A dentista Hellen Kacia Matias da Silva, de 45 anos, que foi presa nesta terça-feira, 30, por provocar ferimentos graves no rosto de ao menos 10 pacientes devido a complicações de procedimentos estéticos mal-sucedidos, realizava os atendimentos há pelo menos quatro anos, segundo vítimas. A profissional atendia em Goiânia e São Paulo, onde também ministrava cursos.

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A empresária Aline Cristina de Oliveira foi uma das vítimas da dentista investigada por exercício ilegal da medicina. Ao Jornal Opção, ela informou que chegou até Helen por meio das redes sociais, onde a mulher costuma divulgar imagens de procedimentos e cursos. Convencida pelas postagens, ela pagou cerca de R$ 7 mil para realizar uma alectomia (diminuir as abas nasais) em 2020.

Durante o procedimento, que durou cinco horas, Hellen transformou a cirurgia em algo mais delicado: a alectomia (procedimento para diminuir o nariz). Aline conta que, devido ao trabalho da dentista, teve o nariz deformado, onde surgiu uma queloide (crescimento anormal de tecido cicatricial ) que dificultou a sua respiração.

“Foi muito traumático. Ela injetava muita anestesia para seguir com o procedimento e, com isso, senti muita arritmia cardíaca. Sempre que lembro, me traz o mesmo sentimento de angústia e desamparo. Depois do procedimento, quando ia falar sobre a deformidade, as mensagens dela eram sempre ‘calma, ainda tem muita coisa para melhorar aí’”, explicou.

A empresária conta que, por orientação de Hellen, precisou esperar por um ano para retornar à clínica sob o pretexto de que a cirurgia ainda estava em tempo de recuperação e que a deformidade era “normal”. No ano seguinte, em 2021, Aline voltou ao local, onde foi convidada a refazer a cirurgia para consertar o erro do primeiro procedimento.

Aline, no entanto, se negou a ser submetida a uma nova cirurgia pela dentista, optando por consertar o nariz com um profissional qualificado. A empresária diz que sofreu tanto de forma física como psicológica devido à deformidade. 

“Sempre que lembrava eu chorava muito por imaginar que seria irreversível. Fui a vários profissionais e eles alegavam que, por se tratar de uma região muito delicada, teria que fazer enxerto e talvez seria mais de duas cirurgias para ficar mais ou menos bom. Hoje posso ficar mais tranquila por ela estar presa e, assim, não fazer mais vítimas”, concluiu.

Aline em conversa com Hellen | Foto: Arquivo pessoal

“Desesperada”

Outros pacientes atendidos pela dentista relataram, por meio de mensagens, os resultados desastrosos dos procedimentos estéticos feitos na clínica da investigada, em Goiânia. Mensagens obtidas pela PC revelam a angústia das vítimas. 

Em um dos textos, uma cliente disse que estava “desesperada” e com “os olhos irritados”. Outro paciente denunciou ter ficado com o nariz “aleijado” e “um buraco com queloide”. Nas conversas, os dentistas da clínica da investigada chegaram a chamar os pacientes para fazer um “reparo”, assim como ocorreu com Aline.

Prisão

A PC, por meio da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon), cumpriu mandado de prisão preventiva contra Hellen nesta terça-feira, 30, por fazer procedimentos estéticos que resultaram em deformações nos rostos de pacientes.

As equipes também cumpriram quatro mandados de busca e apreensão, nos municípios de Goiânia e Santa Bárbara de Goiás (GO), em endereços ligados à investigada. A clínica coordenada pela profissional, no Setor Oeste de Goiânia, tornou-se alvo de inquérito aberto para apurar os crimes de exercício ilegal da profissão e execução de serviço de alta periculosidade.

A investigação revela que Hellen e outros três profissionais ficavam responsáveis pelos procedimentos, expressamente vedados pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO). As cirurgias plásticas eram oferecidas nas mídias sociais dos odontólogos por valores abaixo dos praticados no mercado e alcançavam grande número de pessoas.