo de criação da música “Jesus Chorou” do álbum ‘Nada Como um Dia Após o Outro Dia’, Racionais MC’s, no Shivas Alt Bar em Goiânia

Revezou as músicas da família de MC’s com maestria. Ia e voltava nas pick-ups como agilidade e experiência de anos. Iniciou “Eu Sou 157” com expressão de ator e interpretou a letra que canta o planejamento e execução de um assalto a banco. Essa é de arrepiar. Discotecou até suar e se despediu em alegria. A multidão nos pés das escada por ele desceu. Kleber nem tinha descido do palco e a fila na porta do camarim já era enorme. 

Nos interiores do alt Shivas bar, em entrevista com Jornal Opção, KL JAY responde sobre a carreira e projetos atuais.

Você e sua filha Hanifah estão promovendo o Projeto Audição nas redes sociais. Como tem sido realizar isso e como é a sua relação com a galera mais jovem?  

KL Jay – Foi ideia dela em mostrar as nossas influências musicais. Coisa que eu mostrei pra ela, coisas que ela mostrou pra mim. O projeto falando de música, né? Dessa influencia do pai aprender com a filha, da filha aprender com pai. Tá no começo ainda e vai ainda vai gerar mais bons frutos.

Você sente o feedback instantâneo das redes socias? Como é relação sua com as redes?

KL Jay – Olha, tento ter uma relação muito saudável com as redes. As redes sociais pra mim servem para informar as pessoas, protestar, pra divulgar o trabalho. Procuro não me envolver em fofoca e muitas coisas controversas. Procuro evitar esse tipo de coisa se não você fica doente, preso e viciado nisso. Não é bom. Existe uma geração que está sendo muito influenciada pelas redes e tá perde noção da realidade. Tem que tomar muito cuidado.

Você disse que nós temos que nos organizarmos e ser mais mal com quem é mal com a gente. Como que é isso?

KL Jay – O mal tá aí, né mano? A gente tem que lutar contra ele, ser bom só não basta. Tem que combater se não toma conta daí estraga tudo. Combater com inteligência, né? Com inteligência.

Antes me despedir em toque de mão e abraço KL Jay reforçou uma mensagem a vocês, leitores.

KL Jay – Viva a música! A música é o grande remédio da humanidade. Quer se curar? Ouve música, não precisa ir ao terapeuta não. (risos) Ouve música boa e você vai se curando.

Vida e trajetória

Kleber Geraldo Lelis Simões começou sua carreira em 1984, organizando festas em casas junto com seu parceiro do grupo Racionais MC’s, Edi Rock. Eles usavam tape deck, aparelhos de som três em um, fitas cassetes e alguns discos de vinil para animar as noites na zona norte de São Paulo.

Anos depois, ao ver um vídeo do famoso DJ Cash Money, Kl Jay se apaixonou pela arte dos toca-discos. No entanto, foi ao assistir aos scratches do DJ Easy Lee, do rapper Kool Moe Dee, em um show no Club House em Santo André, que ele se reconheceu: “Eu sou isso”.

Com Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock, fundou o Racionais MC’s no final dos anos 80. Com o rapper Xis, criou a gravadora que se tornou uma produtora de eventos e confecção, a 4P. Por essa gravadora, lançou seu álbum solo KL Jay na Batida – Vol III, em 2002, com a participação de vários artistas do hip-hop. Ao lado de Xis, Kl Jay produziu por 10 anos o mais importante campeonato de DJs do Brasil – o HIP HOP DJ –, revelando grandes talentos como Cia, King, Marco, Nuts, Tano, Hadji, Will, Ajamu, Erick Jay, RM, entre outros.

Kl Jay é sócio da gravadora Cosa Nostra com o Racionais MC’s e tem um selo próprio, o Equilíbrio, que lançou álbuns de grupos como Sistema Negro, Cagebê e Relatos da Invasão.

Foi apresentador do Yo! MTV, discotecou de 1994 a 1996 na famosa Soweto, uma casa noturna que marcou a cultura hip-hop em São Paulo, e tocou no Clube da Cidade de Diadema entre 1999 e 2002. Hoje, se apresenta todas as quintas-feiras com os DJs Ajamu, Marco e Will na festa Sintonia, um projeto que acontece há seis anos e viaja por todo o Brasil. Ele divide seu tempo entre shows com o Racionais MC’s, discotecagem em casas noturnas, oficinas de DJ e seu projeto solo, a Fita Mixada – Rotação 33, lançada em junho de 2008. É pai do DJ Kalfani, integrante do grupo Pollo.

Atualmente é proprietário do selo KL Jay Música, coletivo idealizado para o impulsionamento profissional de artistas independentes.