Pesquisa sugere que eleitor está se cansando de Dilma Rousseff mas não leva Aécio Neves e Eduardo Campos a sério
18 abril 2014 às 13h15
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Pesquisa do Ibope indica que a presidente da República permanece caindo e que os índices de Lula não são muito melhores, mas o eleitor não aposta em tucano e em socialista como alternativas
As eleições deste ano serão realizadas daqui a cinco meses e quinze dias — em 5 de outubro. Parece pouco tempo — e é. Mas, para o eleitor, é muito tempo. O eleitor não é alienado e, por isso, está acompanhando as movimentações dos políticos. Mas o assunto eleição certamente não está entre seus principais interesses. É possível que o Campeonato Brasileiro, a luta de Glover Teixeira contra Jon Jones, as novas séries televisuais, os detalhes e as cores das roupas da moda da estação, a Copa do Mundo de Futebol, a contusão do jogador Neymar e a inflação ascendente sejam assuntos de maior interesse das pessoas. A vida é assim mesmo: cada coisa tem seu tempo apropriado. Políticos, jornalistas, marqueteiros e pesquisadores logicamente estão mais envolvidos com o tema eleições. Não podia ser diferente.
Se os eleitores estão com as atenções focadas mais em outros assuntos, o que dizer das pesquisas de intenção de voto? Desde que não sejam manipuladas — e, como há vários institutos, a maioria não tem coragem de apresentar dados irreais, pois corre-se o risco de desmoralização pública —, são valiosas. Além de aferir o quadro do momento — a circunstância —, contribui, inclusive, para divulgar os nomes dos candidatos. Porque chamam a atenção do eleitor, mesmo do desatento. Pode-se dizer, até, que as pesquisas contribuem para “politizar” o debate, ao antecipar o interesse do eleitor pelos nomes e, mesmo, ideias dos postulantes. Mas há um aspecto que deve ser levado em consideração.
As pesquisas que são feitas no momento, apesar de sua importância, por registrar as movimentações e nuances do quadro, se refletem a pré-campanha, não podem ser consideradas como ilustrativas do quadro efetivamente eleitoral. As campanhas, quando o eleitor começa de fato a prestar atenção nos candidatos e nas suas propostas, são o que, de fato, definem o quadro. Políticos experimentados sabem que as pesquisas atuais são apenas preliminares e que as campanhas, com suas formulações e conflitos, acabam por, eventualmente, modificar os números das pesquisas.
No momento, a presidente Dilma Rousseff, do PT, é a mais conhecida dos pré-candidatos a presidente (Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, são bem menos conhecidos). Talvez isto explique sua avaliação superior à dos adversários. O eleitor sabe qual é o projeto da presidente petista, porque está em execução, mas não sabe quais são os projetos do tucano e do socialista. Por isso, precisa-se da campanha, para que Aécio Neves e Eduardo Campos possam confrontar suas ideias e projetos com os da pupila de Lula da Silva, e o eleitor possa, ao compará-los, fazer suas avaliações. No momento, a rigor, não há mesmo o que avaliar, ou há pouco a avaliar.
Na semana passada, o Ibope divulgou sua nova pesquisa. A presidente Dilma Rousseff permanece em primeiro lugar, com 37% das intenções de voto — em março, tinha 40% —, mas ainda ganharia no primeiro turno. Porque Aécio Neves — com 14% —, Eduardo Campos — com módicos 6% — e os demais pré-candidatos têm, somados, menos intenções de voto do que a petista.
No momento, mesmo relativamente desatento, o que o eleitor está dizendo, ao ser estimulado pelos institutos de pesquisa? Que não está satisfeito com Dilma Rousseff, mas ainda não avalia Aécio Neves e Eduardo Campos como alternativas efetivas. O mineiro e o pernambucano são vistos, aparentemente, como espécies de sombras, não distinguíveis de maneira translúcida pelo eleitor. Entre o certo e o duvidoso — há uma crise no Brasil, inclusive moral (os casos Petrobrás-Pesadena e André Vargas-doleiro, que envolvem petistas e o governo do PT, e a grave corrupção no metrô de São Paulo, que atinge o tucanato paulistano) —, o eleitor está ficando, por enquanto, com o primeiro, com Dilma Rousseff. Há corrupção no governo, há equívocos administrativos graves, como o que está ocorrendo na Petrobrás, e o PT permanece “contaminado” — como, de resto, o PSDB (não há nenhuma santidade no tucanato paulista e, claro, no mineiro) —, porém a presidente Dilma Rousseff segue com a imagem limpa. Não há registro de que tenha se envolvido em qualquer processo de corrupção. Fica-se com a impressão — as pesquisas deveriam explorar isto de maneira mais adequada — de que os índices da petista são razoáveis porque sua imagem cristalizada não é a de política, ao menos não a de uma política tradicional, e sim de uma presidente mais técnica, moralmente exigente e digna. A imagem ética de Dilma Rousseff, mais do que o seu governo, espécie de feijão com arroz de um modesto restaurante de comida por quilo, é o salvo-conduto que a põe num primeiro lugar meio desconfortável.
“É a economia, estúpido” — disse o marqueteiro do ex-presidente americano Bill Clinton. Mas nem sempre é assim, tanto que o capital ético de Dilma Rousseff a mantém em primeiro lugar nas pesquisas, apesar da economia que não cresce. Entretanto, pouco a pouco e mais do que Aécio Neves e Eduardo Campos, a economia está se tornando a principal adversária da presidente petista.
O governo Dilma Rousseff, revela a pesquisa Ibope, persiste mal avaliado. Entre ótimo e bom, a presidente tem 34%. Tinha 36% em março, o que está na margem de erro da pesquisa, mas a petista está caindo, e não estabilizando-se. Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” revela que “o índice de confiança do consumidor — indicador com a maior correlação com a avaliação do governo — registrou em fevereiro a maior queda mensal de sua história, quando baixou 4,5%, chegando ao menor nível desde julho de 2009. O patamar foi mantido em março. Por sua vez, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação, teve alta de 0,92% em março, maior taxa mensal em 11 anos”.
O brasileiro, dado o mau passo da presidente a respeito do caso Pesadena — contribuindo para aumentar a crise de Petrobrás —, já desconfia da capacidade de gestão de Dilma Rousseff. Isto pode pesar, e muito, nas eleições. Nos últimos onze anos e quase quatro meses, o eleitor tem avaliado que, apesar dos percalços, o PT não administra mal.
A turma que propala o “Volta, Lula” tem de observar a pesquisa do Ibope com atenção redobrada. Lula da Silva, visto como uma espécie de ícone do país e não apenas do PT, não aparece com índices maravilhosos. O ex-presidente, confrontado apenas com Aécio Neves e Eduardo Campos, aparece com 42% das intenções de voto — tão-somente três pontos acima da intenção de Dilma Rousseff. A vantagem de Dilma sobre os adversários é de 15% e a de Lula, de 19%.
Os números sugerem que o eleitor não está satisfeito com o governo do PT, que há um certo esgarçamento nas relações entre a sociedade e o petismo. Há, possivelmente, um certo cansaço — daí o risco tanto para Dilma Rousseff quanto para Lula. Uma campanha bem-feita, com projetos críveis, não inteiramente de ruptura, mas de relativa continuidade, para retomar o crescimento econômico, pode contribuir para uma derrota da “armada” do PT.
Um detalhe da pesquisa certamente pôs não uma, mas várias pulgas atrás das orelhas de Dilma Rousseff e de Lula: o “Estadão” registra que a pesquisa do Ibope indica que “a maioria de brasileiros que querem mudanças profundas no governo cresceu de 62% em novembro do ano passado para 68% em abril deste ano”.
Em suma, o eleitor está sugerindo que não está satisfeito, mas não está afirmando que poderá trocar, por qualquer um, a presidente Dilma Rousseff. O que de fato mudaria com Aécio Neves e Eduardo Campos? O eleitor não sabe, e os dois políticos, ao menos nas entrevistas, não têm conseguido mostrar o que de fato pretendem, caso um deles seja eleito, fazer com o Brasil.
Resta saber se o eleitor, em 5 de outubro deste ano, dirá que está “cansado” do projeto do PT — que parece ter esgotado o modelo tucano (a estabilidade da economia, que não é pouca coisa) e não tem mais nada para pôr no lugar —, que está “cansado” da falta de projeto confiável das oposições ou se prefere continuar aquilo que, embora não seja considerado mais muito bom, pelo menos não é muito ruim.