O líder do MDB foi de vereador em Jataí a governador de Goiás. Era um político conciliador e agregador

Luiz Alberto Vilela (mais tarde Maguito) e o pai, Joaquim Morais Vilela, em 1960, em Jataí | Foto: Reprodução

Luiz Alberto Maguito Vilela lembra, em parte, Tancredo Neves. Em meados da década de 1980, o político mineiro havia sido eleito presidente da República, mas não tomou posse, pois morreu. José Sarney, o vice, se tornou presidente. Maguito Vilela, eleito prefeito de Goiânia, não chegou a assumir, pois, depois de um período de quase três meses internado, também morreu. O vice, Rogério Cruz, do Republicanos, assumiu.

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Mas a morte é um pedaço da vida, não é a vida toda, quer dizer, faz parte da história de um indivíduo, mas não é toda a sua história. A vida é mais ampla e continua reverberando ao longo do tempo. Há, quanto a Maguito Vilela, de se lamentar a morte, mas vale celebrar sua história. Há o que comentar de maneira positiva.

Com uma carreira política longeva — 44 anos —, Maguito Vilela foi de vereador a governador de Goiás. Além de ter sido vice-presidente do Banco do Brasil.

Vereador em Jataí

Tudo começou em 1976, quando foi eleito vereador em Jataí, cidade onde nasceu, há quase 72 anos, no dia 24 de janeiro de 1949. Era filiado à Arena, o partido da ditadura. Mestre da conciliação, desde aquela época, logo se tornou presidente da Câmara Municipal.

Em Jataí, dizia-se: “Nasceu um novo líder”. De fato, dado à diplomacia, “Magrito”, depois Maguito — naquele tempo, exímio jogador de futebol, sob o nome de Magrito-Maguito (era magro e elegante, como Falcão, o rei de Roma) —, surgiu “grande”.

Em 1979, ainda na ditadura, Maguito trocou a Arena pelo PMDB (não quis se filiar ao PDS, sucedâneo da Arena).

Deputado estadual e federal

Na eleição de 1982, já integrado ao peemedebismo, foi eleito deputado estadual — o que já sinalizava que a cidade de Jataí havia se tornado pequena, em termos políticos, para o jovem político, então com 33 anos.

Tornou-se vice-líder do MDB e líder do governo na Assembleia Legislativa de Goiás. Aí consolidou-se a figura do negociador político hábil, que sabia articular tanto com os deputados da situação quanto com os parlamentares das oposições. Era sereno, não tergiversava, o que agradava até aqueles que não apoiavam o governo. Por vezes, havia quem o chamasse de “Itamaraty”, dado seu caráter diplomático. Era um homem de “paz”, dizia-se.

Em 1986, aos 37 anos, foi eleito deputado federal constituinte e participou da elaboração da Constituição de 1988, que Ulysses Guimarães chamava de a “Carta Cidadã”. Tornou-se membro titular da Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais, da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Como suplente, participou da Subcomissão de Garantia da Constituição, Reformas e Emendas, da Comissão da Organização Eleitoral, Partidária e Garantia das Instituições.

Na Constituinte, votou favoravelmente à limitação do direito de propriedade privada, do mandado de segurança coletivo, da proteção ao emprego contra as demissões sem justa causa, do turno ininterrupto de seis horas, do aviso prévio proporcional, da unidade sindical, do voto aos 16 anos, da soberania popular, da nacionalização do subsolo, da proibição do comércio de sangue, da criação de um fundo de apoio à Reforma Agrária, da limitação dos encargos da dívida externa.

Vice e governador de Goiás

Tendo-se consagrado como hábil articulador político, Maguito Vilela foi convocado para ser vice na chapa do candidato a governador do PMDB, Iris Rezende, em 1990. Os emedebistas foram eleitos — derrotando, entre outros, Paulo Roberto Cunha, um político emergente do Sudoeste goiano.

Era um vice respeitoso à liturgia do poder, mas trabalhou de maneira eficiente as relações com as bases do PMDB. Tanto que, em 1994, Iris Rezende o bancou para governador — ficando Naphtali Alves como vice.

Naphtali Alves e Maguito Vilela: o vice-governador e o governador eleitos em 1994 | Foto: Reprodução

Ao derrotar Lúcia Vânia, no segundo turno, Maguito Vilela foi eleito governador de Goiás.

No poder, revelou-se, para além do político, o gestor atento e eficiente. Incentivou fortemente a indústria, atraindo empresas importantes para Goiás, como a Perdigão — que mudou a configuração econômica do Sudoeste goiano, tornando-a uma das mais ricas do Estado — e a Mitsubishi (em Catalão). Seu objetivo era tanto gerar empregos — e empregos mais qualificados — quanto mais renda para o Estado, de maneira global.

No campo social, destacou-se com o Programa de Apoio às Famílias Carentes. A distribuição de cestas básicas chegou a ser criticada, como uma ação populista, mas era mesmo necessária, ante a pobreza de tantos goianos. A preocupação efetiva com as pessoas — os indivíduos (nem todos são, a rigor, cidadãos) — potencializou sua popularidade.

Como governador, talvez seu principal pecadilho tenha sido vender a usina de Cachoeira Dourada, que era chamada de “galinha dos ovos de ouro” da Celg. Teria sido pressionado pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, na tentativa de “desmontar” o Estado varguista, o estatismo, decidiu por uma série de privatizações. Maguito Vilela poderia ter resistido? Talvez sim. Talvez não. A dívida dos Estados, ontem como hoje, coloca os governadores à mercê do governo federal, do presidente da República do momento. A República do Brasil é federativa tão-somente no papel, pois a União controla fortemente os recursos financeiros do país.

Senador

Em 1998, uma pesquisa do instituto Datafolha — do grupo que edita a “Folha de S. Paulo” e dirige o UOL, o maior portal do país — mostrou que Maguito Vilela era o governador mais popular do Brasil.

Maguito Vilela: senador | Foto: Reprodução

Dada sua popularidade, era praticamente certo que disputaria a reeleição. Entretanto, Iris Rezende pressionou e, leal, Maguito Vilela saiu do páreo e decidiu apoiá-lo para governador, retribuindo o apoio de 1994.

Iris Rezende perdeu o governo para um jovem de 35 anos, Marconi Perillo, do PSDB. Maguito Vilela era mais forte do que Iris Rezende, que, na avaliação do eleitor, era mais do mesmo, uma volta ao passado, pois o líder peemedebista havia sido eleito governador duas vezes, em 1982 e 1990.

Numa prova de que era popular, Maguito Vilela foi eleito para senador, com Iris Araújo, mulher de Iris Rezende, como primeira suplente.

Duas derrotas

Em 2002, confiado na popularidade de 1998 — e, de fato, permanecia popular —, decidiu enfrentar Marconi Perillo na disputa do governo. Começou na frente, mais bem avaliado do que o líder do PSDB, mas perdeu a eleição.

Em 2006, decidiu, mais uma vez, disputar o governo, agora contra o governador Alcides “Cidinho” Rodrigues. Entretanto, tendo Marconi Perillo como general eleitoral, Alcides Rodrigues derrotou Maguito Vilela, Demóstenes Torres e Barbosa Neto.

Com as duas derrotas, Maguito Vilela parecia um político aposentado, abrindo espaço para o filho Daniel Vilela, que foi eleito vereador em Goiânia, deputado estadual e deputado federal. Depois, Daniel Vilela se tornou presidente do MDB em Goiás, derrotando um pupilo de Iris Rezende, o que não havia acontecido antes, e isto gerou uma crise entre o cristalizado irismo e o então emergente vilelismo.

Prefeito de Aparecida e de Goiânia

Maguito Vilela: na sua fazenda | Foto: Reprodução

Em 2008, convocado por líderes peemedebistas, disputou a Prefeitura de Aparecida de Goiânia — a cidade com o segundo maior eleitorado de Goiás. Foi eleito e reeleito em 2012, tendo contribuído para a eleição de Gustavo Mendanha em 2016.

A administração moderna que empreendeu em Aparecida de Goiânia levou Maguito Vilela a disputar a Prefeitura de Goiânia pelo MDB, em 2020, tendo sido eleito no segundo turno. Disputou a eleição internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, devido à Covid-19. A campanha foi praticamente dirigida por Daniel Vilela, Gustavo Mendanha, João Campos e Rogério Cruz, o vice.

Maguito Vilela com seus dois herdeiros políticos: Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia, e Daniel Vilela (filho), presidente do MDB | Foto: Reprodução

Na quarta-feira, 13, Maguito Vilela morreu, aos 71 anos, de complicações decorrentes da Covid-19. Cabe, a partir de agora, aos historiadores avaliarem o seu legado como homem público. Há pontos positivos (não perseguia adversários políticos e, como gestor e político, era agregador) e negativos (como a privatização de Cachoeira Dourada). Os pesquisadores avaliam a vida de um político e de um gestor pela média, não pelos extremos (os que são avaliados pelos extremos são os radicais, o que não era o do caso do emedebista). Portanto, para além dos elogios que são feitos quando uma pessoa morre, Maguito Vilela era, de fato, um democrata, um diplomata (conciliador talvez nato), um humanista (preocupado com as pessoas, com gente), um modernizador e um político decente. Acima da média, portanto.