Aos 73 anos, Vilmar Rocha é um dos poucos exemplos ainda na ativa, em nível estadual e nacional, de personalidade política que reúne intelectualidade, ponderação, experiência e diplomacia. Há décadas na política, tendo cumprido dois mandatos de deputado estadual, cinco de deputado federal, Rocha também foi três vezes secretário de Estado – ganhou destaque como secretário da Casa Civil -, mas prefere ser reconhecido mais como professor. Ele lecionou na área do Direito em universidades como PUC e UFG (nessa segunda, o advogado deu aula por quase 40 anos), área essa na qual possui profundo conhecimento. Nesta entrevista, Rocha faz uma leitura, e até uma autocrítica, de seu partido, o PSD, o qual considera carente de um programa sólido para seguir. O professor avalia que a sigla, que hoje é comandada por Vanderlan Cardoso, candidato a prefeito de Goiânia, sairá menor das eleições municipais, e traça um prognóstico: no segundo turno na capital, o candidato de seu partido deve ficar de fora.

Euler França de Belém –  As pessoas falam que as ideologias estão fora de moda, esquerda e direita, e na prática a gente percebe que não estão. Em Goiânia, temos uma candidata de esquerda que tem chances eleitorais e três de direita ou centro-direita. Na sua opinião, houve uma recrudescência da questão ideológica no mundo?

Houve uma revitalização, uma “reideologização” do mundo todo. A gente percebe isso nos Estados Unidos, na França, na Polônia, no mundo todo. É um fato mundial, não é um fato nacional. Na eleição, por exemplo, do Ciro Gomes. O Ciro não era um cara qualquer. Ele foi prefeito, governador, ministro, deputado federal. Na eleição [presidencial] de 2018, ele teve 12% dos votos. Na eleição de 2022, ele teve 3%. A [Simone] Tebet teve 5%. Então, houve uma polarização, uma radicalização muito forte no debate político. Agora, numa eleição municipal isso se manifesta, mas com menos intensidade, sobretudo nas cidades pequenas e médias. Essa questão não tem muita influência.

Nas cidades, nas capitais, nas cidades maiores, tem porque ter um eleitorado mais politizado, com maior consciência política, isso ainda pega um pouco. Mas nas cidades médias e pequenas, isso não é considerado. E nas cidades médias e grandes, como é o caso de Goiânia, isso pega um pouco, mas também não é determinante. E nós temos um exemplo aqui, em Goiânia, do candidato do Bolsonaro que não está bem nas pesquisas.

Vilmar Rocha. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção


Italo Wolff – Essa tentativa do candidato do Bolsonaro, o Fred Rodrigues, de se colocar como legítimo candidato da direita, é promissora para ele? Ele consegue representar esse sentimento?

Não é determinante para a vitória dele. Porque está em quarto nas pesquisas, o candidato do Bolsonaro.

Ton Paulo – O senhor acha que a ideologia fica um pouco de fora?

Fica. É aquilo eu disse: [a ideologia] tem um conteúdo, mas não é determinante. Não é decisiva. As pessoas identificam ele como um ‘bolsonarista raiz’, um cara que tem essa marca. Mas isso, na minha versão, é insuficiente para ele ser eleito. Numa eleição municipal, o fator local, e há outros fatores que pesam, que compõem a decisão do eleitorado, que não é só a questão ideológica. Então, ajuda, tem um componente, mas não é determinante para a vitória dele.

Eu, por exemplo, não acredito que ele vá para o segundo turno.

Euler França de Belém – No segundo turno, você aposta em quem?

Olha, pelo que estão indicando as pesquisas, e pela lógica da política, porque a política tem uma lógica, devem ir a Adriana Accorsi e o Sandro Mabel. E as pesquisas estão revelando isso. Muita gente, às vezes, não entende assim.

A relação do PSD hoje com o governo federal é de conveniência, e não de convicção

Você faz um raciocínio lógico, racional, fundamentado de uma análise política. Mas às vezes um fato, que às vezes parece irrelevante, altera tudo. Pode mudar tudo. Nós estamos ainda a alguns dias da eleição, pode haver mudança. Mas pela lógica, e as pesquisas revelam isso, seriam os dois. Embora a gente observe que nessa eleição aqui em Goiânia não houve, não está havendo, um entusiasmo, uma paixão por nenhum candidato, uma motivação. Você anda na cidade toda e você vê pouca propaganda de candidato a prefeito. Por exemplo, quase não vê citru [adesivo que cobre o vidro traseiro do carro] de candidato a prefeito, apenas de vereador. Não há paixão, não há entusiasmo com relação à eleição.

Agora, tem uma faixa do eleitorado que ainda não decidiu. Nessas eleições, pode ter surpresas sim. Eu vou dar o exemplo da eleição de 2022 para o Senado. A 15 dias da eleição, 20 dias, 40% do eleitorado goiano não sabia em quem ia votar para senador. E na última hora houve uma avalanche para votar no Wilder Morais, que estava em terceiro lugar nas pesquisas, e ele foi eleito. Foi aquela avalanche de eleitores que estavam em dúvida, que canalizaram todos para o mesmo candidato.

Há um certo componente nessa eleição de Goiânia. O cenário é diferente, as candidaturas são diferentes, mas quando você está assim numa eleição em que não há uma forte convicção por um candidato, seja ele qual for, os indecisos podem, no final, canalizar todos para um nome.

Italo Wolff – Tem uma razão para esse desinteresse? A gente não vê um ponto focal das discussões.

Pois é. Nada do que está sendo proposto e conversado toca a sociedade, o povo. Chegou um assunto, só, que tocou, e eu não vou nem entrar no mérito se está certo ou errado, mas tocou. Foi aquela possibilidade do motociclista usar a linha de ônibus. Aqui tocou um segmento. Porque Goiânia tem moto demais. Dezenas, milhares de pessoas usam moto. Homens, mulheres, jovens, ou a trabalho, ou a lazer.

Essa possibilidade, do uso da faixa de ônibus, tocou em uma parte da sociedade, ou concordando ou discordando.

Ton Paulo – O candidato do PSD, Vanderlan Cardoso, mesmo antes de confirmar que realmente ia ser candidato, pontuava muito bem nas pesquisas. Com o passar do tempo, ele caiu um pouco. A quê se deveu isso? E por qual razão há essa impressão de que ele “não enraíza” na eleição em Goiânia?

Eu não encontrava eleitor convicto do Vanderlan. Era apenas uma lembrança do nome, de quem era ele, mas não tinha convicção. A confiança na política é muito importante. Em qualquer grupo humano, você confiar no cara, ter confiança, é vital. Essa questão da confiança é um fator determinante para um político ser longevo na política. E há uma diferença entre popularidade e credibilidade. A popularidade vai e vem. Ela depende das circunstâncias, do momento, dos concorrentes, etc. Então você pode ser muito popular hoje, e amanhã, não sei. A credibilidade, não. Quando você perde, é muito difícil de você recuperar. E eu acho que em política também, empresários de sucesso, esses empresários self-made men, eles fizeram por si mesmos. Eles acham que eles são capazes de fazer tudo, inclusive de ganhar eleição e tal. E não é assim na política.

Na política você tem que ter um grupo, é uma outra química, é uma outra energia, é uma outra coisa. Mas não estou analisando o caso concreto de o candidato A ou B, ou seja, eu estou falando isso em tese.

Ton Paulo – O senhor acha que a entrada do governador na campanha do Mabel pode ter influenciado?

Ajuda, ajuda. Determina a vitória? Não. Vou dar um exemplo: Anápolis. Ele é de lá. É governador, bem avaliado. E a candidata dele lá [Erizania Freitas] está com baixo desempenho. Em Aparecida de Goiânia, o candidato dele [Leandro Vilela] está abaixo nas pesquisas. Pode até crescer por outras razões. Governador em Goiânia, essa influência ainda é menor. Ajuda, mas não é determinante.

Não é dizer que o candidato de fulano vai ganhar a eleição. E não vai ser assim nessa eleição.

Ton Paulo – O senhor é uma figura proeminente no PSD e, até pouco tempo atrás, era presidente do partido em Goiás. Quais os rumos da legenda? Porque hoje ela está dividida.

Primeiro, depois dessa eleição municipal, antes da eleição de 2026, nós vamos ter uma reorganização político-partidária no Brasil. E isso vai atingir os partidos de maneira geral, inclusive o PSD. Essa reestruturação vai ter aqui, em Goiás, e vai ter no Nacional, no PSD, no PSDB e em muitos outros partidos. O quadro político partidário de 2026 será diferente do quadro partidário de agora. Há uma recomposição geral aí.

No PSD, há uma divisão. Vamos esperar passar a eleição municipal para ver como é que a gente se reestrutura nisso. Eu sou um dos fundadores do PSD Nacional. Na época que o partido foi criado, em 2011, eu era deputado federal e estava aqui na Secretaria da Casa Civil. Inclusive, hoje, eu sou da Executiva Nacional de Presidentes, e fui presidente aqui durante 10 anos. Sim, vai haver uma reestruturação.

Italo Wolff – Que tipo de reestruturação?

Vilmar Rocha. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Eu não digo uma refundação, não. Mas é o seguinte: o partido vai ter que, não só o PSD, como todos os partidos, após a eleição municipal, começar a pensar em 2026. Todos os partidos vão fazer isso. E na medida que eles pensam em 2026, haverá divisões. Uns pensam de uma maneira, outros pensam de outra. Tem que ver qual é o grupo que vai prevalecer para comandar o partido tendo em vista 2026. A definição de 2026.

Ton Paulo – Tem possibilidade de fusão do partido?

Não. Em nível nacional, o partido, até agora, não pensa em fusão nem em incorporação. Pensa em poder fazer alianças, mas não fusão e incorporação. O PSD, como outros partidos também, imagino, precisa dessa mudança de rumos, ou melhor, definição de rumos, pensando em 2026. Porque junto ao governo federal, o PSD se alinha um pouco mais à esquerda, e em Goiás se alinha um pouco mais à direita. E não é só em Goiás, no Brasil todo ele está dividido.

E eu acredito que um dos grandes problemas do PSD, e eu sou crítico com relação a isso, é que um partido político tem que ter minimamente uma linha programática. Dizer ‘Olha, nós defendemos isso, por isso, por isso’. Os partidos hoje no Brasil, inclusive o PSD, são muito pragmáticos, eles se adaptam à conveniência eleitoral do momento, sem o mínimo de coerência programática. Eu nem digo ideológica, seria ser muito sofisticado, mas o mínimo de programação, de uma visão programática.



Uma das razões que o MDB permanece forte até hoje é porque durante um longo período ele se identificou com a sociedade brasileira pela luta pela redemocratização e virou partido orgânico. Até hoje ele é forte, já passou por vários momentos e é forte porque ele tem raízes na sociedade. É coisa que está faltando ao PSD e aos outros partidos.

Italo Wolff – E o senhor, particularmente, qual é a sua visão sobre o PSD? Para que rumo o senhor gostaria que o partido fosse?

Primeiro, ele teve uma fase que foi de crescimento, de formação, era um partido muito novo. Só foi registrado em setembro de 2011, portanto ele tem 13 anos. É muito pouco tempo, e ele cresceu, hoje é um partido grande em nível nacional. Mas o que está faltando é essa espinha dorsal, essa coesão em torno de um programa, de uma linha programática.

Isso falta ao partido e isso dificulta e vai dificultar a consolidação de qualquer outro partido que queira ter uma relevância na agenda política no país. Ele tem que ter minimamente um eixo programático. E isso o PSD não tem até agora, e precisa ter. Não só o PSD, como os outros partidos hoje, principalmente os de centro. Eles não estão linkados com a pauta da sociedade, eles se resumem em ser uma máquina eleitoral.

O PSD saíra menor das eleições municipais, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Aqui em Goiânia também

Ton Paulo – O PSD tem um candidato à presidência da Câmara, que é o Antônio Brito, do PSD. O senhor espera contar com o apoio dos parlamentares goianos para a eleição dele?

Nós só temos um deputado do PSD [por Goiás], eu acho que ele vai votar. Mas eu não sei se o candidato do PSD, o Antônio Brito, vai até o fim, não. Ele pode fazer uma composição. Eu não acho que vai ser fácil ele viabilizar a candidatura dele.

Ton Paulo – E em nível nacional, como é que está a relação do partido com o governo Lula?

Muita gente não presta atenção, mas é muito importante e vai ser muito importante em nível nacional: a eleição da mesa da Câmara e do Senado em fevereiro. Porque o presidente da Câmara e do Senado têm um poder muito forte no controle da pauta legislativa, porque ele pode pautar algo ou não pautar. Então, a gente tem que prestar muita atenção na eleição do presidente da Câmara e do Senado.

Passando a eleição municipal, as atenções da política e dos partidos do Brasil vão se concentrar nisso, na eleição do presidente da nova mesa da Câmara e da nova mesa e do Senado, porque ela terá um impacto dependendo do resultado.

Quanto à relação com o presidente Lula e com o PT, é uma relação de conveniência. Não há maiores afinidades, compromissos. É uma relação artificial, não é orgânica. Vou dar um exemplo: eu era deputado federal e dirigente do PFL no governo Fernando Henrique. Nós fizemos uma aliança com o PSDB pra valer, orgânica, em cima de um programa, e fomos fiéis a essa aliança. Nós acreditávamos na aliança PSDB-PFL, e isso aconteceu. Nós sustentamos as reformas que melhoraram o Brasil. A relação hoje entre o PSD e o governo federal é de baixíssima convicção. É uma relação de conveniência momentânea. Conveniência e não convicção. Não há convicção.

Eu acredito que os partidos hoje estão distantes da pauta da sociedade. Eles precisam ter o mínimo de um eixo programático, senão ele, no média ou no longo prazo, não sobrevive. O partido que vive apenas das conveniências eleitorais do momento é fadado a um determinado momento a desaparecer.

Italo Wolff – Como o partido pode se aproximar um pouco mais da sociedade?

Há um distanciamento da sociedade do Estado. A sociedade está com o saco cheio de governo, de partidos, de tudo. Hoje, o governo federal, o governo Lula não toca mais a sociedade. Ele se alimenta da máquina do partido. Por exemplo, ele só vai em lugares, só se civiliza, como foi o caso aqui em Goiânia, protegido pelo esquema, o auditório controlado. Ninguém do povo, nenhum segmento popular esteve lá [evento de Goiânia]. Só teve a máquina petista, militantes do PT, da esquerda, e da universidade. Ele não sensibiliza o conjunto da sociedade, e ele está distante.

E outra coisa, o Bolsonaro também esteve aqui recentemente. Engraçado, o que é que ele deixou em termos de formulação para o Brasil, para a região? Qual foi o conteúdo do discurso dele? Foi ataque ao STF, nada relevante para o futuro do Brasil, alguma ideia, algum projeto.

Ton Paulo – O senhor acha que é por isso que tem havido uma redução do bolsonarismo e uma adesão a um movimento mais radical, antissistema, como o liderado por Pablo Marçal?

Tudo o que for antissistema tocará uma grande parte da sociedade, porque a sociedade está com o saco cheio do sistema, do Congresso, do Supremo, do Executivo, está com o saco cheio, porque não vê projetos, ideias, propostas que venham atender de forma consistente. Então, ela está indiferente ao sistema. Quando aparece alguém que grita ou ataca o sistema, chama a atenção da sociedade. E às vezes, não é por adesão, é por uma espécie de desespero.

Houve um empobrecimento muito grande da política, que a gente chama de política tradicional. Houve um empobrecimento na representação política da sociedade. Como as pessoas não têm alternativa, elas vão buscar o que grita mais alto, os radicais que gritam mais alto. Para a estabilidade da democracia, no futuro, para que ela seja sustentável, nós temos que recuperar a verdadeira política, melhorar a representação.

Tudo o que for antissistema tocará uma grande parte da sociedade, porque a sociedade está com o saco cheio do sistema, do Congresso, do Supremo, do Executivo

E hoje nós temos um fato novo no Brasil, que é a ação do Supremo Tribunal Federal, do STF. A ação do Supremo, hoje, é a causa da insegurança jurídica e até da instabilidade política. E claramente o Supremo Tribunal Federal, através de alguns dos seus ministros, tem cometido abusos, inconstitucionalidades, ilegalidades e um ativismo político inconstitucional. O Alexandre de Moraes é um deles. A Constituição estabelece um papel claro para o Supremo.

Eu vou dar um exemplo em relação às queimadas. O ministro Flávio Dino, que tomou uma decisão determinando que o Executivo tomasse providências, deu prazo, estabeleceu um calendário com relação [ao combate] às queimadas Isso é papel do ministro do Supremo? O ministro do Supremo tem que julgar se algo é constitucional ou não. Agora, ele determinou ao Poder Executivo o que fazer, como ele devia fazer, e ainda cobrando que ele devia prestar contas a ele. Isso é claramente insustentável do ponto de vista constitucional.

Outra coisa: o 8 de janeiro foi tentativa de golpe de Estado? Claro que não. Isso é uma falácia e que uma grande parte da sociedade absorveu. Não acredito, não houve tentativa de golpe de Estado. O que houve foi uma manifestação que virou bagunça. Golpe de Estado? Quem era o comandante? Se desse o golpe de Estado, quem iria assumir? Inclusive, o próprio ex-presidente Bolsonaro estava fora, no exterior. Quem eram os setores políticos, militares, da sociedade em movimento? É uma falácia que foi golpe do Estado. É claro, aqueles que depredaram coisas públicas têm que responder por isso.

Se você fizer hoje uma pesquisa de aprovação do Supremo Tribunal Federal, a não-aprovação é maior do que a aprovação. Você vê que atingiu as pessoas de uma maneira geral, virou tema, e isso precisa ser recolocado no seu devido lugar. E nós temos um outro fator: a OAB nacional, que sempre teve um papel relevante de defesa desses valores da democracia, do Estado de Direito, do devido processo legal, do amplo direito de defesa.

A OAB nacional está completamente omissa, mais do que omissa, conivente com o Supremo Tribunal Federal.

Ton Paulo – Voltando para o cenário local, como o senhor avalia a condução do PSD de Vanderlan Cardoso, em Goiás?

A avaliação tem que ser feita após a eleição municipal. Vamos ver como é que vai sair o PSD da eleição municipal. Nós temos que esperar a eleição, o resultado, para fazer essa avaliação.

Ton Paulo – E o que o senhor espera nessas eleições? O PSD em Goiás deve sair maior ou menor?

Menor, vai sair menor. Tanto no Executivo quanto no Legislativo. Aqui em Goiânia também.

Italo Wolff – Como o senhor avalia os rumos que o PSD tem tomado junto com o governo estadual?

Nós fizemos uma aliança, primeiro o seguinte, em 2018 nós não fizemos aliança, o PSD com o atual governador. Ficamos quatro anos do primeiro mandato completamente fora do governo.

Terminada a eleição, nós continuamos próximos, tem até o Francisco Júnior, que exerce uma função no governo, que é um dos líderes do PSD, mas não temos um compromisso para 2026. O ano de 2026 será uma outra avaliação e outras definições. Nós não temos esse compromisso. 2026 são novas formulações.

Italo Wolff – Como o senhor avalia o surgimento de novas lideranças, novos políticos?

A eleição municipal sempre é oportunidade, começam a aparecer novos políticos. Eu estou andando o Estado todo, já andei dezenas de cidades nessa eleição municipal, apoiando, inclusive, candidatos a prefeito, a vereador de diferentes partidos. E eu noto que está havendo uma floração de novos políticos, e eu tenho procurado apoiar esses novos políticos.

Eu vou dar um exemplo. Em Terezópolis de Goiás tem um cara jovem, foi vereador, que está enfrentando a máquina. Em Pirenópolis tem uma candidata chamada Ynaê, jovem, vinte e tantos anos, que está enfrentando a máquina. Eu noto isso em algumas cidades do Estado e também candidaturas para vereador. Mesmo aqui em Goiânia, apareceram nomes novos. O Matheus Ribeiro é um nome novo, Fred é nome novo. Isso vai acontecer naturalmente, e a gente tem que apoiar isso.

Eu tenho uma vida acadêmica longa. Fui professor da PUC, que antigamente se chamava UCG, Universidade Católica de Goiás, e depois professor da Federal durante 37 anos. Recentemente, criei o Instituto de Estudos Políticos e o objetivo desse instituto é identificar, apoiar, estimular lideranças novas. Não é nova só na idade, é nova na prática política. Inclusive, tenho um projeto. Ano que vem, em março, eu vou fazer um evento, mas não é esse evento que você vai lá e faz só discurso: vou fazer um curso de formação política para todos os vereadores de primeiro mandato. Vou pegar todos os vereadores de primeiro mandato, pode ter 18 anos, 80 anos, que for o primeiro mandato.

Porque os de primeiro mandato é um terreno fértil para você colocar uma nova prática política neles. E também para novos prefeitos. É um propósito meu, enquanto professor, enquanto político, de formar, estimular e formar novas lideranças.

Eu criei lá atrás um instituto chamado Instituto Ágora. Ágora, como você sabe, era aquele local da Grécia Clássica, que as pessoas reuniam na praça para decidir. Achei o nome bacana, mas depois eu vi que tinha muita coisa lá, negócio de investimento, não sei o quê. Esse nome estava muito banalizado. Aí eu mudei e coloquei o meu nome, no sentido de assumir responsabilidade. Quando eu chego em qualquer lugar, o cara fala “O Instituto Vilmar Rocha é o Vilmar Rocha. Se tiver qualquer problema, eu vou no Vilmar Rocha. Ele é o responsável”.

Vai ser um negócio de formação política, sobretudo para essas lideranças jovens que estão surgindo, que elas têm que ter algumas referências. Porque na política, você tem que fazer concessões, mas você tem que ter limites nessas concessões. E nesse sentido, eu acho que a minha trajetória é exemplar. Fui duas vezes deputado estadual, cinco vezes deputado federal, três vezes secretário de Estado, candidato a senador, na eleição majoritária, fundei e presidi dois grandes partidos aqui no Estado, mas eu não perdi o norte, não. Concessões você tem que fazer. Erros, eventualmente, se comete, mas nunca perdi o norte.

Por exemplo, eu nunca respondi processo nesses anos todos. Processo de natureza criminal, penal. Acho que isso é um ativo político que eu tenho, que serve como referência e que me dá autoridade e legitimidade para fazer um tipo de trabalho de formação política.

Italo Wolff – O senhor diria que essa é a sua principal atividade no momento?

Eu estou sem mandato desde 2015, estou fora de qualquer tipo de governo desde 2017. Na verdade, eu, naquela época, me opus à candidatura do Zé Eliton, pela nossa base, eu achava que não era o nome e tal. Aí eu saí um ano antes, saí do governo em dezembro de 2017. Em 2018 e 2019 eu já não estava mais no governo. Porque naquela época tinha uma regra, que eu até acho legal, que quem seria candidato, ao invés de sair em abril, saía em dezembro. E eu segui essas regras.

Vilmar Rocha. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Em 2014, eu era um poderoso secretário-chefe da Casa Civil, deputado federal. Em dezembro de 2013, eu deixei a secretaria. Da vez seguinte, eu era o secretário da Secima, deixei em dezembro de 2017. Então, em 2018, eu já estava fora. Estou sem mandato, sem cargo em governo desde essa época, agora deixei a direção do partido. Mas eu continuo ativo na política. Falando, escrevendo, articulando, participando. Eu já visitei dezenas de cidades na eleição municipal.

E engraçado, as pessoas gostam, me convidam, querem que eu vá. Embora eu não esteja [com mandato], estou na política, estou no jogo, estou ajudando, estou participando. E pra 2026, eu vou participar. Articulando, influenciando, conspirando, escrevendo, falando. Vou participar da campanha de 2026, sendo candidato ou não.

Italo Wolff – E qual que é o segredo para manter esse capital político?

Credibilidade. É o seguinte, credibilidade. É o que eu aqui, sobre popularidade e credibilidade. Muita gente pensa “O cara não tem nada nas mãos pra oferecer e tá aí”. Eu dou entrevista a semana toda para rádios do interior. Algumas, até, eu tinha até programas fixos. Em função da eleição, eu tenho viajado mais,

Eu tenho disposição de gastar meu tempo e energia na atividade política, que tem muita gente que não tem. E não tem tempo. Muita gente não tem, porque está cuidando dos seus interesses particulares, o que é respeitável. Política demanda isso mesmo, é tempo e tempo. Paciência, tolerância.

Eu leio bastante, escrevo nos jornais. Eu não sou empresário, não sou fazendeiro. Tenho meu escritório de advocacia há muitos anos, no mesmo local. Tenho hoje dez, doze causas só que eu acompanho. Causas importantes, mas dez, doze. Eu tenho dois escritórios de advocacia em que somos parceiros. O que é que eu faço lá? Eu tenho uma ação, faço um diagnóstico, uma análise da ação junto com os advogados no escritório. Terminado isso, a gente estabelece uma estratégia. Terceiro, eu visito juízes, tribunais, para conversar. Mas eu não redijo petição, eu não vou fazer sustentação oral.

Então isso me dá tempo. Continuo muito ativo na minha atividade acadêmica, dando aula, palestras.

Italo Wolff – O senhor participou do processo da Constituinte em 88, não foi?

Não, não. Eu participei indiretamente, porque eu era deputado estadual em 88, e eu já era professor de Direito Constitucional. E o PFL, que na época era o meu partido, tinha uma bancada muito grande Constituinte, e nós tínhamos dois deputados do PFL de Goiás, o Pedro Canedo e o Jales, que não era da área de direito. O Pedro era médico e o Jales era engenheiro.

Eu ia demais em Brasília e acompanhava tudo da Constituinte. Porque eu era professor de Direito Constitucional, porque eu tinha essa oportunidade, porque eu era deputado estadual. Eu fui constituinte estadual. Agora, eu participei, foi da Revisão Constitucional em 93. Essa eu participei, porque eu já era deputado federal. Inclusive, eu apresentei uma proposta, que foi uma das poucas que foram votadas em plenário, que foi a proposta do voto facultativo, mas nós perdemos porque não foi aprovado.

Na revisão constitucional, eu estava lá já. Mas na Constituinte, não. Eu acompanhei indiretamente.