Graduado em Comunicação e especialista em Planejamento Urbano e Ambiental, Gerson Neto é presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente, a Arca, entidade voltada para os estudos ambientais e planejamentos urbanos e que forma constante chama atenção para os efeitos das alterações climáticas. Nesta entrevista, o ambientalista não só traz um alerta em tom de urgência para a crise do meio ambiente e seus efeitos sobre as cidades – visíveis já no cotidiano tanto urbano quanto rural -, mas destaca com todas as letras: “Estamos esperando as coisas mudarem muito severamente dentro dos próximos 10 anos. Não estou falando dos próximos 50 anos, não. É nesta geração”.

Segundo Gerson Neto, programas essenciais para gerar um equilíbrio e reordenamento urbano e ambiental em Goiânia, tais quais o Plano Diretor e o Centraliza, acabaram distorcidos por interesses econômicos e que, a curto, médio e longo prazo, poderão ter efeitos para todos. Para o especialista, também há uma constante invasão da ação humana em áreas de preservação, o que explicam as frequentes catástrofes ambientais que culminam em perdas materiais e humanas.

Ton Paulo – A temática do meio ambiente é frequentemente lembrada somente nos períodos de crise climática, como enchentes, alagamentos, queimadas. Qual a importância da abordagem constante dessa questão?

Apesar de se dizer que debater o meio ambiente não dá voto, não encanta as pessoas e não motiva ninguém a votar em governantes, é impossível fazer um processo de discussão em qualquer área sem tocar em questões ambientais.

A pressão ambiental está cada vez maior sobre as atividades econômicas e humanas, pois os eventos extremos são cada vez mais complexos e mais severos. E também temos o grande dilema da humanidade, que são as mudanças climáticas geradas pelas atividades econômicas humanas.

O desequilíbrio ambiental é a grande ameaça, o desequilíbrio climático, especialmente, é a grande ameaça que temos para os próximos anos, e não é uma ameaça para longo prazo, nem médio. E sim de curto prazo.

Já é um problema presente, tanto por causa do calor extremo, causa de chuvas torrenciais, perigos de seca prolongada com ameaça de segurança hídrica das cidades.

Ton Paulo – Recentemente, tivemos uma tragédia anunciada em Pirenópolis. A enxurrada formada pela água da chuva invadiu uma pousada na região, provocando prejuízos. Essa pousada teria sido construída em uma Área de Preservação. Qual o impacto desse tipo de empreendimento para o meio ambiente?

Quando falamos sobre a importância de não se construir em áreas de preservação, há quem ache que isso é puramente para proteger o meio ambiente. É para isso também, mas essa não é a principal razão, no final das contas. Pois a grande questão é que essas áreas, sensíveis ambientalmente, estão suscetíveis exatamente a eventos como o registrado em Pirenópolis.

Em toda topografia, de qualquer terreno, a água cai para baixo. Obviamente, ela obedece a lei da gravidade. Os pontos de nascente são de convergência de topografia, pois é preciso que a água infiltre em áreas mais afastadas, penetre no solo, venha pelo subsolo para verter ali naquela nascente.

Todas as regiões próximas de rio e de nascentes são ambientalmente vulneráveis, não só por causa da beleza natural, mas porque são regiões sensíveis para onde convergem as águas. Foi exatamente o que aconteceu em Pirenópolis.

A cidade está ali há centenas de anos, e aquela região da pousada não havia sido ocupada porque é ponto de nascente, brejo. Eles chegam, aterram, drenam, colocam prédios e diminuem a proteção natural.

É importante lembrar que aquele empreendimento em especial foi extremamente polêmico na época. A construção demorou pelo menos três anos para ser liberada. No final das contas, o poder econômico venceu. E é engraçado, porque eles constroem, depois vendem e saem da história. Quem construiu, quem teve o lucro não está nem aí, não participa do prejuízo quando acontece o desastre ambiental. Eles já saíram.

Muitos proprietários de terras agem como crianças mimadas. Não importa se é dentro do rio, nas margens, eles querem construir porque acreditam que a propriedade dá direito a ele de fazer o que quiser com essa área. É infantil, é como uma criança brincando com fogo porque ele ignora os aspectos ambientais e que ali vai haver problema mais cedo ou mais tarde, como alagamentos, enchentes, deslocamentos de terra.

Ton Paulo – Um estudo realizado pelo observatório De Olho nos Ruralistas apontou que, dos 100 maiores municípios brasileiros, apenas 48 contam com secretarias ou órgãos dedicados exclusivamente à administração ambiental. Em Goiânia, temos a Agência Municipal do Meio Ambiente, a Amma. Qual a importância de se ter uma secretaria específica voltada para essa questão?

Em Goiânia, a Amma funciona como secretaria, não há um vazio institucional. Ela entrega a parte de planejamento da área para a sociedade, principalmente aos atores econômicos.

Esse modelo de agência vem das agências reguladoras. É uma atividade de regulação que o Estado faz sobre a sociedade, não é de gestão e implementação. Quando o Estado regula, ele não planeja, ele simplesmente fica esperando a sociedade dizer ‘Posso fazer isso?’. E ele diz sim ou não.

Por exemplo, muitos parques de Goiânia foram feitos pela iniciativa privada. Os responsáveis procuram a Amma com o projeto pronto e pleiteiam a liberação para a construção.

Ambientalista Gerson Neto, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Todas as regiões próximas de rio e de nascentes são ambientalmente vulneráveis

Mas a Amma tem um corpo técnico muito bom. Não é pior do que as outras do Brasil. O problema não é o órgão, mas sim a forma de encarar as questões ambientais dentro de uma cidade, e isso vale para qualquer cidade.

Ton Paulo – A última gestão de Goiânia enfrentou críticas intensas em relação à iniciativa da Prefeitura de cortar árvores em vários pontos da cidade. Há quem diga que as árvores plantadas no lugar não são adequadas para a arborização urbana. Como o senhor vê essa questão?

Qualquer supressão de árvore é sempre muito sentida pelos moradores. Especialmente em Goiânia, que tem uma arborização antiga de grande porte.

São sipibirunas, sete copas, essas mongubas, que são árvores incríveis e grandes que dão uma sombra bem consistente. E aí, geralmente, quando substituem, o discurso é de que tem que ser árvores nativas. As árvores nativas são interessantes, mas as árvores do Cerrado não são tão frondosas como as que listamos aqui.

Além disso, quando é retirada uma árvore que está ali há 40 anos, que tem 15, 17, 20 metros de altura, é plantada uma muda. Para ela chegar no tamanho da anterior, vai demorar pelo menos 20, 25 anos. Então você perdeu aquela sombra por 20, 25 anos. Você perdeu aqueles benefícios ecossistêmicos e ambientais de resfriamento, de melhoria da umidade local que aquela árvore fornecia.

É claro que a árvore tem seu ciclo de vida. Tem um momento em que é preciso, sim, substituir, mas é preciso fazer isso com planejamento. Se alguém pega uma rua e retira todas as árvores, plantando tudo de novo, ela desertifica aquela rua quanto aos serviços ecossistêmicos e ambientais que aquelas árvores estavam fornecendo.

Ton Paulo – O senhor acha que tivemos isso em Goiânia?

É possível que tenha tido exagero, sim. Por isso que a arborização urbana deve ser feita em diálogo com a população. Não dá para você fazer isso sem dialogar. Se as pessoas não entenderem por que aquilo está sendo feito, vai ser sempre objeto desse tipo de polêmica e desconfiança.

Mas eu acho absurdo que se faça esse corte de árvores de forma tão indiscriminada, dessa forma. Gera esse tipo de desconfiança. É preciso manejar as árvores, sim. Árvore, quando adoece, às vezes é preciso substituir, é normal. Mas essa substituição tem que ter critério, e precisa ser feita em relação de confiança com a população, ou então teremos esses problemas.

Ton Paulo – Os chamados “condomínios verdes” estão em alta, que são esses empreendimentos literalmente feitos dentro de florestas. Os responsáveis por esses projetos alegam que não desmatam, mas reflorestam áreas já desmatadas. Mesmo assim, isso tem um impacto ambiental?

O grande problema não é a questão ambiental para esses condomínios. O grande problema é a questão urbana e urbanística. Esses condomínios se transformam em verdadeiras cidadelas. Estamos, nesse sentido, voltando à Idade Média. Em vez de trazermos cidadania, segurança para a cidade, estamos criando cidadelas protegidas, desistindo da cidade.

E a cidadela não é só o condomínio. A cidadela também é um shopping center. Em vez de ir ao centro da cidade, onde a urbanidade está, convivência social, estamos privatizando a cidade, transformando-a em shopping center. E isso não é um fenômeno só do Brasil, é um fenômeno mundial.

E nos condomínios, as pessoas constroem uma casa com piscina para somente passar o final de semana. E essa é a grande explosão desses condomínios. Isso em área rural, porque esse tipo de condomínio não cabe dentro da área urbana.

Eles são, sim, um problema para a área rural por esse outro aspecto. Esses condomínios geram lixo, trânsito, geram todo tipo de poluição. É preciso fazer o recolhimento desse lixo produzido, o que é complicado para as prefeituras de cidades pequenas. Geram esgoto, que geralmente vão para uma fossa e poluem o lençol freático.

O desequilíbrio climático, especialmente, é a grande ameaça que temos para os próximos anos, e não é uma ameaça para longo prazo, nem médio. E sim de curto prazo

Isso vale para Pirenópolis, para muitas cidades, especialmente as turísticas e as grandes regiões metropolitanas, como a de Goiânia. É uma grande ignorância das pessoas, porque se pegassem esse mesmo dinheiro e usassem para viajar, viajariam a vida inteira para lugares diferentes. Mas resolvem construir essas casas, atrapalham o meio ambiente, se escravizam com aquilo. A pessoa vai frequentar aquele lugar por 5, 6, 10 anos, depois vai se deteriorando, precisa de novos investimentos.

Jornalista Ton Paulo entrevista Gerson Neto | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Pirenópolis está cheia de condomínios assim. A cidade é histórica, mas está ficando desinteressante. A cidade está cheia, mas é o turista que esse tipo de lugar atrai que não faz compras na cidade, não gasta no comércio local, não alimenta os hotéis.

Ton Paulo – Neste ano, entrevistamos o professor Kleber Formiga, da Universidade Federal de Goiás, a UFG, e que lidera o plano de drenagem de Goiânia. Ele nos disse que há um vácuo de estudos voltados especificamente para a drenagem urbana. E a impressão que se tem é que também não há muitos estudos sobre os impactados das mudanças climáticas em âmbito regional. Essa impressão está correta?

O indutor desse tipo de pesquisa precisa ser o poder público. Sabemos quais são as vulnerabilidades que estamos sofrendo com as mudanças climáticas, mas não por pesquisas locais. Olhando as pesquisas mundiais, sabemos o que vai acontecer em seguida: é um impacto grande sobre a saúde pública.

Muitas pessoas enchendo hospitais por causa de doenças relacionadas com o calor, por exemplo, cujos números ainda não aparecem de forma expressiva. É preciso, inclusive, estabelecer protocolos de classificação na entrada dessas pessoas no sistema de saúde para poder identificar, até para podermos nos preparar. Pois as coisas não vão melhorar, só vão piorar em relação ao aquecimento.

Geralmente essas doenças entram no sistema como doenças respiratórias, doenças do sistema circulatório ou como problemas do coração, ou estresse. Às vezes, entram até como problemas mentais, mas são fruto do calor extremo e das dificuldades de adaptação a essas condições climáticas.

Portanto, é preciso, sim, fazer mais pesquisas. Acredito que tenhamos um déficit local, brasileiro, de acompanhamento dos efeitos das mudanças climáticas.

O grande problema não é a questão ambiental para esses condomínios verdes. O grande problema é a questão urbana e urbanística. Esses condomínios se transformam em verdadeiras cidadelas

Ton Paulo – Há alguns, anos, a UFG divulgou um estudo que mostravam regiões de Goiânia com diferentes temperaturas simultaneamente. A região de Campinas, por exemplo, que tem menos árvores, apresentou maior temperatura em relação à região do Parque Areião. Esse fenômeno pode se intensificar?

São as chamadas ilhas de calor. Quando o sol bate em uma árvore, a árvore pega a energia solar e a transforma em oxigênio, faz a fotossíntese. Quando o sol bate em um prédio de concreto, por exemplo, esse concreto esquenta e armazena o calor, e vai soltando.

Prédios funcionam como elementos acumuladores de calor. Demoram a esfriar, como um forno demora a esfriar depois de desligado. Especialmente os prédios que usam vidros espelhados, eles acumulam menos calor no concreto, mas o duplicam, pois projetam esse calor para baixo. Logo, uma casa que está embaixo sofre o sol de dois lados.

Por isso o controle da ocupação do solo em relação às mudanças climáticas é essencial. Temos a sensação de uma liberdade muito grande em relação às movimentações do mercado nesse sentido. Quando a Prefeitura não autoriza, eles vão lá à Câmara Municipal e passam seus empreendimentos de lá. Não estão nem aí. É poder econômico governando.

Luan Monteiro – Como o senhor avalia o resultado da última atualização do Plano Diretor de Goiânia?

O Plano Diretor tem alguns detalhes muito problemáticos, muito ruins. Como não considerar as áreas de várzea, e considerar apenas as margens para a delimitação das APPs. Se você considera a partir da margem e não do limite da várzea, você acaba ocupando a área que um dia vai ser alagada, porque é a área onde o rio vai estar acostumado a chegar.

Nós conseguimos barrar a ocupação das APPs no Plano Diretor no debate, mas foi possivelmente a única vitória que tivemos. O Plano Diretor acaba adensando demais algumas áreas. E isso não veio da Prefeitura, veio da Câmara Municipal. A Câmara alterou muito o Plano Diretor, ela o refez, na verdade.

Nos mapas de adensamento ela mexeu muito, e mexeu de forma irresponsável, sem nenhum conhecimento técnico para fazer isso. Simplesmente para dar mais lucro para algumas pessoas da cidade. Isso foi horrível.

Luan Monteiro – O senhor acha que o projeto Centraliza pode trazer de novo as pessoas para o Centro, reocupá-lo?

O Centraliza é um projeto que, assim como o Plano Diretor, tem um coração bom, mas o ‘diabo mora nos detalhes’. É importante fazer um projeto de revalorização do centro, sim. O limite está em transformar essa revalorização em uma reurbanização.

Alguns detalhes dentro do projeto Centraliza geram muita preocupação. Por exemplo, ele tem um instrumento que incentiva a fazer estacionamentos. Esse projeto nasceu dentro do mercado imobiliário, não nasceu na Prefeitura. Nasceu dentro do mercado imobiliário em diálogo com o secretário de Finanças. Não foi nem com o secretário de Planejamento da Prefeitura, na época.

Com isso, vamos perdendo toda a arquitetura, o patrimônio e a beleza que nosso Centro tem de peculiar, de ser um local de ocupação realizada nas décadas de 40, 50, 60, e que tem uma arquitetura com personalidade própria daquela época. Estamos incentivando que as casas sejam demolidas, primeiro para fazer estacionamento, mas assim que a pessoa puder, vai transformar e um prédio comum. Porque, hoje em dia, o que dá mais lucro na ocupação mais intensiva do terreno é fazer prédios.

Gerson Neto, ambientalista | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ton Paulo – Não é possível falar de planejamento urbano sem falar em trânsito. E o de Goiânia está travado, caótico. O senhor acha que é um problema que tende a piorar? Qual a solução?

O trânsito é parte da dinâmica da cidade. Não é uma resposta simples. Uma das coisas que já foram feitas, não tanto com planejamento, foi a instituição do home office, que diminui a necessidade de deslocamentos. É incrível o quanto o impacto dessa iniciativa é grande.

O home office aumenta a carga de trabalho das pessoas e reduz os deslocamentos. São Paulo, por exemplo, já apontou que, pela primeira vez, uma queda no uso do transporte coletivo e o diagnóstico é que isso se deve ao home office. Mas São Paulo é diferente porque o metrô qualifica muito o transporte coletivo.

Em Goiânia, temos um transporte coletivo extremamente desconfortável. Mesmo que ele esteja funcionando melhor, com ônibus novos agora, ainda a população tem a percepção de que é melhor usar o transporte individual. Temos essa explosão de motocicletas, e as pessoas estão usando mais o carro, porque a maior parte não confia mais no transporte coletivo.

E também por causa da dinâmica nova das cidades. As pessoas se deslocam de forma mais complexa hoje em dia, não é só pegar um ônibus, ir, pegar outro e voltar. As dinâmicas são diferentes.

A cidade está grande demais. Uma cidade como Goiânia, que tem um milhão e meio de habitantes, com a estrutura viária que ela tem, com esse tanto de habitantes, não tem viabilidade de trânsito. E o que está projetado para Goiânia é crescer mais. Estamos chegando num ponto de não ter resposta, um problema sem solução.

Uma solução para o futuro seria uma malha metroviária. Mas isso está ainda distante da efetivação. Mesmo porque, Goiânia, com uma milhão e meio de habitantes, deveria ter pelo menos 10 linhas de metrô.

O BRT levou 10 anos para ficar pronto, e mesmo assim as pessoas não confiam nele, porque você não vê o uso massivo dele.

Portanto, estamos chegando em um ponto de crescimento da cidade de forma desordenada. E as cidades pequenas estão perdendo população para as médias, e as médias perdendo para as grandes. E as grandes ficando gigantescas. Precisávamos de uma ocupação um pouco mais inteligente do território.

O Plano Diretor acaba adensando demais algumas áreas. E isso não veio da Prefeitura, veio da Câmara Municipal

As cidades menores precisavam ter oportunidade de se industrializar, de ter e gerar empregos, construir suas urbanidades, ao invés de acumularmos tudo em cidades como Goiânia, Aparecida e Anápolis. Pois essas cidades ficam essas cidades ingovernáveis depois. Você não consegue e não sabe como lidar com o trânsito, como lidar com questões ambientais, com violência, sistema de saúde.

E pra finalizar, voltando à questão ambiental, as mudanças climáticas viraram a pauta única do movimento ambientalista, por uma série de razões. Não é só porque ela é uma emergência que nos ameaça para amanhã, mas porque todos os outros temas estão ligados a ela.

Mudanças climáticas acabam transformando o meio ambiente no grande tema deste momento. E a necessidade de reflorestamento, que é fixação de carbono, e outras pautas passam pelo tema das mudanças climáticas.

Estamos esperando as coisas mudarem muito severamente dentro dos próximos 10 anos. Não estou falando dos próximos 50 anos, não. É na próxima geração. Essa nossa geração é a última capaz de salvar o planeta, e a primeira que vai conseguir, simplesmente com as suas atividades, destruir a possibilidade de vida em muitos ambientes do planeta.

Aqui onde nós estamos, em Goiânia, essa região do Cerrado, no centro do país, é uma das mais vulneráveis. Quando aquecer aqui, vai aquecer mais. E, possivelmente, serão as primeiras regiões a serem desertificadas, onde não terá mais agronegócio que consiga plantar, não terá mais possibilidade de vida nem nas cidades, porque não terá água.

Vemos um futuro complicado. É preciso que percebamos isso e que a humanidade, de uma forma geral, pare de brincar com o problema como se fosse uma criança brincando com uma faca. A coisa não vai ser fácil. E quanto antes adaptarmos as cidades, reflorestarmos as nascentes de rio, protegermos essas ocupações, especialmente, de cursos d’água, conseguiremos ter mais resiliência, mais capacidade de suportar esse aquecimento por mais tempo.

Vamos conseguir uma prorrogação na capacidade de sobreviver nesse território. Mas isso não é para os nossos filhos. Isso é para nós.