Pesquisas são o retrato do momento e, agora, não há uma campanha acirrada. Mas levantamento do Instituto Fortiori sugere que o tucano-chefe pode absorver o discurso da renovação e manter-se no poder

“Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim.” – Ortega y Gasset

Marconi Perillo, governador de Goiás: há pelo menos três eleições que o tucano faz o eleitor acreditar que não compensa trocá-lo por incógnitas administrativas | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Marconi Perillo, governador de Goiás: há pelo menos três eleições que o tucano faz o eleitor acreditar que não compensa trocá-lo por incógnitas administrativas | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O Jornal Opção publica nesta edição uma pesquisa de intenção de voto do Instituto Fortiori, um dos mais categorizados do País, sobre a eleição para o governo de Goiás — que será realizada daqui a seis meses. Pesquisas quantitativas obviamente refletem a circunstância, mas vão além, especialmente quando os dados são comparados com levantamentos anteriores — e até de outras eleições. O fato é que pesquisas dizem, às vezes, mais do que as interpretações — embora estas sejam vitais para iluminar os números, para conectá-los e relacioná-los ao contexto político.

Políticos que, chateados com seus índices, “brigam” com os resultados das pesquisas, deixando de aproveitar o que têm de útil para modificar seus projetos e trajetórias, costumam perder eleições. Extrair o “sumo” dos dados, mesmo quando desfavoráveis, é prova de argúcia política. Veja-se o caso do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Há um ano, pesquisas indicavam que sua rejeição no Estado chegava a 57% (em Goiânia, superava 60%). No lugar de se dizer “perseguido” e sugerir que a pesquisa era “falsa” ou “falha”, o tucano-chefe decidiu mudar sua agenda político-administrativa.

Conhecido por ser um político nato, da estirpe dos políticos profissionais apontados pelo sociólogo alemão Max Weber, o tucano, aconselhado por especialistas e de olho nos números crus e objetivos das pesquisas, passou a cuidar mais da gestão, como queria a sociedade, e deixou, por assim dizer, as oposições “falando” sozinhas sobre a crise do Estado, como buracos em rodovias. O que parecia uma ausência era, na verdade, uma ausência-presença. Noutras palavras, ao “trocar” a política pela gestão — e “trocar” está entre aspas porque nunca se deixa de fazer política, o que muda é a forma —, Marconi sugeriu, sem palavras mas com atos, que deixava o debate “infrutífero” às oposições e passava a trabalhar, de maneira exclusiva, para reorganizar o Estado, contribuindo para seu crescimento econômico e desenvolvimento. Amadores disfarçados de profissionais políticos chegaram a dizer que o “velho” Marconi havia soçobrado. Olhavam Marconi, viam a árvore (o presente inclemente), mas não a floresta (o futuro, que, como se sabe, é construído no presente).

Aos poucos, porém de maneira sustentada, porque baseada em fatos verdadeiros — sua administração deslanchava (rodovias, por exemplo, estão sendo amplamente recuperadas e. até, ampliadas) —, a gestão de Marconi começou a ser mais bem avaliada. Há o que verificar e, portanto, o que discutir e aprovar ou não. O político “renascia” por intermédio do salto qualitativo da gestão do Estado. Não deixa de curioso que as oposições não perceberam de imediato o que estava ocorrendo — exceto quando viram as pesquisas — nos subterrâneos. Filósofos dizem que o bom senso é uma virtude distribuída entre quase todos os homens. Não é apenas o homem de cultura que tem bom senso. O homem comum, se dotado de bom senso, avalia o que está ocorrendo, não intenções. Se percebe que um gestor está trabalhando, se pode ver resultados, passa a ignorar as críticas, especialmente as infundadas ou destemperadas. Um exemplo: setores das oposições, às vezes ancorados em grupos corporativos, dizem que as organizações sociais pioraram o atendimento na área de saúde. Pesquisas sugerem outra realidade: o grau de satisfação com o atendimento, em especial com a qualidade do atendimento, é alto. A crítica tradicional não reflete, portanto, o pensamento da sociedade. O novo sistema, embora não seja perfeito, melhorou a saúde pública. A pesquisa capta exatamente aquilo que o discurso ideológico ou partidário esconde ou não matiza — a realidade objetiva (redundância necessária para reforçar a ideia).

O gestor e o político

Em determinado período, havia uma contradição entre o gestor Marconi e o político Marconi. Havia uma dissociação, como se existissem dois tucanos com o nome de Marconi. Aos poucos, a realidade, detectada pelas pesquisas, foi se modificando e o gestor e o político foram se tornando, na avaliação da sociedade, um só. Pode-se dizer, grosso modo, que o gestor resgatou o político, ou melhor, está resgatando. Daí que as pesquisas de intenção de voto mostram a requalificação do político permeada pela aprovação do administrador, ou seja, daquele que faz, que tem o que apresentar. Daí a rejeição ter caído de 57% para pouco mais de 30%.

Ao examinar pesquisas, setores da oposição avaliam, às vezes, que Marconi chegou ao teto. Uma ressalva: a rigor, na sociedade democrática, todos os políticos — fala-se, claro, da regra, não da exceção — têm um teto, ou, para usar outra terminologia, um limite. A diversidade da sociedade é que explica isto — não há unanimidade extremada na democracia —, e não outra coisa. No caso específico do tucano-chefe, pode-se falar em teto? Pos­si­vel­mente, não. As oposições precisam observar (e aceitar) o que é real, e não o que é sua vontade, seu desejo.

Observe-se que os números das pesquisas (Fortiori e Serpes), quando se trata de Marconi, mostram uma mobilidade curiosa. A popularidade do tucano está em ascensão e, em decorrência, sua rejeição está caindo — o que, de cara, derruba a “teoria” do teto. Há um ano, ele tinha 28% — contra 33% de Iris. Agora, tem 37% e Iris, 32%. A alteração escapa à margem de erro.

Não dá para fazer uma avaliação precisa de pré-candidatos que estão no jogo há pouco tempo e, por isso, são escassamente conhecidos. Porém, quando se trata do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) e do ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso (PSB) talvez seja possível falar em teto. Iris estabilizou-se e, aí, é possível detectar que, a se comparar com pesquisas e resultados de outros pleitos, há uma espécie de teto — cerca de 30% das intenções de voto. Vanderlan não supera 18%, às vezes, dependendo do cenário sugerido, cai para 16% e 15%.

Júnior Friboi (PMDB) e Antônio Gomide (PT), novatos em termos de disputa estadual, são os mais difíceis de avaliar. O que pode mover seus números, por assim dizer, será a campanha, quando, se candidatos, se tornarão mais conhecidos e poderão ser avaliados pelos eleitores. A rigor, os números de Friboi, entre 15% e 16%, e de Gomide, na faixa de 9%, não são negativos. É provável que, sem Iris no páreo, Friboi supere Vanderlan e ultrapasse a marca dos 20%, aproximando-se, quem sabe, dos 30% tradicionais do PMDB.

A respeito de Iris é possível dizer que aglutina — por atrair, possivelmente, o PT para sua aliança —, mas seus números, embora relativamente elevados, não são favoráveis. É preciso insistir num ponto: os números de Iris aproximam-se dos números do PMDB em disputa anteriores — sinalizando para um teto “perigoso”. Friboi não aglutina aliados independentes — que não dependem de seus amplos recursos financeiros —, no entanto, até por representar o novo, ainda que com feição de velho, pode crescer, dependendo da campanha. Um dos problemas do empresário é que não transmite a imagem de ser um político moderno. Sua imagem é de um político de espírito arcaico, ruralizante, que não coaduna com a imagem moderna que os goianos fazem de si (fica-se com a impressão de que Friboi é uma “resposta” do passado ao presente). Escrevemos “imagem” mas, por uma questão de justiça, não se pode sugerir que o eleitor goiano já tenha formatado uma imagem precisa do empresário. As pesquisas indicam que é pouco conhecido — daí não ter uma imagem cristalizada. Sua imagem está em formação — é uma criança.

Dizia-se que a pesquisa seria a maneira de retirar Friboi do páreo, abrindo, pois, espaço para Iris. Entretanto, como seus índices estão melhorando, o que fazer? Como os dados estão sendo lançados, não se sabe o que vai ocorrer.

Renovação e estrutura

Iris Rezende, Júnior Friboi, Antônio Gomide e Vanderlan Cardoso: se querem enfrentar o governador tucano Marconi Perillo com possibilidade de vencê-lo têm de apresentar uma agenda positiva e sugerir que têm condições de ampliar a modernização de Goiás. Eles têm de se apresentar mais como “continuidade” do que como ruptura | Foto: Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Iris Rezende, Júnior Friboi, Antônio Gomide e Vanderlan Cardoso: se querem enfrentar o governador tucano Marconi Perillo com possibilidade de vencê-lo têm de apresentar uma agenda positiva e sugerir que têm condições de ampliar a modernização de Goiás. Eles têm de se apresentar mais como “continuidade” do que como ruptura | Foto: Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Há pouco tempo, o Brasil “mexeu”. As pessoas foram às ruas e protestaram, apresentando críticas acerbas aos governos e àquilo que consideram como desmandos. A má qualidade dos serviços públicos, principalmente, foi criticada de maneira inapelável. Em seguida, a sociedade recolheu-se, mas uma semente ficou plantada e está germinando. O que vai nascer, se nascer durante o período estritamente eleitoral, ainda não se sabe. Novas manifestações, recolocando as discussões anteriores e sinalizando que quase nada mudou, podem mexer no quadro eleitoral? É provável. Pesquisas qualitativas, feitas em Goiás e todo o Brasil, sugerem que, na eleição de 5 de outubro deste ano, o que pode surpreender é a renovação. Porém, mesmo o novo precisa de estrutura política e de campanha. Mesmo o novo “adorado” ou “apaixonante” não vive de brisa.

Há ao menos um paradoxo. Gomide, que simboliza mais o novo do que Friboi, dada a qualidade de sua gestão na Prefeitura de Anápolis e ao seu discurso solidamente propositivo, pode ser mais forte no segundo turno do que no primeiro. Se for para o segundo, dada a imagem de que representa a mudança, dificilmente será batido. No entanto, terá dificuldade para chegar ao segundo turno — dada a força da estrutura política do PSDB de Marconi e do PMDB de Iris e Friboi. A se avaliar pela via tradicional, os, digamos, sinais sugerem que o segundo turno se dará entre o tucano Marconi e um nome do PMDB, seja Iris, seja Friboi.

Ressalte-se que os pré-candidatos das oposições trabalham com o cenário de que uma vaga no segundo turno “é” de Marconi. Friboi (ou Iris), Vanderlan e Gomide disputarão a segunda vaga. Assim, se ficarem trocando juras de amor, para garantir apoio no segundo turno, podem assistir, de camarote, Marconi se elegendo no primeiro turno. Uma vitória no primeiro turno é sempre muito difícil, especialmente se disputarem quatro candidatos, mas não é impossível.

Gomide, para se firmar, terá de dizer que é diferente e melhor do que Friboi (ou Iris) e Vanderlan. O mesmo terão de afirmar Friboi (ou Iris) e Vanderlan. Se Marconi está consolidado no segundo turno — esclareça-se que estamos observando o quadro a partir das pesquisas atuais, portanto não se trata de um cenário fixo, rígido —, quem não está consolidado, os nomes das oposições, tem de distinguir-se, de maneira contundente, dos demais para tentar consolidar-se.

Vanderlan, ao criticar com acidez tanto o governador Marconi quanto o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), está enviando dois “recados”. Primeiro, está sugerindo que é o nome que “está” polarizando com Marconi. Segundo, está tentando atrair o interesse dos 900 mil eleitores da capital, que são decisivos e influentes. Como percebeu uma certa vulnerabilidade do prefeito petista, o líder do PSB decidiu criticá-lo, para tentar criar empatia com a sociedade. Pessoas pouco versadas nas artes complexas da política sugerem que está cometendo um erro, porque, se for para o segundo turno, poderá não obter o apoio do PT. Ora, Vanderlan sabe, por meio de pesquisa e observação do quadro político, que fundamental mesmo é ir para o segundo turno. Con­tem­porizar no primeiro turno poderá retirá-lo da disputa seguinte.

O segundo turno, sabem todos, é outra conversa. Digamos que a segunda etapa seja disputada entre Marconi e Vanderlan. O PT e o PMDB ficarão com quem? O PMDB, de cara, ficará com Van­derlan, recebendo ou não críticas no primeiro turno. O PT, depois do fricote inicial — fará dezenas de reuniões —, certamente ficará com o líder do PSB. Porque o adversário maior é o PSDB de Marconi. Porém, dependendo do quadro nacional, digamos ante uma disputa entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Campos (PSB), com Marconi apoiando a petista, como ficará o PT? Talvez neutro ou dividido.

O Jornal Opção tem insistido que, apesar das pesquisas, o quadro político está aberto — até porque ainda não há campanha e o eleitorado não está “motivado” e mal sabe quais são os candidatos. Aqueles que avaliam que a razão — e não a numerologia e outros tipos de profecia — é a bola de cristal do analista político sério sabem que eleição é decidida na campanha. E não se sabe como será a campanha e como o eleitor vai avaliar os candidatos a partir do que ouvirá e verá na televisão, nas ruas, nos comícios e lerá nos jornais. Entretanto, considerando-se as pesquisas atuais, como mostra reportagem do Jornal Opção (confira na página 10), ancorada na pesquisa do Instituto Fortiori, a possibilidade de Marconi ser reeleito no primeiro turno não é improvável. E, entre junho e outubro, o governo tucano terá ainda mais a mostrar à sociedade, como o Hospital de Urgências 2, na região Noroeste de Goiânia, mais rodovias recuperadas e, algumas, duplicadas, além de outras obras em quase todo o Estado. Noutras palavras, o capital que tende a crescer não é o das oposições, e sim o do tucano-chefe. Porém, insistamos, é preciso considerar a campanha. Ressalvando que o bom senso do eleitor leva mais em conta o que se faz e não o que se diz. Discurso mudancista, por mais belo que seja, jamais, em época alguma, substituiu obras reais, visíveis e úteis ao maior número possível de pessoas. Não será nenhuma surpresa se o tucano-chefe absorver o discurso da renovação e manter-se no poder. Há três eleições, contra a pasmaceira das oposições, que insistem na agenda negativa, sem pensar numa agenda positiva ampla e crível, que Marconi toma-lhes o discurso do novo, da modernização continuada. Com rara habilidade, afiado e afinado, Marconi faz o eleitor acreditar que não compensa trocá-lo por incógnitas administrativas. Por incrível que pareça, para ganhar de Marconi, as oposições têm de se apresentar como continuidade dele, e não como sua negativa.