Projeto de Tarcísio de Freitas é “salvar” Jair Bolsonaro ou governar o Brasil?
30 agosto 2025 às 21h00

COMPARTILHAR
Nascido no Rio de Janeiro, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) tem 50 anos, 29 anos a menos do que o presidente Lula da Silva (PT).
Engenheiro civil, com mestrado pelo prestigioso Instituto de Matemática e Estatística (IME), Tarcísio de Freitas deixou o Exército como capitão. Em seguida, trabalhou na Controladoria Geral da União (CGU) e na Câmara dos Deputados. Trabalhou no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro — capitão reformado do Exército —, foi ministro da Infraestrutura.
Enquanto Jair Bolsonaro brigava com agentes dos demais poderes, Tarcísio de Freitas operava o setor de infraestrutura do governo, com resultados positivos. Em 2022, depois de quase ter sido candidato a senador por Goiás, disputou o governo de São Paulo e foi eleito.
Agora, ante uma reeleição praticamente garantida, Tarcísio de Freitas, empurrado mais por Jair Bolsonaro do que pelo bolsonarismo — o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro o rejeita —, é cotado para a disputa presidencial.
Em São Paulo, Tarcísio de Freitas faz um governo aprovado pela população, tanto que é o favorito para a reeleição. Há problemas, claro. Um deles é a falta de segurança nas maiores cidades — muitas delas sobre o comando do Primeiro Comando da Capital.
Há momentos em que o nome é realmente justo: o PCC se tornou o primeiro comando tanto da capital quanto do Estado. O governo de Tarcísio de Freitas se tornou o Segundo Comando do Estado. Não se está sugerindo que o gestor tem envolvimento com o crime organizado, e sim que assiste, inerme, o PCC se apoderando do Estado de São Paulo.
A operação do Ministério Público e da polícia, na semana passada, só mostrou como o PCC se tornou um poder fortíssimo em São Paulo. Nem a Faria Lima escapou de seus tentáculos.
Segurança pública é o calcanhar do governo de Tarcísio de Freitas. Associado à máfia da Calábria, a rica e violenta ‘Ndrangheta, o PCC reina em todo o território brasileiro, mas com sólidas básicas em São Paulo, o Estado mais rico do país.
Por que, ao contrário do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), Tarcísio de Freitas não tem uma política sólida — na prática e não apenas no papel — de combate ao crime organizado? Porque, voltado para o setor de infraestrutura, não percebe os clamores da sociedade.

Observe-se que Ronaldo Caiado é avaliado positivamente por 88% da população de Goiás e Tarcísio de Freitas é avaliado positivamente por 66% pela população de São Paulo. A avaliação do gestor sudestino não é ruim, é claro, mas fica aquém da do gestor centro-oestino. O goiano de Anápolis tem ouvidos mais atentos aos clamores da sociedade.
“Salvar” o Brasil ou Jair Bolsonaro?
Mesmo não indo bem na área de segurança — e repetindo: o crime organizado assola o país a partir de São Paulo —, Tarcísio de Freitas pode ser candidato a presidente. Não quer, de acordo com aliados de Gilberto “José de Paris” Kassab, o eminência parda do governador. Mas pode acabar sendo candidato.
Mas qual é o projeto de Tarcísio de Freitas? Até agora, não se sabe. Pelo visto, por aquilo que se lê nos jornais, o objetivo do governador é, antes de operar para melhorar o país para todos — reduzindo, por exemplo, a desigualdade de renda — “salvar” a pele política de seu padrinho, Jair Bolsonaro.
Mas deve um político disputar a Presidência da República com a intenção de “salvar” um político — aliado e amigo — da prisão?
O projeto de Tarcísio de Freitas não é o Brasil, quer dizer, cuidar do povo brasileiro?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirma que Tarcísio de Freitas será o candidato a presidente dos super-ricos. Se for, é um direito dele. Porém, o problema é mais grave. No momento, o governador de São Paulo está sendo apresentado — até se apresentando — como o candidato, única e exclusivamente, de Jair Bolsonaro.
Um político, sobretudo sério como Tarcísio de Freitas, não pode ser candidato a presidente da República com a missão de “retirar” alguém — no caso, Jair Bolsonaro — da cadeia. A rigor, se eleito e indultar o ex-presidente, estará cometendo um crime, se não contra as leis, ao menos contra a República e a democracia. O legítimo estará sendo solapado pelo legal.
O presidente da República tem a missão e o dever de trabalhar pelo desenvolvimento e pelo crescimento da economia do país. Tem de trabalhar para todos, independentemente de suas ideologias partidárias.
Há a vantagem de que Tarcísio de Freitas é a “melhor” faceta do bolsonarismo. A rigor, talvez nem seja bolsonarista, ou, quiçá, seja um bolsonarista de ocasião. O gestor de São Paulo tem mais a cara do Centrão do que da extrema direita. A rigor, lembra tanto Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quanto Fernando Haddad (PT).
Se eleito presidente, Tarcísio de Freitas poderá se distanciar do bolsonarismo e até de seu mestre titereiro, Jair Bolsonaro? O realismo da política, com os problemas graves do país, pode levá-lo a um ligeiro afastamento.
Entretanto, o bolsonarismo, com Jair Bolsonaro na linha de frente, está preparando uma “armadilha” para o próximo presidente. Porque pretende eleger vários senadores — para ter maioria — e deputados federais.
O bolsonarismo planeja ter o controle do Congresso para “submeter” o próximo presidente, qualquer que seja ele — Lula da Silva, Tarcísio de Freitas ou Ronaldo Caiado.
A vantagem de Tarcísio de Freitas é sua moderação. Por isso tanto Eduardo Bolsonaro quanto Carlos Bolsonaro — politicamente, aloprados — são seus críticos frequentes. Jair Bolsonaro o aprecia por considerá-lo “submisso”. Mas, uma vez presidente, continuará o mesmo? Terá tempo para se comportar como “babá” político de um ex-presidente frustrado?
O fato é que, como pré-candidato a presidente, Tarcísio de Freitas permanece como, por assim dizer, candidato ideal à reeleição de São Paulo. Até para não ficar sobre pressão, em tempo integral, do bolsonarismo e de Jair Bolsonaro.
Uma vez presidente, Tarcísio de Freitas confrontará o Supremo Tribunal Federal? Como ficará seu nome na história se fizer isto?
Caiado não recua e persiste pré-candidato
O Brasil não vive um grande momento político. É uma pena que políticos qualificados — como Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema (Novo) e Ratinho Júnior (PSD) — tenham de cultivar um Jair Bolsonaro, um personagem menor da história brasileira, um futuro rodapé da estirpe dos generais Eurico Dutra e João Figueiredo.
Mas o fato é que, sendo realista, não há — no momento — saída. Porque, sem o apoio do ex-presidente, os pré-candidatos não levam o voto do bolsonarismo.
Mas, com vários candidatos a presidente, como sugere Ronaldo Caiado, como fica o quadro?
Numa campanha esclarecida, há a possibilidade de um candidato pragmático como Ronaldo Caiado — que faz um governo de excelência em Goiás (resolveu problemas candentes na segurança, na saúde e na educação) — ser eleito? Há.
Mesmo não tendo o apoio direto de Jair Bolsonaro, que tende a apoiar Tarcísio de Freitas — se este realmente for candidato —, Ronaldo Caiado pode conquistar uma fatia relevante do eleitorado bolsonarista, da direita não bolsonarista e do centro e ser eleito presidente.
Porém, por realismo, não pode sair dos quadros do bolsonarismo, quer dizer, precisa obter a simpatia de Jair Bolsonaro. Há a possibilidade de ao menos dois filhos do ex-presidente não apoiarem Tarcísio de Freitas e, por isso, um político da direita mais tradicional, ideologicamente mais sólido, como Ronaldo Caiado, poderá ampliar seu raio de ação entre as direitas e, claro, o centro que rejeita a esquerda.
Não há dúvida de que Romeu Zema e Ratinho Júnior têm perfis de gestores eficientes. Mas, ao contrário de Ronaldo Caiado, não têm ligação histórica com a direita ou direitas.
O mineiro Romeu Zema está tentando radicalizar-se, com críticas ao presidente Lula da Silva, mas parece ter chegado tarde neste campo. É um retardatário na direita.
Ratinho Júnior é visto como muito “light”. Por isso, acabará sendo candidato a senador no Paraná. Assim como Romeu Zema deve ser candidato a senador em Minas Gerais.
Quem realmente tem coragem para ir até o fim como candidato a presidente é Ronaldo Caiado. Ante um hesitante Tarcísio de Freitas, o goiano persiste firme, não arreda pé e sustenta que será candidato a presidente. Quem sabe com o apoio do governador de São Paulo. Os dois se dão bem e o goiano não tem resistência no bolsonarismo.
