Uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) indicou recentemente que apenas 22% dos entrevistados consideram que escolas militares garantem mercado de trabalho para os alunos. Durante o período de 2019 a 2022, a pesquisadora Jocelane Rabelo examinou as opiniões de 112 estudantes e professores de uma escola em Goiânia que passou pelo processo de militarização para buscar compreender as perspectivas de estudantes e professores em relação à militarização das escolas.

De acordo com os resultados, pouco mais da metade (55%) dos 97 estudantes entrevistados associaram a militarização a melhorias na infraestrutura escolar e na disciplina. No entanto, apenas 22% acreditaram que isso teria impacto positivo no futuro, tanto no mercado de trabalho quanto no desempenho em vestibulares.

“Meu intuito com a pesquisa é mostrar que existem diferentes modelos de escolas, e que esse modelo [a militarização] tem ganhado cada vez mais espaço. É importante entender de onde ele vem, para que possamos ser capazes de fazer escolhas”, relata a pesquisadora. Nesse sentido, segundo ela, o enfoque deve ser direcionado a quem cria tais projetos no legislativo e não necessariamente aos militares. Para Jocelane, atentar-se a esse detalhe é importante nas decisões do eleitor.

No que diz respeito aos professores, 10 dos 15 entrevistados reconheceram alguns benefícios em termos de disciplina e infraestrutura, especialmente devido ao aumento de recursos financeiros. Entretanto, apesar da associação entre o modelo militarizado e a disciplina, o estudo constatou que os professores não enxergaram a militarização como uma melhoria na qualidade da educação.

O estudo foi conduzido pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da UFG.

No decorrer da pesquisa, Jocelane constatou que muitos professores ficam insatisfeitos com esse regime, pois a militarização acontece sem a sua participação. “É uma política pública aplicada sem o consentimento deles. Já entre os estudantes, ela observou que aqueles que já estavam em seus anos finais discordavam da militarização devido à padronização que ela gera. O oposto foi observado com alunos em anos iniciais, quando a maioria não tinha uma opinião formada, reproduzindo uma visão romantizada e induzida pelos pais.

Ao final da pesquisa, a pesquisadora elaborou um e-book sobre a militarização das escolas. Segundo ela, o objetivo do material informativo é mostrar o passo a passo de como acontece a militarização de uma escola. Ela acrescenta ainda que nenhum dos deputados que já apresentaram projetos de militarização na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) aceitaram participar da pesquisa.

Conclusões da pesquisa

Embora os projetos de militarização tenham surgido dentro da polícia, ao atender a uma demanda de escola para filhos de militares, a pesquisadora afirma que atualmente a expansão desse modelo de escola é de responsabilidade dos Poderes Legislativo e Executivo, que apresentam leis que transformam escola públicas em colégios militarizados.

Ainda de acordo com ela, a própria polícia tem sido colocada à margem desse processo à medida que não escolhem as escolas ou o momento da militarização. Prova disso é que existem projetos de militarização vetados na Assembleia Legislativa devido a parecer desfavorável à militarização pela própria Secretaria de Segurança Pública de Goiás.