Luis César Bueno: “Não vamos fugir do debate ideológico, mas a população está interessada é em resolver os problemas da cidade”

02 junho 2024 às 00h01

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Professor por formação e ex-membro da diretoria do Serpro, Luis César Bueno é, também, um político de vasta experiência. Foi vereador por Goiânia por dois mandatos, de 1997 a 2002, e deputado estadual por Goiás por quatro mandatos, de 2003 a 2019. De oito eleições disputadas, saiu vencedor de seis. Nada mais natural que fosse alçado ao posto que ocupa hoje, de coordenador executivo da campanha da pré-candidata à Prefeitura de Goiânia pelo PT, a delegada e deputada federal Adriana Accorsi.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Bueno revela confiança no projeto de Adriana para a capital e acredita que a parlamentar possui grandes chances de ser eleita. O ex-deputado rebate a tese de que “Goiânia é uma cidade conservadora e bolsonarista” ao lista, como exemplo, a lista de prefeitos petistas já eleitos na cidade. Para o professor, os projetos propositivos terão um papel decisivo nas eleições deste ano, em detrimento do debate ideológico. Bueno ainda faz um aposta: segundo ele, de acordo com as projeções internas do PT, o segundo turno deverá contar com Adriana Accorsi contra Gustavo Gayer. E, para ele, o projeto petista pode sair vencedor.
Euler França de Belém – Você já passou pelo Serpro [Serviço Federal de Processamento de Dados, empresa estatal]. O que é exatamente a empresa? O que está se processando no governo federal em relação a essa questão?
É uma questão da informação de dados, [necessária] a um governo voltado a explorar a inteligência artificial. Isto é, é um governo que tem uma nuvem, para não ficar na mão das empresas norte-americanas.
Ton Paulo – Estamos em ano de eleição, a campanha está às portas. Qual está sendo o papel do senhor hoje nos municípios, nas capitais?
Fui convidado para coordenar aqui em Goiânia a campanha da deputada federal Adriana Accorsi. Minha companheira de partido, foi deputada estadual junto comigo, que lidera as pesquisas em Goiânia. Quando não lidera, tem empate técnico com o segundo colocado.
Goiânia é uma das cidades em que nós estamos muito bem colocados, e o perfil da nossa deputada Adriana Accorsi é um perfil que tem uma atração não apenas do voto dos setores progressistas, mas também do voto do centro e o voto de quem não está preocupado com a questão ideológica e está preocupado, sim, com a cidade.
Dentro contexto, eu aceitei o desafio. Tenho procurado fazer as articulações necessárias para tornar esse projeto vitorioso e também estamos acompanhando o processo eleitoral em várias cidades do nosso Estado. Após o processo eleitoral de 2022, em que o projeto do Partido dos Trabalhadores saiu vitorioso, um novo desafio foi colocado nas eleições de 2024, que é vencer as eleições nas principais cidades do país. Quando nós não conseguimos deixar nossa marca nas câmaras municipais e também nas principais cidades do Brasil, houve uma turbulência política muito grande. O povo brasileiro, o Estado brasileiro pagou muito caro por isso. A população percebe que é importante retomar esse processo de construção de políticas públicas a serviço de todos, e o PT tem uma participação muito importante nisso.
É por isso que, como dirigente do PT, eu estou envolvido nesse projeto que é fazer com que as eleições de 2024 sejam eleições que fortaleçam a democracia e que venham a dar continuidade às políticas colocadas e praticadas pelo governo federal.
Raphael Bezerra – O PT sempre dá prioridade mais para a política nacional, em detrimento da política regional, municipal?
É um conjunto sincronizado, que começa agora no município. As eleições municipais têm uma influência muito grande no processo eleitoral para presidente da República. Dentro desse contexto, a política de alianças que são desenvolvidas nas principais cidades do país, principalmente as cidades que têm segundo turno, são orientadas pelas direções nacionais, não apenas do PT, mas de todos os partidos.
A direção nacional tem feito um acompanhamento muito de perto, porque é importante ter vitórias agora em 2024 para poder caminhar forte para 2026.
Ton Paulo – Estamos vendo os pré-candidatos se movimentando, articulando com os partidos para definir também as suas vices nas chapas. A Adriana Accorsi já tem alguém mais ou menos definido, está conversando, ou ainda não tem nada nesse sentido?
Existe um conjunto de propostas colocadas à mesa, mas essa definição acontecerá às vésperas da convenção eleitoral. Nesse período agora, é importante ressaltar que nós passamos por um processo que é importante: mobilizar e unificar o PT. Na sequência, mobilizar e unificar os partidos que fazem parte da federação [com PCdoB e PV]e, a partir desse processo que já está acontecendo, ampliar o nosso leque de alianças.
O nome da nossa candidata, deputada Adriana Accorsi, extrapola o perfil eleitoral da federação. Ela consegue atrair eleitores do centro.
Ton Paulo – Por causa da ligação dela com a segurança pública?
A ligação com a segurança pública, o perfil de gestora como comandante da Polícia Civil no Estado de Goiás, mas mais do que isso, a capacidade de formular e apresentar soluções para os problemas de Goiânia. É importante ressaltar que nessa eleição, especificamente na cidade de Goiânia, o debate não vai ser um debate ideológico, entre esquerda, direita e centro. Ele vai ser um debate em que a população quer resolver os problemas da cidade. Os problemas da cidade aglomeraram numa velocidade muito grande. Nos últimos quatro anos de governo, nós não tivemos soluções para os principais problemas da cidade. E a nossa candidata, Adriana Accorsi, tem mostrado capacidade de construir articulação política e também de intervenção dos problemas da cidade numa gestão governada pelo Partido dos Trabalhadores.
Então é o que nós vamos desenvolver. Não é nós que vamos fugir do debate ideológico. Quem não quer fazer o debate ideológico nesse momento é a população. A população está interessada em resolver os problemas da cidade. Agora, a candidatura e o PT têm um perfil ideológico claro. Estamos preparados para debater o projeto que nós desenvolvemos no Brasil, o projeto que nós desenvolveremos em Goiânia. Não escondemos de forma alguma a nossa vocação de um partido de esquerda, mas o eixo do debate vai ser resolver os problemas de Goiânia. E na questão de resolver os problemas de Goiânia, nós temos que pegar o legado das gestões em que o Partido dos Trabalhadores comandou essa cidade, com três prefeitos, e o projeto que nós pretendemos implementar a partir do ano que vem.

Raphael Bezerra – Mas apesar de a Adriana Accorsi transitar bem com esse eleitorado de centro e até de um eleitorado mais conservador, ainda existe uma resistência, embora muito menor do que em 2016, 2018, 2020, devido ao perfil agro da cidade.
Eu concordo com isso, que é uma cidade que tem uma influência do agro, mas é uma cidade que tem sabedoria e independência política. Quando o Darci Accorsi ganhou a eleição, em 1992, a cidade era conservadora, era dominada pelo agro. Quando Pedro Wilson teve uma surpreendente vitória no segundo turno contra uma candidata conservadora na época, que era Lúcia Vânia, a população teve uma vocação pela esquerda. E nós elegemos o prefeito Paulo Garcia, que é um candidato do PT e de esquerda.
E agora, essa mesma cidade, que todos dizem ser ‘extremamente conservadora’ e até ‘bolsonarista’, caminha para eleger um prefeito do Partido dos Trabalhadores mais uma vez.
Ton Paulo – O senhor mencionou a questão da federação. Hoje, o PCdoB ainda mantém candidatura própria e o PV está rompido com o PT. Há uma divisão na federação? Quais partidos hoje estão realmente fechados com o projeto da Adriana?
Nós retomamos aquela conversa inicial, que é a influência da direção nacional, da conjuntura nacional nas eleições municipais. O cenário, as articulações políticas eleitorais nas grandes cidades são tomadas pelas direções nacionais dos partidos da federação. Esse processo, com certeza, vai chegar até as vésperas da convenção. Eu acredito numa união 100% dos partidos da federação. Vem o PCdoB, vem o PV e faremos uma unidade na federação e acredito que nós vamos atrair partidos fora desse eixo ideológico, vamos atrair partidos compor conosco.
Acredito que a Federação em Goiânia ficará unida em função das articulações locais. Caso as articulações locais não consigam entrar no entendimento, o entendimento virá por decisão da federação em nível nacional. Isso é o rito que acontece nas eleições. Agora, sobre o leque de alianças que nós vamos desenvolver além da federação, é um leque muito amplo. Praticamente todos os partidos de centro apoiam a Lula no Congresso Nacional, e os partidos que apoiam o Governo Federal no Congresso Nacional conversam conosco aqui.
Se eu dizer que é o União Brasil, que é o MDB, que é o PSB, que são outros partidos, eu estaria aqui junto com vocês entregando segredos de articulações. Eu não posso fazer isso, ninguém faz isso. Só revela depois que está fechado. Então, eu quero dizer que esse cenário somente será definido lá para o final de junho, início de julho, quando iniciará o processo das convenções.
Ton Paulo – Um outro município que chama muita atenção a pré-candidatura é Anápolis, com Antônio Gomide, que inclusive está liderando as últimas pesquisas divulgadas. Mas existe uma certa crítica à candidatura dele, que ele estaria, não só ele, mas a candidatura em Goiânia também, escondendo a marca Lula, a estrela do PT. Existe realmente esse movimento de distanciamento do presidente Lula para tentar emplacar os candidatos petistas em municípios mais conservadores?
Mas esconder a marca do presidente Lula por quê? Todas as pesquisas têm mostrado que a avaliação do governo é melhor do que o número de votos que ele teve na eleição. É um governo empreendedor, que está retomando o ritmo de desenvolvimento econômico com justiça social.
Quando nós assumimos o governo, o país era a 11ª economia, hoje já é o 8º, queremos voltar a ser a 6ª economia do mundo. Esse debate não flui de uma forma tão expressiva. O que acontece é que nas eleições antes de 2018, nós não tínhamos uma uma direita conservadora, fundamentalista, estreita, sectária, conforme nós temos hoje. Hoje nós percebemos que a direita, a extrema direita, uma extrema direita preconceituosa, fundamentalista, ela se organizou, e com base extremamente sectária, se encastelou principalmente nas cidades com um perfil mais conservador, mais agropecuário.
Nós vamos ter que enfrentar esse debate. E como? Defendendo as causas humanistas, defendendo o desenvolvimento econômico, defendendo a liberdade democrática, liberdade de expressão, defendendo o Estado Constitucional de Direito, defendendo a liberdade de empreender, a liberdade de manifestar. Isso é uma questão de tempo.
Tivemos um avanço grande elegendo o presidente Lula, e eu diria que as eleições municipais são um teste de ferro que nós teremos que passar. Em relação a Anápolis, é importante a cidade tem perfil conservador, mas elegeu um prefeito petista por duas vezes e fez desse prefeito, o deputado Antônio Gomide, o prefeito mais popular do Brasil. Isso é significativo.
A população de Anápolis tem saudade do governo do PT, do governo do Antônio Gomide, mas pelo fato dele ser um prefeito que correspondeu às exigências da cidade com políticas públicas em todas as áreas, que melhorou a qualidade de vida da cidade. É isso que nós entendemos que vai definir o processo eleitoral, e é bom ressaltar que nós lideramos.
Raphael Bezerra – O senhor falou que o PT tende a não trazer tanto essa questão do debate ideológico, que não vai fugir, é claro, mas há a percepção de que essa questão ideológica não vai ser ponto fundamental na eleição de Goiânia, principalmente a partir dos próximos anos. Como o PT se prepara, não somente para a eleição desse ano, mas para os próximos, para as próximas gerações?
Eu concordo que nós temos uma direita organizada, concordo que existe nessa direita organizada um sentimento de ódio contra os setores progressistas. Mas acho que o que vai pautar esta eleição serão os problemas da cidade. O cidadão se irrita quando entra num bairro, como o Bueno, como Jardim América, como Jardim Goiás e praticamente os principais bairros de Goiânia, e ali você não consegue fluir o trânsito, você gasta mais de uma hora para sair de um ponto para o outro.
Você tem uma legislação municipal que liberou arranha-céus, edifícios seis vezes maiores do que 20 anos atrás, dispensando o alvará de impacto de trânsito. Ao cometer o crime de não exigir impacto de trânsito para grandes empreendimentos, arrebentou o sistema viário da cidade e sacrificou muito a qualidade de vida das pessoas que não têm condição de se locomover em Goiânia.

O trânsito de Goiânia é um dos mais caóticos do Brasil, e nós não percebemos, na atual gestão e nem nos candidatos que se apresentavam até o momento, exceto a Adriana Accorsi, propostas concretas para melhorar o sistema viário de Goiânia.
Aliás, o sistema viário de Goiânia foi planejado depois de Atílio Corrêa Lima, refeito em 1985, e até hoje não saiu do papel. A Marginal Capim Puba, que liga o Lago das Rosas, a Avenida Anhanguera, com a Goiás Norte, não saiu do papel; a Marginal Cascavel não saiu do papel; a Marginal Botafogo precisa ser concluída; a Leste-Oeste precisa ser concluída; o anel viário de Goiânia precisa ser concluído e o Eixo Anhanguera está totalmente deteriorado. O atual prefeito não conseguiu concluir o sistema de eixo exclusivo do transporte coletivo. Conclusão, o trânsito transformou-se numa calamidade, é impossível andar em goiânia.
Raphael Bezerra – E quanto ao transporte coletivo?
Não tem como você melhorar o trânsito sem ter um sistema viário que garanta a locomoção, que garanta o trânsito efetivo dos veículos com agilidade. Para melhorar o trânsito você tem que ter um sistema viário que tenha também uma interferência direta no transporte público. Você precisa melhorar a qualidade do transporte público para que as pessoas sintam segurança, conforto no transporte público e deixem o automóvel em casa.
Agora, as avenidas estão estranguladas, o processo de ordenamento urbano de Goiânia foi estrangulado, edifícios enormes foram construídas em determinadas regiões com ruas extremamente estreitas. É o caso do Jardim Goiás. Você tem arranha-céus com ruas que não têm capacidade sequer de estacionar um carro do lado. Ou seja, houve uma irresponsabilidade do poder público em liberar, em autorizar construções em bairros de grande expectativa populacional.
Então, dentro desse contexto, nós temos que trazer a cidade do ponto de vista do planejamento. Planejar o sistema viário, fazer um novo ordenamento urbano, planejar e organizar as grandes edificações e fazer com que a qualidade de vida melhore a partir de uma ação planejada da cidade.
Raphael Bezerra – Estamos vendo uma preocupação hoje com o meio ambiente cada vez mais em voga, e o desastre recente do Rio Grande do Sul coloca Goiás também nessa perspectiva de o que fazer para evitar desastres ambientais. Aqui em Goiânia a gente tem muitos casos de alagamento. O que é que deve constar no plano de governo da Adriana sobre esses aspectos?
Seguir o mesmo modelo construído pelas gestões anteriores do Partido dos Trabalhadores, principalmente pelo pai da nossa prefeita Adriana Accorsi, que foi o saudoso prefeito da Darci Accorsi. Na sua gestão foi construído o Bosque Vaca Brava, o Bosque Areião, foi reestruturado e requalificado todo o bosque dos Buritis e também vários parques nos bairros de Goiânia.
Na gestão do prefeito Pedro Wilson, novos parques tiveram andamento e tivemos também toda uma preocupação com a questão ecológica. O Macambira Anicuns, que foi um legado do prefeito Pedro Wilson, que teve continuidade com o prefeito Paulo Garcia. O que é o Macambira Anicuns? É o maior parque linear da América Latina. Ele começa lá no setor Alphaville, na divisa com a Aparecida de Goiânia, na avenida Rio Verde, e vai até na Perimetral Norte, nas imediações do Meia Ponte, pegando toda essa área do Cascavel e do Anicuns. Ou seja, um parque linear onde nós já conseguimos construir 40%.
Então, retomar a construção dos parques, dos bosques, desenvolver uma política onde nós tenhamos condições de preservar as nascentes dos nossos rios, principalmente do Meia Ponte, e fazer uma política de liberação de construções, obedecendo o mínimo necessário para escoamento do sistema de chuva, nós teremos uma cidade esponja, uma cidade onde as inundações não terão impacto.
Ton Paulo – Será uma proposta da Adriana?
Sim. Aliás, isso já é proposta do Partido dos Trabalhadores desde a gestão do prefeito Darci Accorsi. O último prefeito, Paulo Garcia, tinha como plataforma uma cidade sustentável, uma cidade ecologicamente sustentável. E nós conseguimos fazer isso em todas as nossas gestões.
Então, retomar a preocupação ambiental, fazer com que Goiânia volte a ser a cidade ecologicamente correta, conforme foi o selo que nós tivemos nas nossas gestões anteriores.
Ton Paulo- Qual será o nível de participação do presidente Lula na campanha da Adriana Accorsi?
O presidente Lula é um dos incentivadores da candidatura da nossa prefeita Adriana Accorsi e vai estar presente. Vai estar presente, pedindo voto, fazendo campanha.
Ton Paulo – Já tem previsão de quando Lula deve vir a Goiânia? Ele ainda não veio no atual mandato.
Quando eu digo que vai estar presente, são meios que serão ainda trabalhados. Ele pode estar presente presencialmente, vai estar presente em todas as peças de campanha. É um dos principais incentivadores e apoiadores da candidatura dela.
Ele com certeza virá [a Goiás], possivelmente este ano. Agora, se vai ser na campanha ou não, isso é uma articulação política que vai ser feita e levando muito o momento político. Goiás já tem várias ações do governo federal sendo desenvolvidas e com certeza ele virá para inaugurar algumas dessas ações.
Raphael Bezerra – Goiânia é uma cidade que cresceu muito rápido, sem planejamento, isso também está incluso no plano de governo da Adriana? A questão do ordenamento urbano e do trânsito?
Trânsito, meio ambiente e desenvolvimento econômico. Temos que fazer um ordenamento urbano da cidade, casado com o desenvolvimento econômico. Você pega, por exemplo, a região central da cidade. É uma região já em processo de degradação total. Às vezes você sente mais a presença de políticas públicas nos bairros mais afastados do que na região central de Goiânia, que é o espaço mais democrático da cidade. Todas as pessoas passam pelo Centro. Mas é uma região que, nos últimos cinco anos, ficou totalmente abandonada, degradada.
O comércio saindo do Centro, os edifícios sendo desvalorizados. Então, numa área dessa, você tem que fazer um ordenamento urbano junto com o desenvolvimento econômico. É você desenvolver políticas de atração de novos negócios, novos empreendimentos, tecnologia limpa, empreendimentos na área de cultura, na área de turismo, empreendimentos na área de tecnologia da informação, inteligência artificial, ou seja, você faz naquela região um hub, um aglomerado de economia limpa, de novos empreendimentos que vá garantir ali um novo espaço de desenvolvimento econômico e de aglomeração de pessoas.
Com isso você faz a retomada do desenvolvimento urbano e do ordenamento paisagístico dessa região da cidade.

Temos ali na região de Campinas um problema grave que é a questão do comércio atacadista. o comércio atacadista tem uma presença histórica e traz um congestionamento no trânsito muito grande, desordena toda a densidade habitacional de residências daquela região. Isso, até 15 anos, 20 anos atrás, não tinha tanto impacto, Mas agora está difícil. Está difícil para o cliente, para o empresário e para o transeunte. Um caos para a cidade.
Goiânia precisa ter alguns eixos, alguns polos de desenvolvimento econômico. Um dos polos de desenvolvimento econômico que precisam ser criados é um que venha aglomerar o comércio atacadista obedecendo a essa linha de ordenamento urbano da cidade.
Ao fazer isso, você faz um ordenamento produtivo naquela região e descongestiona e revitaliza aquela área importante do comércio de Campinas. É um conjunto de ações que nós precisamos fazer em toda a cidade que vai fazer com que a cidade volte a ser mais humana, uma cidade mais viva, ecologicamente perfeita, com desenvolvimento, com equilíbrio, com qualidade de vida. É esse o modelo que nós precisamos fazer através de um planejamento.
Ton Paulo – Durante algum tempo teve a informação de que havia uma conversa em andamento entre a Adriana e o agora pré-candidato Vanderlan Cardoso. Inclusive, sobre a possibilidade de o Vanderlan indicar o vice da Adriana. Como estão essas conversas hoje?
As articulações com o candidato do perfil do senador Vanderlan passam pela direção nacional do PT, muito em função do fato dele ser outro senador que apoia o governo federal, que é presidente da CAE, que é a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal. Então, esse debate é feito diretamente com a direção nacional e com os nossos líderes maiores em Brasília.
Tudo é possível dentro de uma eleição municipal quando aliados se encontram. No meu entendimento, ele está bem posicionado e tem dito reiteradas vezes que vai disputar a eleição. Nós temos até o período eleitoral, até as convenções para tomar essa decisão. Eu, pessoalmente, não vou te dizer que isso não é possível, porque dentro da articulação política nós já vivemos outros momentos, mas uma coisa eu posso garantir: a candidatura da deputada Adriana Accorsi está colocada, é uma candidatura que lidera as pesquisas, a maioria das pesquisas. Quando não lidera, fica no empate técnico e ela é candidata.
Mas tem um cenário que deve ser colocado, deve ser articulado, não apenas para o senador Vanderlan, mas com outras forças também, que é o cenário de 2026. Na possibilidade de o PT ganhar as eleições em Anápolis, ganhar as eleições em Goiânia, e estar no governo federal, abre uma vaga muito grande dentro do tabuleiro para ser articulado para 2026, que é o cargo de governador de Goiás. Se a gente conseguir fazer uma articulação já fechando esse campo, a partir de agora, nós poderemos ampliar muito o nosso leque de alianças.
É esse debate que nós estamos fazendo com o conjunto dos partidos. Aliás, talvez é só no nosso campo que tem essa possibilidade de você ter um candidato a governador já articulado agora, com o apoio de importantes prefeituras e com o apoio do governo federal.
Porque se você pega o lado da União Brasil, do governador Ronaldo Caiado, ele já tem definido lá que o candidato a governador é do MDB, o vice-governador Daniel Vilela. Se você pega a chapa do PL, por exemplo, parece que já tem a definição que é o senador Wilder Moraes. Nesse campo aqui tem ainda possibilidade de articular, a partir das eleições de 2024, o cenário para 2026.
Ton Paulo – Chegou a ser colocado pelo presidente Lula de que o PT poderia apoiar o Vanderlan em 2026, em troca desse apoio para a Adriana em 2024?
Não, não foi colocado. Mas não seria nenhuma imoralidade se já você começasse a fazer algumas articulações visando 2026, igual o governador Ronaldo Caiado fez, e semelhante ao que o ex-presidente Bolsonaro já fez, inclusive com o PL envolvendo o senador Wilder.
Ton Paulo – Mas pelo que está colocado hoje, qual seria o nome que poderia ser apoiado pelo PT em 2026?
Temos aqui em Goiânia um trabalho intenso nas bases, e essa conversa está acontecendo em Brasília. Ficamos sabendo, participamos, mas como eu te disse anteriormente, nós não podemos fazer qualquer tipo de posicionamento prematuro ou antecipar uma coisa que não aconteceu, sob pena de não vir acontecer lá na frente. Então é uma questão de segredo do Estado.
Ton Paulo – Ainda sobre 2026, agora no cenário nacional, o senhor acha que seria mais sábio o presidente Lula tentar um novo mandato, um quarto mandato, ou bancar, por exemplo, o ministro Fernando Haddad ou até mesmo o Guilherme Boulos para a presidência da República?
É bom lembrar que o deputado Guilherme Boulos teve uma votação expressiva no município de São Paulo, e caminha novamente para disputar e vencer as eleições de São Paulo. E é um quadro político que desempenhará um papel formidável na gestão de políticas públicas.
O cenário que envolve não apenas os partidos da federação, mas o conjunto de partidos que sustentam o presidente Lula, é garantir a reeleição. A reeleição é um processo natural para quem está no poder. Os candidatos que não vão para a reeleição normalmente é porque eles não conseguiram se deslanchar administrativamente. Mas o presidente Lula tem um legado de dois mandatos em que ele conduziu os destinos desse país e está fazendo uma recuperação econômica com distribuição de renda, com justiça social, resgatando a soberania internacional do país e o caminho natural para as próximas eleições seria a reeleição do presidente Lula.
Ton Paulo – Na última semana, o Vanderlan esteve conosco e cravou um prognóstico, de que se continuar no mesmo cenário, será ele e Adriana Accorsi no segundo turno. Qual a projeção de vocês?
Os cenários que nós estamos percebendo nas pesquisas internas, qualitativa e quantitativa que nós estamos fazendo, é o destaque de uma candidatura de extrema direita mobilizada principalmente pelo reduto bolsonarista, pelo espólio bolsonarista, que é representado por uma direita organizada. O que as candidaturas que rompem essa bolha da extrema direita têm feito é procurar abrir esse eleitorado para um debate das políticas públicas para a cidade. E nesse aspecto, a candidatura da deputada Adriana vai além do eleitorado da federação, o eleitorado de esquerda, e consegue galgar o voto de um centro e até mesmo de setores da direita que tem influência no bolsonarismo.
Partindo desse cenário, caminha hoje, pelo nosso ponto de vista, uma disputa entre a Adriana e o Gustavo Gayer. Esses são os cenários que nós estamos vendo em todas as pesquisas que nós estamos fazendo. Não temos pesquisas com nome diferente, mas como nós estamos ainda numa pré-campanha, tudo pode acontecer aí para frente.
Mas eu acho que qualquer candidatura que eles fluírem do lado de lá, nós estamos preparados do lado de cá para ir para a disputa.
Ton Paulo – E quanto ao projeto político do senhor? O senhor passou pela Câmara Municipal, passou pela Assembleia Legislativa de Goiás e agora está na condição de articulador. O senhor pretende se lançar para algum cargo em 2026?
Eu tenho seis mandatos, oito eleições. Disputei oito eleições, ganhei seis. Fui vereador de Goiânia por dois mandatos, de 1997 até o ano 2002, depois fui deputado de 2003 até 2019, quatro mandatos. Depois eu disputei o Senado. Ao disputar o Senado, nós já chegamos num momento em que percebemos que a fila tem que andar nessa disputa dos cargos proporcionais.
Acho que depois de seis mandatos, eu cumpri minha missão. Cumpri minha missão como vereador de Goiânia, cumpri minha missão como deputado estadual. Se eu fosse deputado estadual hoje, eu não teria condição de estar numa coordenação executiva da campanha da Adriana Accorsi e ajudar a pensar a cidade. Depois de seis mandatos, eu entendi que é importante você participar da política através de um novo processo.
Ton Paulo – Então hoje está descartada essa volta às eleições?
Totalmente.
Ton Paulo – Mas o senhor aceitaria, por exemplo, uma secretaria no eventual governo da Adriana?
Aí é consequência, é a composição de governo que vai determinar isso. Eu disse a vocês que eu cumpri a minha missão em disputar o parlamento. Eu não vou mais, com condições de disputar mandato de vereador, de deputado. Eu estou agora contribuindo para elaborar as políticas públicas que vão, nesse momento, apresentar o nosso projeto para Goiânia.
Então, vai depender da articulação política e da conjuntura política do momento, da ocasião.
E nós vamos trabalhar para ganhar a eleição, mas nós não podemos desmerecer, não podemos desrespeitar o adversário. Entendemos que eleição só se ganha no dia, para chegar no dia você tem que ganhar o debate, você tem que ganhar o voto da população, ganhar a confiança da população. Temos que ter humildade, então não podemos cantar vitória antes do período eleitoral.
Existe um ditado que eu aprendi rodando nesse interior de Goiás, quando eu era deputado, eu vi vários prefeitos dizerem isso, eles diziam o seguinte: eleição e mineração só se fica sabendo na apuração.
Raphael Bezerra – Como é que o PT hoje tem formado suas novas lideranças para as questões eleitorais, para as questões de ação, cargos políticos? E qual é a meta de vereadores nesse ano?
O PT, e não só o PT, mas o conjunto dos partidos passou por um processo de envelhecimento. De uns seis anos para cá, iniciamos um processo de valorização da participação da juventude nas instâncias do partido. Deliberamos que um percentual dos membros da executiva nacional, da executiva estadual, da executiva municipal do PT seja ocupado por jovens. E iniciamos, além de colocar os jovens nas instâncias de decisão do partido, um amplo processo de formação política, com cursos, seminários, jornadas de formação.
Sobre a questão da Câmara Municipal, temos uma chapa completa, a chapa da federação. Devemos fazer algumas exclusões, mas teremos que fazer essas exclusões de forma consensual. Hoje nós temos dois vereadores, e queremos, no mínimo, dobrar a bancada. No mínimo. Mas achamos que temos chapa para eleger até cinco vereadores.