Ex-prefeito de Senador Canedo, três vezes deputado estadual e três vezes vereador em Goiânia, Misael Oliveira mostra que, mesmo sem mandato, segue ativo e firme no meio político. O político chegou a lançar sua pré-candidato a prefeito de Senador Canedo para o pleito deste ano, mas recuou para declarar apoio para o atual gestor, Fernando Pellozo. Nesta entrevista, Misael Oliveira não esconde os dissabores políticos com o hoje senador e candidato a prefeito de Goiânia, Vanderlan Cardoso, a quem se refere como desleal e “egoísta político”. O ex-prefeito também detalha o espólio deixado em Senador Canedo, com obras a realizações que, segundo ele, só foram possíveis após um esforço conjunto.

Euler de França Belém – Você foi prefeito de Senador Canedo, e você era candidato agora, mas decidiu retirar sua candidatura para o prefeito Fernando Pellozo. Qual foi o motivo?

Eu terminei meu mandato em 2016. Naquela época, nós perdemos a eleição porque o nosso grupo político dividiu, que era o grupo político do Vanderlan. Eu já havia rompido com o Vanderlan politicamente, mas a verdade é que o histórico, a origem dos votos era praticamente a mesma. Perdemos as eleições, para o Divino Lemes. Foi um desastre a administração dele, daquele período de 2017 até 2020, tanto é verdade que ele perdeu a eleição [posterior] de forma acachapante.

Bom, quando eu assumi a Prefeitura de Senador Canedo, nós tínhamos um grupo, aliados, políticos. Tinha o Vanderlan, que foi quem me convidou para ser candidato, isso é verdade, isso é fato, para ser candidato a prefeito do grupo. Tinha o Sandro Mabel, que era deputado federal, estava terminando o mandato, e tinha o doutor Túlio, ex-prefeito, que foi vice de Vanderlan. Tinha o Dr. Alsueres, que foi meu vice. Nós tínhamos lá o Pellozo, que hoje é prefeito, e era candidato a vereador.

Nós tínhamos um grupo muito grande. O Vanderlan detinha a hegemonia política do município. Em 2006, eu fui candidato, ele me ajudou, foi quando eu me aproximei de Sandro Mabel, que foi quem buscou o Vanderlan lá atrás, lá em 2004, para política. E aí, em 2006, o Vanderlan falou “Meu [deputado] federal aqui é o Sandro, meu estadual é você”, e aí fomos trabalhar. O Sandro trabalhou muito pelo município, eu trabalhando como deputado, ajudando a resolver os problemas, levando máquinas, equipamentos, emendas e trabalhando mesmo, dentro do contexto de um grupo político forte.

Em 2010, o Sandro resolve lançar o Vanderlan. O Vanderlan tinha uma vontade de ser candidato a governador e o Sandro era o presidente do PR em Goiás. O Sandro resolveu lançar. E aí nós fomos para a disputa, o Sandro conseguiu o apoio do ex-governador Alcides Rodrigues, de forma que eu era o deputado estadual, o Sandro o deputado federal. E nós trabalhamos muito. O Dr. Tulio, que era o vice do Vanderlan, que tinha assumido em 2010, estava com quase 80% de aprovação, e o Vanderlan entendeu que, ele mesmo tomou essa decisão, de não apoiar o Dr. Tulio.

O Dr. Tulio ficou muito chateado com esse processo. Eu entendia que o doutor Tulio era o sucessor natural e legítimo. Um homem de uma decência, um homem de um espírito público elevado, um homem sério, decente, correto, honesto. Eu tenho uma verdadeira admiração pelo Dr. Túlio, sabe? Foi ele que conduziu a Prefeitura de Senador Canedo com muita parcimônia, com muita seriedade. Mas aí o Vanderlan me falou “O candidato tem que ser você”. Bom, aí nós fomos.

O projeto era Governo do Estado. 2014, nós honramos o compromisso. E aí eu vi que logo depois da eleição ele [Vanderlan] começou a se afastar. Eu chamei ele e falei “Olha, você poderia ver quem é que você quer que seja candidato”. Eu sou de grupo político, eu não brigo por questões, eu não tenho paixão por ser prefeito, eu tenho paixão por estar dentro de um contexto, de um grupo político. Aí eu senti que ele lançou o Zélio [Cândido], o Alsueres, que era meu vice, saiu candidato também a prefeito, e perdemos a eleição.

Naquele período nós trabalhamos muito, eu fiz 1.132 casas em quatro anos, sem deputado federal, sem deputado estadual, sem senador me ajudando. Fiz o projeto que mudou a realidade de Senador Canedo, que foi a lei que criou os condomínios fechados, e conseguimos atrair o maior número de condomínios fechados da região, no estado. É Senador Canedo.

Euler de França Belém – Quais condomínios, por exemplo?

Lá tem o Jardins, tem a Opus, tem a Adão Imóveis, Alphaville, tem os loteamentos residenciais. Então mudou, por quê? Para você ter uma ideia, nós arrecadávamos em 2015, 6 milhões e 900 mil de IPTU e ITU. Não dava pra pagar o serviço de limpeza urbana, que custava, anualmente, mais de 9 milhões. Hoje, a receita do Senador Canedo, no ano de 2023, só de IPTU e ITU, chegou a 100 milhões de reais. Por conta dos condomínios. Chegamos a ser o quarto município do estado em receita de ICMS.

Como prefeito, nós fomos desenvolver os projetos. Alguns projetos que o Vanderlan tinha deixado, mas outros projetos que nós fomos pegando. A questão do esgoto, nós iniciamos, o Dr. Túlio iniciou a construção da estação de tratamento de esgoto. Eu dei prosseguimento e entreguei para o meu sucessor já pronta.

Fiz as redes de esgoto do Morada do Morro, 100%, fiz rede de esgoto do Jardim Canedo 1 e 2, fiz rede de esgoto seco, que é um esgoto que está lá, rede instalada ali no Irapuru. Fiz parte da Vila Galvão. Fizemos ali no Morada do Bosque, fiz creches, fiz 5 PSFs [Programa Saúde da Família], reformamos os PSFs, ampliamos a maternidade e trabalhamos muito.

Mas enfim, vias estruturantes, levei o IFG para Senador Canedo, o Instituto Federal. Doei uma área de 100 mil metros pra eles logo no começo do meu mandato, em 2013. Eles já construíram a sede, estão ampliando. Então, nessas áreas nós trabalhamos muito, na área da educação, na área da saúde. Sempre eu estava lá nas madrugadas, nos PSFs, e sempre de olho no almoxarifado, para não deixar faltar remédio, questão de médico. Nós trabalhamos muito.

Euler de França Belém – E sobre o rompimento com o Vanderlan?

Quando houve o rompimento, eu falei “Cada um tem que seguir seu caminho, né?”. Eu pensei que o problema era só comigo. Nós ficamos afastados um bom período, o Vanderlan veio ser candidato em 2016 aqui contra o Iris, perdeu a eleição. Em 2018, ele já tinha perdido 2010, já tinha perdido 2014, perdeu 2016: ele vestiu o pijama e foi pra casa. Fazendo as pesquisas de 2018 e 2016, ele foi candidato a prefeito com o apoio do Marconi Perillo.

Em 2018, o [Alexandre] Baldy foi lá atrás dele, dizendo que ele tinha que ser candidato pelo PP. E ele topou. Tanto é que a esposa dele [Izaura Cardoso] ficou contrariada, não queria que ele fosse candidato. Nem ela votou nele naquela eleição. Ela justificou o voto porque brigou com ele de tal forma, segundo todas as informações, que no dia da eleição ela não votou, justificou o voto. Aí depois que ganhou, voltaram às boas, naturalmente.

Mas aí o que aconteceu em 2018? O Baldy leva o Vanderlan para o PP e vai atrás do MDB. O Iris ficou contrariado com o Vanderlan, porque o Vanderlan foi adversário dele em 2016, mas resolveu ficar calado na dele. E o MDB com o Maguito Vilela, com o Daniel Vilela, com o Gustavo Mendanha, todo o MDB no estado de Goiás entrou de corpo, alma e espírito na campanha dele. Tanto é que indicou o Pedro Chaves de suplente, e juntou o MDB, o PP, a estrutura do Baldy e tal.

Entrevista Misael Oliveira. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção


E ele sai candidato justamente contra o Marconi, que havia lhe apoiado para prefeito em Goiânia. Quer dizer, já no meio do caminho já largou o Marconi para lá e já foi tomar a cadeira do Marconi. E aí ganhou as eleições, virou senador. 2019 passou, 2020 ele manda me procurar, o Abelardo [Vaz] me procurar. Falou “Olha, o Vanderlan não tem raiva de você”, e eu falei “Eu também não tenho raiva dele, não”. E eu já pré-candidato e bem nas pesquisas, empatado Divino Lemes, Fernando Pellozo, que tinha sido candidato a deputado em 2018, eu não fui candidato a nada em 2018, e o Fernando bem votado, e estava figurando bem nas pesquisas. O Vanderlan me procurou e falou “Olha, Misael, eu tive Covid e quase morri, e eu refleti demais na vida. Então eu estou te convidando pra gente criar um novo grupo político, eu nunca criei grupo político, eu tenho que criar um grupo político, porque sem grupo a gente não cresce”, e olhou dentro dos meus olhos e eu acreditei nele. Eu olhei, eu acreditei, naquele momento eu falei “Poxa, ele está falando a verdade”. Falei “Eu vou pro projeto junto com vocês”. Ele disse que eu seria o candidato a deputado, “porque você é bom de parlamento, você briga pelo município” e tal.

E assim fizemos, fomos pra campanha. Ganhamos as eleições. Minha esposa no primeiro momento tinha sido indicada à vice, ela foi até certo momento, como o Jorge Moraes tinha juntado mais um Júlio Pina e me tomou o PDT, eu fiquei sem condições de ser candidato. Veio a composição de governo, me deixaram fora, tudo porque foi o Vanderlan que compôs todo o primeiro governo do Fernando Pellozo, assim como foi comigo. Quando chega 2022, foram caminhando as coisas, eu falei para o Fernando “Deixa eu te falar um negócio. Tudo que aconteceu comigo, eu estou vendo acontecer com você. Eu acho que a melhor coisa que nós temos que fazer é procurar o governador, você sai desse partido do Vanderlan, filia no partido do governador e nós vamos ajudar o governador na reeleição dele, porque senão você não vai ser candidato na sua reeleição. O Vanderlan não vai deixar você candidato”.

E aí o Fernando Pellozo, através de outros companheiros também que o orientaram dessa forma, fez. Fomos atrás do governador, ele foi atrás, eu fui atrás, no dia declaramos o apoio juntos. Aquilo ali para o Vanderlan foi a morte. Porque, na verdade, O Vanderlan chegou em 2020 também, ele que tinha sido eleito pelo MDB, e o MDB que tinha apoiado o Vanderlan para o Senado, lançou o Maguito. E ele achou por bem disputar a eleição da prefeitura contra o Maguito, justamente contra o pessoal que havia lhe ajudado a conseguir o mandato de senador, porque o Daniel tinha sido adversário do governador. E o Iris observando tudo aquilo. O Iris, um político muito experiente, ele ficou muito preocupado. Chamou o governador e falou “Nós precisamos fazer uma composição, acabar com essas rusgas suas com o Daniel, que foi seu aniversário, e nós fazer uma composição aqui para o governo do Estado, e indicar o Daniel para sua vice”. E o Caiado topou.

Quando Caiado topa, o Vanderlan reagiu, falou “Não, sem me ouvir, sem ouvir o partido? O PSD tinha a intenção de indicar o vice”, que era a mulher dele justamente. Ele queria indicá-la vice do Ronaldo Caiado. E o Iris percebeu, um ano de antecedência a velhacaria dele. O Iris falou “Caiado, nós temos que nos unir, porque aí você não vai ter problema com ninguém brigando pela vice”. Caiado topou, foi muito criticado porque indicou o Daniel de vice, e o Vanderlan já arrumou motivo para romper. Qual foi a vingança dele contra o Caiado? Como ele era senador da base do Bolsonaro, e ele era muito influente com o Bolsonaro, e a mulher dele muito amiga do Michelle Bolsonaro, ele foi ao presidente, levando uma pesquisa para o presidente lançar um candidato a governador do Estado.

Tinha tido aquelas rusgas na pandemia, do presidente com o Caiado. E o Vanderlan queria que o que o presidente bancasse um candidato. Aí foi quando o Gustavo Mendanha, que não acompanhou o Daniel no primeiro momento, e quis ser candidato a governador do Estado, sai do MDB e vai atrás do Vanderlan para ajudar o Mendanha a filiar no partido do presidente, para ele ser o candidato a governador do presidente em Goiás, e o Vanderlan virou as costas pra ele. E o Gustavo trabalhou naquela campanha de senador do Vanderlan como um gigante naquela Aparecida de Goiânia.

Ele já tinha virado as costas para o Daniel Vilela e para o Maguito Vilela, em 2020. Tinha virado as costas para o Marconi, que tinha apoiado ele em 2016. Foi para o lado do MDB. Depois, em 2020, ele vira as costas para o MDB, vai para o lado do Caiado. Depois, ele vira as costas para o Caiado e lança o Vitor Hugo, candidato a senador. E tem outro ingrediente. Tinha o senador Luiz do Carmo, que tinha assumido a condição de Senado no lugar do Caiado, que tinha ganhado o governo em 2018. E o Luiz Carlos do Carmo é irmão do pastor Oides, que é o presidente do campo da Assembleia de Deus, do campo de Campinas, do Estado de Goiás. Igreja da qual o Vanderlan é membro. O que que aconteceu? O Vanderlan deu uma paulada, ele deu uma cacetada, deu uma traída no governador e no pastor Oides.

O Luiz do Carmo ainda ficou em cima dele e falou “Vanderlan, fala para o presidente me apoiar aqui, para eu ser o candidato a senador do presidente”. Não, o que que ele fez? Foi lá, optou pelo Wilder Moraes e colocou a mulher dele, que ele queria colocar de vice do Caiado, indicou ela para suplente do Wilder e lançou o Vitor Hugo para tentar forçar, e vendia para o presidente a ideia de que Goiás ia ter segundo turno, e quase teve mesmo. Mas não teve, foi por pouquinho.

O Vanderlan foi colecionando adversários políticos. Ele trabalhou num sentido totalmente inverso da política. Todo político trabalha para agregar. Ele trabalhou no sentido de ir largando para trás os velhos companheiros e tentando formar e trazendo outros companheiros, foi largando todo mundo para trás.

Ton Paulo – O senhor não acha que é por isso que ele está isolado politicamente hoje?

Não, ele se isolou do processo político. Eu vi uma entrevista dele no ano passado ou foi esse ano. “Estão tentando me isolar”. Ele que se isolou por conta dos procedimentos dele. Da falta da lealdade, da falta do companheirismo. Da falta do altruísmo político, da abnegação, e tudo isso ele foi largando. Porque é o seguinte, como diz aquele ditado popular, o punhal do Vanderlan não enferruja, porque ele tira das costas de um companheiro e coloca nas costas de outro. Como ele fez agora com o Fernando Pellozo, como ele fez com o Maguito, como ele fez com o Daniel, como fez com o Iris, como ele fez com o Marconi, como fez com o Caiado.

Não tem um na história, ainda, de Goiás, de grupo que ele passou e não deu uma apunhalada nas costas dos companheiros políticos, como ele fez comigo. Então, é um caboclo que, do ponto de vista empresarial, é um excelente empresário e tudo, mas do ponto de vista político, fazer o que ele fez com o Bolsonaro, que deu tanto prestígio pra ele em Goiás, ele foi o segundo senador do Brasil a ter mais emendas parlamentares, perdia só para o Alcolumbre. Quando o Bolsonaro perde a eleição, que precisa de um voto dele, pro candidato a senador dele, Vanderlan deu outra apunhalada no Bolsonaro.

Aí, Izaura Cardoso, que era amicíssima de Michelle Bolsonaro, logicamente que também a Michelle sentiu apunhalada, do marido, os dois se afastaram do Vanderlan. Então, hoje, o que ele está fazendo aí: trocou a lealdade de quem o havia ajudado, que era o Bolsonaro, por um cargo na Codevasf, pela agência de mineração aqui em Goiás, pelos interesses políticos, e deixou de votar no candidato do Bolsonaro, em troca de, a pretexto de ser presidente de uma comissão [no Senado], que realmente é uma comissão importante, mas acho que dispensava esse tipo de acordo, sabe?

O que marca os políticos ao longo dos anos é a lealdade, o companheirismo. Então, as coisas foram acontecendo e ele foi se isolando do processo político. E hoje ele está aí, é tido como um político que não é confiável, ninguém confia nele politicamente. A palavra dele faz curva. De dia, de manhã, ela é uma coisa, de noite ela é outra, no outro mês ela já é de outra forma.

Então, eu digo o seguinte, que nós somos refém das nossas ações. Pastor Aluísio sempre diz pra gente “Não reclame daquilo que você permite”. E tudo que está acontecendo com ele, politicamente, é porque ele permitiu. Ele que construiu. A gente constrói, na vida, uma história. E as pessoas analisam…

Euler de França Belém – Mas agora ele já parou de falar que o estão isolando, ele está dizendo que vai ser melhor porque se ele for eleito prefeito, não tem compromisso com ninguém. O que acha disso?

Mas ele é isso! Ele é individualista, é egoísta político, e política se faz com grupo. Quem é o grupo do Vanderlan em Goiás hoje? Tem o Abelardo, superintendente da Codevasf, e quem mais? Tem o Cairo Salim, que é do PSD. Vanderlan não tem grupo político, ele não tem amigos políticos, a vida dele é restrita aí. Os amigos do Vanderlan, os companheiros políticos do Vanderlan não enchem um fusca, porque sobra espaço.

Euler de França Belém – Mas ficou a mística que o Vanderlan foi o melhor prefeito Senador Canedo. Isso é fato ou mito?

Porque ele tinha dois deputados, um estadual e um federal, que brigavam. Isso é mais mito. Senador Canedo arrecadou no ano de 2004, que foi o último ano do governo, em torno de 23, 24 milhões por ano, de toda receita. Cinco anos depois, com a mudança da forma de cálculo do ICMS, Senador Canedo cresceu. Deu um boom na receita, que chegou a passar de 208 milhões por ano, cresceu mais de 1.000%. Nunca teve isso na história de Goiás no crescimento de receita do município.

Ele teve dinheiro demais. E tinha o Sandro Mabel, deputado federal, ajudando ele com as emendas. O Sandro arrumou dinheiro pra fazer as casas do residencial Dona Lindu. O Sandro arrumou recurso pra fazer o bairro São Francisco, ele impediu os leilões que a Caixa Econômica fez do Conjunto Sabiá do Uirapuru. O Sandro conseguiu cercar o leilão e nós conseguimos emenda com o governo estadual. Foram quitadas essas casas no governo do Dr. Túlio, que entrou no lugar do Vanderlan. O governo entrou com uma parte, a prefeitura entrou com outra e quitaram as casas e está lá todo mundo hoje recebendo as escrituras.

Misael Oliveira. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Euler de França Belém – Então Vanderlan deveria ser grato ao Mabel?

Muito. Eu acho uma tremenda ingratidão, porque o Mabel que buscou o Vanderlan pra política, ele não queria. Ele falou “Eu preciso de você,” porque o Vanderlan era cliente da Mabel. O Sandro fazia as embalagens pra ele. E o Vanderlan resolveu entrar. O Sandro incentivou, arrumou partido, o PL, pôs ele no PL. Depois o Sandro foi ajudar ele como deputado federal, arrumar as emendas, os recursos para fazer rede de água, pra fazer construção de casa, fazer moradia, e Sandro trabalhou como ninguém para o município.

Euler de França Belém – Diz-se também que o Vanderlan foi o responsável por levar as empesas, o polo moveleiro, para Senador Canedo.

A história do polo moveleiro foi o seguinte: o Maguito construiu o polo coureiro. Quando a Celg foi vendida, ele foi lá em Senador Canedo e criou o polo coureiro. Em 2004, antes do Vanderlan ser prefeito, eu fui no governador Marconi e falei “Esse polo está abandonado, nos deixe criar um polo de reciclagem lá”, porque eu era representante do setor de reciclagem de plástico, e o Marconi autorizou e eu procurei o Ridoval.

Foi quando eu conheci o José Roberto da Jaepel, que nós trouxemos a Jaepel, uma empresa poderosíssima que estava em Rio Verde, e aí eu trouxe o José Roberto e começou tudo do polo industrial. Quando Vanderlan assumiu, a decisão do polo moveleiro de transformar num polo industrial já estava tomada pelo Ridoval junto com o governador. O governador deu a determinação, Ridoval foi lá e transformou o polo coureiro num polo industrial.

E a cidade foi crescendo. Inclusive, o Vanderlan chegou a ter uma área lá. Chegou a montar uma empresa lá, numa área de setenta e poucos mil metros, em sociedade com o Marcelo Emílio, que depois teve que vender a empresa, porque vendeu o grupo dele. Mas o polo moveleiro, quem levou a emenda para fazer a sede foi a senadora Lucia Vânia, na época.

 
Euler de França Belém – Uma das coisas que hoje cidades consideradas modernas têm é esgoto sanitário. O esgoto também não foi colocado pelo Vanderlan?

Não. Ele pensou na questão do esgoto, mas quando ele saiu, não tinha rede de esgoto. Quem correu atrás dos recursos para rede de esgoto foi eu e o meu governo. Apresentei os projetos para o Ministério de Cidades, apresentei os projetos para a Caixa Econômica Federal. Não tinha nem a perspectiva de construir os apartamentos que nós construímos lá. A área, uma das áreas que nós fizemos, 432 apartamentos, o Vanderlan já tinha doado essa área para uma empresa.

Euler de França Belém – Você fez mais casas que ele?

Muito mais. O Vanderlan fez, com a ajuda do Sandro Mabel, o [residencial] Dona Lindu e fez o Bairro São Francisco. Eu fiz o Flor do Ipê, fiz o Santa Edwiges, fiz o Residencial Prado, e fiz o Buritis. 1.132 casas em 4 anos.

Euler de França Belém – Que questão é essa que o Vanderlan diz ter melhorado a saúde? O que ele fez pela saúde em Senador Canedo? Ele fez uma maternidade?

A maternidade lá é o seguinte: era um hospital que um médico estava construindo em Senado Canedo, e não deu conta de terminar. Então ele [Vanderlan] comprou esse hospital do médico, terminou e construiu a maternidade. Realmente aconteceu isso. Mas o hospital já estava sendo construído e ele comprou na fase de acabamento.

Senador Canedo tinha 60, 70 mil habitantes, hoje tem 150, 160 mil. O boom de Senador Canedo de lá pra cá foi extraordinário, uma das coisas que colaboraram com o boom, porque ele não falava nisso. A primeira coisa que eu fiz quando eu assumi a Prefeitura foi suspender loteamento por três anos, porque Vanderlan loteou muito Senador Canedo, aprovou muito loteamento aberto. Quando eu cheguei eu falei “Tem lote demais vago”. Só aprovei loteamento quando eu fiz a lei do parcelamento, alterei a lei do parcelamento e fiz uma lei específica para condomínio fechado. E aí, eu aprovei seis condomínios na minha época, já no final do governo.

Euler de França Belém – Você teve um choque com o Vanderlan por causa dos condomínios?

Não, o choque meu com ele foi político. Eu senti que eu fui leal a ele, em 2014, eu naquela lealdade com ele, trabalhando na campanha dele pra governador, e ele não obteve sucesso. E aí eu senti que ele começou a me isolar, fez exatamente o que ele fez com o Fernando Pellozo. O Fernando Pellozo foi vítima dele assim como eu fui. Só que o Fernando ouviu os conselhos. Isso que aconteceu.

Euler de França Belém – Hoje fala-se que o problema de Senador Canedo é a saúde. Por qual motivo?

A cidade cresceu muito. Desde a minha época, a cidade realmente deu uma melhorada na época dele, na questão da saúde. Ele construiu os PSFs, mas é lógico, também, teve muito dinheiro do governo federal, a cidade estava na bonança, que ela cresce a receita de forma exponencial até 2010, aí depois ela estabiliza, e vem tendo um crescimento normal. Mas o problema do senador Canelo são as UPAs. Porque pegou aquela fama de saúde boa e o povo de Goiânia tudo correu para lá.

Quando você vai na Vila Galvão, a maioria nas madrugadas é de Goiânia. Quando você vai no Alvorada, a maioria do pessoal que vai lá à noite, grande parte é de Goiânia. Quando você vai na UPA Central, também uma grande parte é de Goiânia. Então Goiânia, não só Goiânia, Caldazinha, Bonfinópolis, Bela Vista, aquela região ali em Goiânia, aquele fundo da região Leste, sobrecarrega o sistema de saúde de Senador Canedo.

Aí veio a discussão. O Fernando Pellozo conseguiu uma área e lançou a construção do hospital, justamente para resolver esse problema da falta de leito, para resolver o problema dos exames, porque é tudo hoje pela regulação em Goiânia. Quando se tem que fazer o exame, cadastra-se o paciente e joga na regulação. E aí fica esperando liberação da regulação para internação, para exame e tal, e até consultas com médicos especialistas. Com a construção do hospital, acredito que senador Canedo vai resolver esse gargalo.

E nós tínhamos o problema da água. O Vanderlan fala “Ah, na minha época não faltava água”. Beleza, mas a cidade era bem menor. Ele fez lá a estação do Sozinha, que o Sandro Mabel também ajudou com os recursos do governo federal, da Caixa Econômica. Só que aí, quando ele sai da prefeitura, aqueles loteamentos que ele havia aprovado no início do governo dele começaram a ser construídos, a cidade explodiu.

Eu, quando peguei a primeira crise de água no ano de 2014, 2015, salvo engano, construí o reservatório de 10 milhões, fui fazer o Lago do Lajinha, e o Fernando Pellozo agora construiu o Haras 2, esse ano eu acredito que nós não vamos ter falta de água.

Misael Oliveira. Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Deixei, fiz um projeto do Sozinha, que é uma grande barragem do Sozinha, que é o Ribeirão de Sozinha, lá embaixo do fundo do Terras Alphas, que tem 2,9 metros cúbicos por segundo. A vazão, para você ter uma ideia, do João Leite, é 3,4 metros cúbicos por segundo. Então, é um ribeirão que tem quase a mesma vazão do João Leite. Mas o que é que precisa? Reservação, fazer uma barragem. Eu deixei para outro projeto, o Divino não quis fazer, o meu sucessor não quis fazer.

O Vanderlan, em seis anos de mandato de senador, geriu quase 800 milhões de emendas, entre o governo Bolsonaro e o governo Lula, só de emendas impositivas, emendas parlamentares. Aí ele fala “Eu amo a cidade”. Gente, quem ama, cuide. De 800 milhões, se ele destinasse 30% para a cidade que projetou ele, que deu prestígio pra ele, 30% das emendas dele. Ele destinou pouco menos de 30 milhões em seis anos para o Senador Canedo de emendas, quando ele poderia ter feito 100% da rede de esgoto com emenda, ter feito a barragem e ter feito o Hospital do Senador Canedo.

Ele usa política igual safra. Planta num lugar aqui, e depois aquele lugar ali. Ele abandona e vai plantar em outro lugar. O Fernando é porque tem tido o apoio do governo, foi mais resiliente do que eu. O Fernando é um cara tranquilo, é uma pessoa do bem. Por isso que eu digo que o Fernando é a melhor opção.

Eu era pré-candidato. Com a mulher do Vanderlan, eu não iria em hipótese nenhuma, porque ela não gosta de mim politicamente. Eu conheço o temperamento dela, ela não é aquela pessoa que está andando sorridente nas redes sociais, ela é totalmente diferente, está entendendo?

Ele [Vanderlan] está tentando uma loucura megalomaníaca, numa ganância pelo poder sem precedente. Sai candidato a prefeito em Goiânia, põe a mulher para ser candidata à prefeitura de Senador Canedo e coloca o motorista como vice. Quando você já viu um negócio desse, não tem condição de uma coisa assim dar certo. Quem é o Isaías [Lima, vice de Izaura Cardoso]? É meu amigo, gosto dele, é um cara humilde. Mas Isaías? Vamos dizer que a Izaura, que é suplente do Wilder, e o poder é só pra eles. Confia em mais ninguém.

O problema do Wanderlan é que ele desconfia de todo mundo, ele mede os outros, as pessoas, pela régua dele. A régua dela é diferente das outras. Você não pode medir as pessoas pela sua régua. Você tem que medir as pessoas pelos preceitos, pelo histórico, pelas suas atuações, pelos seus legados. Ele mede as pessoas pela régua dele. E aí é o seguinte, só serve ele, a mulher e o motorista. Ninguém mais serve naquela cidade para eles.

Ton Paulo – Sobre a questão do Fernando Pellozo, circulou a informação que o senhor foi cotado para ser vice dele nestas eleições. Isso realmente aconteceu?

Eu era pré-candidato a prefeito. Quando eu chego lá em janeiro, final de dezembro, veio a movimentação da Izaura ser candidata. Ela lança a pré-candidatura. Eu estava até bem colocado nas pesquisas. Acontece que os nossos eleitores são parecidos. Aí eu comecei a analisar o quadro. Vim tocando a pré-campanha, veio o deputado Julio Pina pela segunda vez. Na primeira ele me tomou o partido junto com o Jorge Morais. Aí veio ele de novo e me toma o partido Novo. Eu era pré-candidato com apoio do Novo. Inclusive, o Milter Mayer que hoje é vice da esposa do Julio Pina era meu vice.

Eu era pré-candidato, até o Julio Pina chegar lá e fazer propostas mirabolantes para os candidatos. Quero ressaltar a integridade do Dr. Alano, que ficou estarrecido com o que aconteceu em Senador Canedo, e salvo três pessoas do grupo. O resto tudo foi no embalo do Julio Pina. Aí fiquei sem partido e sem chapa de vereador. O prefeito [Fernando Pellozo] me procurou e me perguntou se eu queria ser mesmo candidato. Eu falei “Eu quero. Mas Fernando, é tudo o que o Vanderlan quer politicamente. Vamos nos unir que nós estamos nos unindo pelo mesmo sofrimento, pelo mesmo sentimento da falta de companheirismo, vamos pra cima”.

Quando eu rompi com o Vanderlan, meu governo deslanchou. As obras passaram a acontecer. Quando o Fernando Pellozo rompeu com o Vanderlan, o governo dele deslanchou. Terminou o Paço Municipal,

Terminou o Centro de Especialidades. O Morro de Santo Antônio, eu deixei o projeto pronto, aprovado, licitado e com a emenda de um milhão de reais da deputada Flávia Morais, meu sucessor não deu prosseguimento. Começou as obras, parou no meio do caminho, o Fernando foi lá e terminou o Morro de Santo Antônio.

Arrumou a área e lançou o Hospital do Senador Canedor. Resgatou meu projeto, da construção da barragem Sozinha. Já está fazendo as fundações lá pra construir a barragem Sozinha que vai resolver o problema do senador Canedo pelos próximos 40 anos.

Agora, vai entender por que o secretário de planejamento do Vanderlan implicou. Eu penso, que foi determinação do Vanderlan. Porque aquele negócio: “Se não for eu que estou fazendo, ninguém mais pode fazer”. O Vanderlan tem esse defeito, ele se isola dentro do mundo pequeno dele, Aí começa a desprezar os companheiros. Não tem grupo, só prevalece a vontade dele e política não é isso. Política é companheirismo, é composição política, é a mineração. Eu não vejo essas qualidades no Vanderlan para ser prefeito de Goiânia. Vai se isolar também na Prefeitura.

Euler de França Belém – Você acha que ele fica fora do segundo turno?

Eu acredito. Porque o povo passou a conhecer ele. Até então, quando era apenas prefeito, ele conseguia esconder os defeitos dele. Dessa arrogância, da prepotência, da ganância pelo poder.

Quando ele foi para o grande debate político, ele começou a conviver com senadores, com deputados federais, começou a conviver com as lideranças políticas no exercício do mandato, aí o povo foi vendo que ele não era nada daquilo, que ele é candidato do eu sozinho, candidato que não pensa em grupo, que não pensa em grandes projetos, é limitado, entendeu? O Vanderlan é um político limitado.

Italo Wolff – O Vanderlan, assim, com todos esses defeitos, de onde vem esse capital político dele?

O capital político dele vem de uma luta minha que ajuda a mudar a realidade financeira do município, e vem de uma luta de um Sandro Mabel que ajudou a consolidar ele, inseriu ele no contexto político do Estado como candidato a governador em 2010.

Vai para uma campanha de governador. Televisão e tudo, depois vai novamente candidato a governador, depois prefeito de Goiânia, o cara ficou conhecido. Aí o Baldy, como eu disse, todo mundo, o MDB, ajudam a colocar ele no Senado. E aí ele vira as costas pra todo mundo, despreza todo mundo.

Euler de França Belém – Segundo turno então vai ser entre Adriana e Mabel?

Eu acredito que vai ser entre Adriana e Mabel o segundo turno. Eu acho que o Sandro está num momento ímpar da vida dele, empresarial, político experimentado, político experiente.

O Sandro é companheiro. Ele pensa na política como um grupo, ele pensa na política do bem. Você senta com o Sandro, você conversa com ele, você conversa olhando dentro dos olhos dele, você vê a sinceridade, você vê que ele é autêntico. E o governador está fazendo a diferença em Senador Canedo. O governador Caiado tem ajudado com o E-social, com o aluguel social, tem ajudado com as obras, está fazendo o viaduto ali, a ala de acesso pela 020, construiu uma grande escola lá do João Carneiro.