O Movimento Brasil Central pode fortalecer uma região e contribuir para bancar um candidato a presidente da República. É do Centro-Oeste quase 30% da produção agropecuária do país

Rodrigo Rollemberg (DF), Marconi Perillo (GO), Marcelo Miranda (TO), Pedro Taques (MT), Reinaldo Azambuja (MS) e Confúcio Moura (RO): unidos pelo crescimento e pelo desenvolvimento
Rodrigo Rollemberg (DF), Marconi Perillo (GO), Marcelo Miranda (TO), Pedro Taques (MT), Reinaldo Azambuja (MS) e Confúcio Moura (RO): unidos pelo crescimento e pelo desenvolvimento

Há um consenso de que os dois maiores presidentes da história brasileira são Getúlio Vargas e Juscelino Ku­bitschek. Os dois mantinham um olhar atento para o Centro-Oeste do país. O primeiro com a Marcha Para o Oeste. O segundo com a construção de Brasília. Estadistas de primeira linha, vocacionados para o poder, Vargas e JK entenderam que, para desenvolver um país de tamanho continental de maneira integral, era (e é) preciso expandir o crescimento econômico em várias frentes, sobretudo fortalecendo seu centro geográfico. O crescimento-desenvolvimento nas pontas tende a ser isolado, a ficar circunscrito a pouco Estados. Já o crescimento-desenvolvimento a partir do centro tende a irradiar para os outros Estados — próximos e distantes. São Paulo “basta-se”, pois, embora não seja uma ilha, considera-se como tal. Por isso, o Estado governado por Geraldo Alckmin, do PSDB, eventualmente joga pesado contra os demais Estados (a luta contra a chamada “guerra fiscal” é uma criação dos bandeirantes paulistas para travar o desenvolvimento regional dos Estados periféricos). Trata-se de um Estado que se considera país e que, na prática, não quer ser parte, ainda que seu crescimento tenha derivado de maciços investimentos do governo federal. Durante anos, irmanado com Minas Gerais — a política do café-com-leite —, São Paulo decidiu por todos os brasileiros.

Quando Juscelino decidiu construir Brasília, na segunda metade da década de 1950, os Estados do Sudoeste, como São Paulo e Rio de Janeiro, colocaram-se imediatamente na trincheira, inclusive nos jornais, atacando o projeto. A aliança café-com-praia entendia, com certa razão, que a mudança da capital para o território de Goiás significava muito mais do que uma transferência administrativa. A capital era tão-somente o símbolo daquilo que o projeto desenvolvimentista do presidente, filiado ao PSD, efetivamente representava: a ideia de descentralizar o desenvolvimento do país e espraiá-lo por todas as regiões. Era uma forma real de integração nacional.

Brasília cumpriu seu papel de instrumento de desenvolvimento. Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Pará e Ma­ranhão se tornaram mais sólidos — ainda que não inteiramente desenvolvidos — graças, em larga medida, à construção da nova capital. O poder “mudou” de centro e, ao “descentrar-se”, colaborou para fortalecer as regiões Centro-Oeste e Norte do país. Mais de 50 anos depois da transferência da capital, muita coisa mudou, mas muito mais precisa e pode mudar.

Otimismo na ação

Roberto Mangabeira Unger, Marconi Perillo e Thiago Peixoto: filósofo e teórico social de Harvard contribui para formular política estratégica desenvolvimentista para o Centro-Oeste brasileiro
Roberto Mangabeira Unger, Marconi Perillo e Thiago Peixoto: filósofo e teórico social de Harvard contribui para formular política estratégica desenvolvimentista para o Centro-Oeste brasileiro

Se tivesse disputado a eleição para presidente em 1965 — a ditadura civil-militar cancelou as eleições —, Juscelino teria mantido o apoio à área industrial, mas seu projeto era reforçar o agronegócio. Mais uma vez, o Centro-Oeste, com suas terras férteis, seria alvo de suas atenções. Os governos militares, com sua ideia de Brasil potência, voltaram a apostar no desenvolvimento das “pontas” — criando estradas que ligavam o nada a lugar nenhum, como a Transamazônica — e, mais uma vez, “esquecendo” o centro geográfico. “Ilhas de desenvolvimento” não se espalham espontaneamente por todo o país. Por isso é fundamental a intervenção do Estado para “forçar” o desenvolvimento de regiões menos desenvolvidas. A mão do mercado, aceitam até liberais menos ortodoxos, não faz tudo. Ao Estado cabe criar equilíbrio e, por isso, bancar, com variados incentivos, o desenvolvimento das regiões que, embora tenham alto potencial, não saem do lugar se forem abandonadas à própria sorte.

No momento, se depender do governo da presidente Dilma Rousseff, inerte pela crise econômica e, sobretudo, pela crise política — que está contribuindo para paralisar a economia —, os Estados em desenvolvimento vão continuar em desenvolvimento. Se é assim, se os governadores dependem das ações do governo federal para encontrar saídas para seus Estados, é mais “saudável” e menos “incômodo” cruzar os braços. No máximo, lamuriarem-se nas suas regiões ou aparecer de vez em quando em Brasília com pires — ou bacias — nas mãos. Para não perderem votos, numa justificativa para a inação, é preciso aparecer, ao menos de vez em quando, e dizer à sociedade: “Não faço nada por culpa da crise”. Muito bom para os acomodados e muito ruim para o país.

É possível fazer alguma coisa, mesmo quando parece que não há uma luz no fim do túnel?
O governador de Goiás, Mar­coni Perillo, não é marxista — é, na verdade, um socialdemocrata que defende o mercado e, ao mesmo tempo, investe no social. Mesmo não sendo marxista, segue a máxima do filósofo italiano Antonio Gramsci, que escreveu que o homem pode até ser pessimista na reflexão, mas é preciso ser otimista na ação. O tucano-chefe é um otimista de matiz realista, quer dizer, nada tem a ver como o Pangloss do filósofo francês Voltaire.

Marconi Perillo tem plena consciência de que, na crise, não se governa unicamente com o objetivo de cortar custos. Reduzir custos, para tornar o setor público mais barato para a sociedade e permitir investimentos, é importante, mas não é a função basilar de um homem de Estado. O estadista precisa irradiar otimismo — repitamos, sem panglossianismos — e contribuir para arrancar o país, ou Estado, da crise. Para tanto, é preciso criar uma agenda positiva.

Uma das marcas de Juscelino Kubitschek, segundo seu secretário de Imprensa, o escritor Autran Dourado, era ser assessorável. Marconi Perillo segue o mesmo caminho, ouve com atenção as boas ideias e, sobretudo, consegue arrancá-las do papel. O economista Thiago Peixoto, depois de uma breve passagem por Harvard, onde se encontrou com o filósofo Roberto Mangabeira Unger — que foi professor do presidente Barack Obama —, sugeriu a criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central. Imediatamente, depois de refletir sobre a ideia, Marconi Perillo a encampou.

Expert em análise de dados — ou inteligência estratégica —, Thiago Peixoto, um jovem de 41 anos, examinou detalhadamente a economia do Centro-Oeste, tendo ao lado Marconi Perillo, um dos políticos que mais buscam entender o funcionamento da economia brasileira (seu conhecimento impressionou tanto o rei do aço, o bilionário Jorge Gerdau, que o empresário lançou-o para presidente da República). O Centro-Oeste patropi representa 11,27% do Produto Interno Bruto do Brasil — o que corresponde a 25,68% de tudo que é produzido na pecuária e na agricultura nacional. São mais de 18 milhões de habitantes, com 18 senadores, seis governadores (considerando-se que — além de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul — o Distrito Federal, Tocantins e Rondônia participam do consórcio). Acrescente-se que se trata de um mercado em expansão e que, com ou sem crise, não para de crescer (uma frase diz tudo: “As pessoas não param de alimentar-se”). Unida, com seus políticos, empresários, advogados, médicos, professores, jornalistas, engenheiros, a região será mais poderosa do que se cada Estado agir isoladamente. Um bom exemplo é o Nordeste, que sempre agiu em bloco.

O Consórcio Interestadual é um braço ativo do planejamento de operações e de execução de políticas públicas de integração regional do Movimento Brasil Central (MBrC). Trata-se de um instrumento de pressão? Pode até ser, mas é sobretudo uma ferramenta de incentivo ao desenvolvimento-crescimento da região, uma maneira coletiva de se pensar em políticas públicas capazes de contribuir para evitar crises e para, se instaladas, superá-las. Os Estados, se tiverem mais autonomia para gerir os fundos regionais, poderão se tornar indutores de desenvolvimento e crescimento mais eficientes.

Marconi Perillo e Thiago Peixoto, que apostam na sobreposição da agenda positiva sobre a negativa — porque a falta de esperança fomenta ainda mais o pessimismo e, assim, investe-se menos —, frisam que o Consórcio Interestadual tende a fomentar o desenvolvimento a partir de Goiás e do Centro-Oeste. O que se está dizendo é que organizando o desenvolvimento a partir de uma região — tornando os investimentos mais eficazes e, portanto, com resultados mais produtivos —, e não apenas de um Estado, pode-se, inclusive, incentivar o desenvolvimento do país. Sem contar que o Consórcio Interestadual, que começa a chamar a atenção do governo federal, é uma ideia que pode ser levada, com proveito, para outras regiões.

Num momento de crise, em que as ideias parecem minguarem, Goiás firma-se, mais uma vez, como uma usina de ideias positivas e funcionais. Leitores às vezes perguntam se o Consórcio Interna­cional, um instrumento de desenvolvimento para beneficiar todos — e acima de questiúnculas partidárias —, pode contribuir para formatar e consolidar um líder nacional a partir do Centro-Oeste. É possível.

Várias das principais lideranças políticas do país estão esgotadas. Até o ex-presidente Lula da Silva está meio “queimado” devido ao petrolão/Operação Lava Jato. Os eleitores também parecem cansados da persistência da política do café-com-leite — que, derrubada em 1930 pela ascensão de Getúlio Vargas, foi ressuscitada pós-governos militares.

Curiosamente, o Nordeste brasileiro era um celeiro de políticos populistas, mais próximos da direita e do centro. Com a Bolsa Família, que criou o primeiro curral eleitoral da esquerda brasileira, o PT de Lula da Silva e Dilma Rousseff finalmente “acessou” e, assim, passou a controlar o eleitorado do Nordeste. Os políticos de São Paulo e Minas, o café-com-leite, não conseguiram apresentar um discurso convincente para o eleitorado da região. Lá, embora fosse falsa, prevaleceu a informação de que Aécio Neves, candidato a presidente da República em 2014 pelo PSDB, iria acabar com a Bolsa Família. Digamos que, no lugar de Aécio Neves, o candidato fosse Marconi Perillo. Este criou o programa Renda Cidadã que, segundo o próprio Lula da Silva, é a matriz do Bolsa Família. Portanto, é provável que o tucano goiano acessaria o eleitorado nordestino. O criador da Renda Cidadã não acabaria jamais com a Bolsa Família. Dizer isto seria crível.

Se candidato a presidente, Marconi Perillo poderia apresentar também sua ideia do Consórcio Interestadual — assim como a mudança radical no setor de saúde, que o tornou eficiente e aprovado pela população, e a possível melhoria do ensino público (com a adoção de organizações sociais como gestoras da escolas, já no início de 2016) — como um dos vetores, se não para resolver toda a crise do país, para reduzir o seu impacto nos Estados. O que o tucano está dizendo é que o Centro-Oeste, por sua iniciativa, está oferecendo uma saída para o país. Enquanto as políticas criadas por políticos e técnicos do Sudeste do país têm contribuído mais para acelerar a crise.

Entretanto, como o próprio Marconi Perillo tem dito, com palavras candentes, o Consórcio Interestadual não é uma plataforma eleitoral. É muito mais um instrumento duradouro para fomentar o crescimento e o desenvolvimento, para reduzir os custos dos investimentos. A ideia é que, apesar das separações geográficas, que recebem nomes — Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal —, a região, na prática, é uma só. Investimentos pensados de maneira coletiva podem beneficiar muito mais todos os Estados e podem ser menos dispendiosos para eles e para o país.

Marconi Perillo é o presidente do Consórcio Interestadual. Mais do que eleito, foi aclamado por todos os governadores — Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal), Reinaldo Azambuja (Mato Grosso do Sul), Pedro Taques (Mato Grosso) Marcelo Miranda (Tocantins) e Confúcio Moura (Rondônia). Porque teve uma grande e, ao mesmo tempo, simples ideia: de que, unida, a região Centro-Oeste passa a ser mais forte no cenário nacional. Pode, inclusive, bancar um candidato a presidente da República — que tanto pode ser Marconi Perillo quanto, para ficar noutro exemplo, Pedro Taques. O poder econômico do Centro-Oeste está em rápida expansão. É possível que, com a atual articulação, o poder político também tende a crescer e influenciar o crescimento econômico e o desenvolvimento.

Os líderes políticos do Brasil Central estão dizendo ao país: sim, estamos unidos, temos força e ideias e projetos qualitativos, e estamos buscando uma maior inserção nacional.