Construção e serviços lideram crescimento de empregos para trabalhadores com 50+ em Goiás
31 outubro 2025 às 19h04

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Mesmo em um cenário de retração no mercado formal para profissionais mais velhos, dois setores se destacam em Goiás no acumulado de janeiro a setembro de 2025: Construção Civil e Serviços, segundo números do Instituto Mauro Borges.
Entre os trabalhadores de 50 a 64 anos, a Construção registrou saldo positivo de +1.094 vagas, enquanto os Serviços somaram +956 postos. Já para aqueles com 65 anos ou mais, apesar das perdas generalizadas, esses setores ainda apresentam o menor impacto negativo.
No total, considerando todos os trabalhadores com 50 anos ou mais, apenas Construção (+1.045) e Serviços (+387) ampliaram o número de vínculos formais, enquanto Indústria, Agropecuária e Comércio registraram queda significativa.

Segundo o superintendente de Estudos e Avaliação do IMB, Paulo Matos, o bom desempenho reflete uma mudança gradual de mentalidade no mercado de trabalho. “Existe uma ideia de que envelhecer significa perder produtividade. Mas estudos mostram que isso não é verdade. O envelhecimento não implica, necessariamente, em perda de capacidade produtiva”, explica.
Apesar disso, o superintendente ressalta que ainda há barreiras de contratação em alguns setores. Ele cita uma pesquisa internacional que avaliou mais de 40 mil candidaturas, na qual candidatos com mais de 50 anos perdiam oportunidades assim que sua idade era revelada.
“Alguns processos seletivos ainda são desenhados de forma a dificultar o acesso das pessoas mais velhas, mesmo que de maneira não intencional. São barreiras que precisam ser superadas”, pontua. Em relação à diferença entre os trabalhadores de 50 a 64 anos e os de 65 anos ou mais, Paulo Matos observa que o comportamento no mercado de trabalho muda.
“Os que já estão na faixa dos 65 anos estão mais próximos da aposentadoria. Muitos optam por se retirar do mercado por uma decisão pessoal, por quererem aproveitar esse novo momento da vida. Já entre os de 50 a 64 anos, há mais disposição em continuar atuando”, afirma.
Ele ressalta que, para o grupo acima dos 65, há uma combinação de fatores: “Existe, sim, alguma barreira de contratação, mas há também a opção individual de não querer mais se aventurar tanto no mercado. É o que a gente chama, no futebol, de ‘pendurar a chuteira’.”
Matos enfatiza, no entanto, que o mercado goiano tem condições de se adaptar bem ao envelhecimento da força de trabalho. “O Estado de Goiás vive uma fase de crescimento econômico vigoroso. À medida que as empresas percebem que essas pessoas continuam entregando resultados e agregando valor, elas passam a enxergar esse público com outros olhos”, destaca.
O superintendente também lembra que os trabalhadores mais velhos tendem a apresentar menor rotatividade, o que reduz custos e aumenta a estabilidade nas empresas. “Enquanto os mais jovens às vezes passam dois meses em um emprego e saem, os mais maduros têm mais compromisso, respeitam horários e se alinham mais às demandas da empresa. Isso é um ativo valioso”, avalia.
Além disso, ele reforça que a experiência acumulada é uma vantagem competitiva. “Esses profissionais têm habilidades e intuições que só se adquirem com o tempo. Eles lidam melhor com desafios e demonstram mais estabilidade emocional. No fim das contas, isso se traduz em produtividade e em resultados consistentes para as empresas”, conclui.
O que diz a CDL
A escassez de mão de obra e a busca por maior comprometimento têm levado empresas de Goiânia a redescobrirem o valor dos profissionais com mais de 50 anos. É o que afirma a superintendente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL), Hélia Peixoto, em entrevista ao Jornal Opção.
Segundo ela, a chamada economia prateada vem ganhando espaço no comércio e nos serviços da capital, impulsionando uma mudança cultural nas contratações. “A gente tem evidenciado esse crescimento nos últimos tempos, principalmente impulsionado pela escassez de pessoas no mercado de trabalho”, observa Hélia.
“As empresas estão com muitas vagas abertas e, na maioria das vezes, não conseguem candidatos para suprir essas vagas. Então acabam buscando esses profissionais que têm mais experiência, conhecimento e estabilidade.”
Além da experiência acumulada, a executiva destaca que a presença de trabalhadores 50+ contribui para a diversidade e o equilíbrio nas equipes. “A etariedade traz essa experiência e também um comprometimento que está cada vez mais raro no mercado. A estabilidade é um ponto importante, assim como a sabedoria e a flexibilidade”, explica.
Segundo Hélia, a convivência entre gerações dentro das empresas tem se mostrado benéfica. “Esse perfil mais experiente traz sabedoria e equilíbrio para a turma mais jovem. Trabalhar a multiplicidade de gerações é fundamental para que o negócio tenha perenidade e sustentabilidade no crescimento”, afirma.
Quebra de preconceitos
A superintendente reconhece que o preconceito etário, o chamado etarismo, ainda existe, mas acredita que está sendo superado. “Ele tem sido rompido dia a dia, muito impulsionado pela realidade do mercado. Antigamente, existia essa ideia de que o mercado de trabalho ia só até os 40 anos. Hoje isso já não existe mais. Quem está com 40 está super empregável, e os 50+ também”, defende.
Por outro lado, Hélia aponta que há uma transformação significativa no comportamento das gerações mais jovens, especialmente após a pandemia.
“Os jovens entenderam novas formas de se sustentar e perceberam que não precisam estar presos oito horas por dia em uma empresa. Eles buscam qualidade de vida e bem-estar, e as empresas precisam compreender isso para criar ambientes mais atrativos”, analisa.
Para ela, a falta de jovens em determinados setores não chega a ser motivo de alarme, mas exige reflexão. “É um motivo para entendermos o que está gerando essa mudança. As empresas precisam se adaptar a esse novo perfil comportamental, porque o equilíbrio entre as gerações é o que garante o futuro das organizações”, conclui.
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