O eleitor goianiense pode repetir o eleitor goiano e deve apostar num político-gestor
06 dezembro 2014 às 13h43
COMPARTILHAR
Depois do prefeito Paulo Garcia, que está ficando com a imagem mais de político, os eleitores de Goiânia devem apostar tudo na consagração de um candidato que se apresentar como gestor e tiver um cartel se serviços para exibir à sociedade
Pesquisas indicam que os eleitores estão cada vez mais sábios e independentes. São capazes de discernir e distinguir, com precisão, os projetos dos principais candidatos. Sobretudo, busca avaliar a história de cada um, verificando o que está fazendo ou o que já fez. Em 2014, os eleitores levaram para o segundo turno dois políticos que também são gestores experimentados — o governador Marconi Perillo, do PSDB, e o ex-governador Iris Rezende, do PMDB. Os eleitores sabiam e sabem que ambos tinham e têm condições de governar o Estado — dada a cristalização da imagem de que são administradores consistentes.
Vanderlan Cardoso, do PSB, e Antônio Gomide, do PT, ex-prefeitos de Senador Canedo e Anápolis, também são gestores, mas são menos conhecidos em termos estaduais.
Porém, por que, se todos são gestores e Marconi Perillo estava (e está) no poder, o que gera desgastes, os eleitores optaram pelo tucano-chefe? Quase simples: porque os eleitores perceberam que, como gestor, Marconi Perillo estava (e está) funcionando. Por isso decidiram não trocá-lo. Iris Rezende era uma alternativa, mas a sociedade não o viu com as mesmas qualidades do governador para ampliar a modernização de Goiás. Havia um descompasso entre o que o peemedebista-chefe pregava, um Estado ainda mais “inchado” e “gastador”, e as aspirações dos indivíduos.
Se Tancredo Neves e Mário Rodrigues, pesquisador-chefe do Instituto Grupom, estiverem certos — de que, em política, não há cedo, só tarde —, chegou a hora de discutir a eleição para prefeito de Goiânia, em 2016. As eleições serão realizadas daqui a um ano, nove meses e alguns dias. “Está bem aí”, batendo à porta. Se não estivessem, os políticos não estariam se posicionando, dialogando, tentando costurar alianças desde já.
O deputado estadual Humberto Aidar, do PT, está conversando com vários políticos e diz abertamente que pretende disputar a Prefeitura de Goiânia. Numa entrevista ao Jornal Opção, admitiu apoiar o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira, do PT, para prefeito. Aceitaria até ser vice. O petismo tem outro nome sólido — o da deputada estadual eleita Adriana Accorsi. Delegada da Polícia Civil, a jovem foi muito bem votada na eleição deste ano e seu mote básico, segurança pública, tem grande apelo na sociedade.
Humberto Aidar, Edward Madureira e Adriana Accorsi são políticos de valor. São íntegros e competentes. Do ponto de vista estrito da articulação política, os dois deputados são mais fortes, porque integram tendências políticas consolidadas no PT, como a PT Pra Vencer e a Articulação. Isto é um diferencial. No entanto, nenhum dos dois tem a imagem de gestor, não tem experiência como administrador. São mais políticos, sobretudo o parlamentar. Adriana Accorsi é delegada de polícia. Edward Madureira é um outsider no PT, porque não pertence a nenhuma tendência, o que dificulta sua ascensão interna. Porém, como tem forte presença na sociedade — sem estrutura, recebeu quase 60 mil votos para deputado federal —, por ter cristalizado a imagem de gestor eficiente e moderno na UFG, pode ser mais forte do que Humberto Aidar e Adriana Accorsi, e pode se tornar, a médio prazo, um político com mais densidade eleitoral.
Em suma, o que deve fazer a diferença é a figura de Edward Madureira como gestor. O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), é íntegro e bem intencionado e aos poucos está procurando recuperar a imagem de sua gestão. Ele tem tempo para restabelecê-la, dependendo de suas ações e do diálogo que abrir com a sociedade e com os políticos (precisa articular com habilidade). Porém, dado o desgaste inicial, sobretudo quando deixou a cidade ficar suja por um período — os buracos nas ruas agora são mais decorrentes das chuvas e é um problema que, com uma ação firme, pode ser corrigido rapidamente —, houve, por assim dizer, uma corrosão de sua imagem como gestor.
Os candidatos a prefeito de Goiânia, portanto, terão de investir com inteligência na formatação de uma imagem de gestor. Porque é o que os eleitores querem para substituir Paulo Garcia.
Uma coisa é quase certa: o PT não quer compor com Iris Rezende, exceto se o PMDB aceitar lançar o vice, não pleiteando a cabeça de chapa. Humberto Aidar é peremptório: “O PT terá seu candidato e o PMDB terá o seu. No segundo turno, a gente conversa”.
O PSB pretende lançar Vanderlan Cardoso. Há quem, no grupo do empresário, proponha outro caminho. O presidente do Partido Socialista Brasileiro lançaria um candidato em Goiânia, ou apoiaria o candidato de outro partido, e se preservaria para o pleito de 2018.
Acredita-se que, se perder em Goiânia, Vanderlan Cardoso vai enterrar sua carreira política e, assim, não terá condições de disputar o governo em 2018.
Mas há outra corrente que avalia que Vanderlan Cardoso tem chance de ser eleito prefeito de Goiânia. Seus integrantes argumentam que, como a capital está próxima de Senador Canedo, onde o socialista é quase rei, por ter sido um administrador eficiente, acima da média, as chances de ser eleito são consideráveis. O resultado da disputa de 2014 o mostra em terceiro lugar em Goiânia, mas com uma boa média eleitoral. Sua imagem de gestor competente e realizador está por trás de sua popularidade junto aos goianienses.
O PMDB pode bancar Iris Rezende para prefeito. Porque a população de Goiânia o considera um gestor eficiente, tanto que o elegeu em 2004 e o reelegeu em 2008 para prefeito. Há, claro, um problema: sua candidatura sinalizará, mais uma vez, que o PMDB não quer se modernizar e não tolera o novo. Assim, uma vitória do peemedebista-chefe não seria uma vitória do PMDB, mas apenas dele.
Se aceitar os ventos da renovação, Iris Rezende pode investir num político jovem como Agenor Mariano, vice-prefeito de Goiânia. Ex-secretário de Administração da Prefeitura de Goiânia, ex-vereador, empresário bem-sucedido do ramo gráfico, Agenor Mariano é apontado como um político ousado — seu único problema seria sua “irisdependência”. Embora não seja conhecido como gestor, é sugerido muito mais como político, o vice-prefeito tem experiência com gestão, sobretudo na área privada. Se apoiado por Iris Rezende, se torna um candidato forte.
Há um problema para o PT e para o PMDB. Em 2016, terão completado um longo ciclo no poder. Mesmo que lance candidato, o PMDB não poderá fazer críticas amplas ao PT, porque é responsável pela presença de Paulo Garcia no Paço Municipal e participa de seu governo, tendo inclusive o vice, Agenor Mariano. Quem está no poder há muito tempo precisa de uma coisa fundamental: fazer uma administração que, de tão excepcional, os eleitores relutem em trocá-la. Se Paulo Garcia conseguir recuperar sua imagem, será positivo tanto para o PT quanto para o PMDB.
Se a imagem de Paulo Garcia for recuperada apenas parcialmente, e se os eleitores responsabilizarem tanto o PT quanto o PMDB por sua gestão, as chances maiores, na disputa de 2016, serão das oposições.
Observador atento da cena política, Marconi Perillo está mapeando o quadro da capital, cuidadosamente. Seu candidato, sobretudo porque está fazendo muitas obras em Goiânia, e obras de ampla utilidade pública, para melhorar os serviços à população, será forte, muito forte. Pode ser o presidente da Agetop, Jayme Rincón (PSDB), o deputado estadual eleito Virmondes Cruvinel (PSD), o deputado estadual Francisco Júnior (PSD), a vereadora Cristina Lopes (PSDB), o vice-governador José Eliton (PP), o executivo José Paulo Loureiro (PSDB) ou o deputado federal Thiago Peixoto (PSD).
De todos os citados, Jayme Rincón sai na frente. O motivo não é a proximidade com o governador Marconi Perillo em si, e sim o fato de que, como presidente da Agetop, se tornou um dos responsáveis pelo sucesso do tucano-chefe como administrador. A rapidez como coordenou as obras, feitas com qualidade e preços adequados, às vezes com valores um pouco abaixo dos praticados no mercado, tornou possível Marconi Perillo obter dividendos político-eleitorais na disputa deste ano. Em Goiânia, opera a maioria das obras. Se candidato, poderá se apresentar como gestor, como aquele que faz, que não deixa para depois. Citemos um exemplo, que nem é o mais importante, porém é emblemático. O Autódromo Internacional de Goiânia estava praticamente abandonado, e cogitou-se mudá-lo de lugar. Parecia não haver uma saída. O governo decidiu restaurá-lo e Jayme Rincon assumiu o comando da obra e em pouco tempo a recuperação foi possível. O autódromo já está recebendo provas nacionais.
Uma coisa todos sabem: aquele que se expor apenas como político, que não se apresentar como gestor, poderá até ser candidato, mas não ganhará a eleição para prefeito de Goiânia.