Henrique Meirelles é “ex” de dois dos últimos quatro ocupantes da Presidência da República: foi presidente do Banco Central de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2003 a 2010, e ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB), de 2016 a 2018. E, digamos, um “ex” que traz boas recordações dos tempos de outrora.

Na semana passada, junto a mais outros sete ex-presidenciáveis, ele anunciou seu apoio a Lula para o pleito que ocorre no próximo domingo, 2, e que pode, segundo as pesquisas, ser decidido sem segundo turno, a favor do petista.

Foi nesse contexto que o também ex-presidente mundial do BankBoston – e que serviu ao governo João Doria (PSDB) em São Paulo de 2019 até o início deste ano – foi o entrevistado do tradicional programa de sabatina Roda Viva, na TV Cultura.

O resumo do enredo veio logo na primeira pergunta, feita por Vera Magalhães, a anfitriã, em que Meirelles se mostrou aberto a convite de Lula para um futuro governo. O petista o chamou para uma conversa, segundo ele, ainda não agendada. “Havendo convite, vou analisar.” Entretanto, ressaltou que não foi nesse intuito que lhe prestou apoio na mesa com outros políticos. “Não gasto tempo tomando decisões sobre hipóteses. Não fui [à reunião com ex-presidenciáveis] para negociar um compromisso, mas para manifestar minha posição, baseada nos fatos concretos da gestão em que trabalhamos juntos”, que, na ocasião da reunião com os demais ex-presidenciáveis, fez o depoimento mais destacado, justamente por afetar positivamente o mercado em relação ao candidato do PT.

Meirelles relembrou como se deu o convite para assumir um posto na gestão petista em 2003, caso Lula ganhasse: “Fui procurado em julho de 2002 e era candidato a deputado federal pelo PSDB [em Goiás]. Naquele momento, disseram que eu teria de abandonar a candidatura, mas decidi seguir em frente. Depois da eleição, voltamos a conversar.”

Foi se apoiando nos dados – “trabalho em cima de fatos”, costuma dizer e repetir – que o ex-ministro decidiu-se pelo apoio ao petista. “Lula conduziu um governo com responsabilidade fiscal e tenho de lembrar esse fato”, declarou aos jornalistas da sabatina, que, no transcorrer do programa, se mostraram sempre preocupados com um eventual populismo econômico de Lula.

Idealizador do teto de gastos, Henrique Meirelles admitiu que agora não dá para voltar a cumprir o teto, já “flexibilizado” por manobras legislativas em meio à pandemia e suas consequências. “Como está o orçamento hoje, não há espaço para gastos sociais (…) Temos um problema de curto prazo grave, que é o desemprego, que necessita do auxílio ou políticas sociais; e outro de longo prazo, que é a desigualdade”, relatou. Para assentar as coisas, Meirelles sustenta que poderia ser criado mais um “ano excepcional” em relação ao teto de gastos, mas não mais que isso. “Um ano não são dois nem três”, reforçou. E como superar o “baixo teto” de gastos? Com uma reforma administrativa bem feita, para reduzir o peso da máquina, disse o economista.

Taxação de grandes fortunas
Em uma fala que poderia surpreender alguns, ele disse à jornalista Thais Carrança, da BBC News, que aprovaria a taxação de grandes fortunas, em uma reforma tributária. Mais do que isso, seria um instrumento “válido” e “muito necessário”, embora tendo prudência. “É uma alternativa válida. De fato, é necessário fazer algo desse tipo. E fazendo tudo isso com uma análise muito clara de todas as consequências. Não é fazer algo simplesmente por razão ideológica. Temos que tomar cuidado para não espantar investimentos globais”, concluiu.