Goiânia caminha para ter segundo turno entre Adriana Accorsi e Sandro Mabel
22 setembro 2024 às 00h00
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Há três candidatos a prefeito de Goiânia que aparecem bem nas pesquisas de intenção de voto — Adriana Accorsi, do PT, Sandro Mabel, do União Brasil, e Vanderlan Cardoso, do PSD. Os três postulantes têm qualidades. Portanto, qualquer um que for eleito dará conta de administrar a capital de 1,4 milhão de habitantes.
Adriana Accorsi, por ser ligada ao presidente Lula da Silva, tem trânsito em Brasília e, como não é radical, em Goiânia (se eleita, não patrocinaria nenhum enfrentamento com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil). Mas, ao contrário de Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso, não é gestora. Porém, como política agregadora, pode montar uma equipe de administradores eficientes.
Sandro Mabel, candidato de Ronaldo Caiado, tem trânsito no Estado e no país, pois conhece como poucos os bastidores do Congresso e do governo federal. Não é de esquerda, mas, assim como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não teria resistência no governo Lula da Silva. Porque é realista, pragmático. Sobretudo, é gestor. Como se sabe, em nome do bem da cidade, administrador não briga com administrador.
Vanderlan Cardoso é gestor com experiência na iniciativa privada — dirige a bem-sucedida empresa Cicopal, em Senador Canedo — e na área pública (foi prefeito eficiente de Senador Canedo). Dada a experiência no Senado, adquiriu trânsito em Brasília. O que lhe falta é tráfego em Goiás e grupo político consistente.
Adriana Accorsi, Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso são candidatos muito fortes — tanto que descolaram de Fred Rodrigues, do PL, de Matheus Ribeiro, do PSDB, de Rogério Cruz, do Solidariedade, e de Professor Pantaleão, do UP.
Tanto Sandro Mabel, que lidera as pesquisas de intenção de voto — como mostram o Opção Pesquisas e outros institutos — quanto Adriana Accorsi e Vanderlan Cardoso têm chances de se eleger prefeito. Porque têm apelo popular, história política na capital: os três já foram candidatos a prefeito e perderam, mas disputaram bem. Eles estão no jogo e para vencer, não meramente para competir.
O quadro exposto acima é puramente realista. Mas há outros aspectos a abordar.
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Mabel é o primeiro a descolar dos demais
Primeiro, é preciso ressaltar que a campanha, com a exposição de projetos e do contraditório — as diferenças entre os postulantes e as redes de apoios —, levou à mudança do cenário. Sandro Mabel, que era o terceiro, já é o primeiro colocado — com 25,7% das intenções de voto, de acordo com levantamento do Opção Pesquisas.
Não se pode sugerir que Adriana Accorsi caiu, pois tem 22,4%. Na verdade, a petista se mantém estável — o que mostra vitalidade pessoal e substância política. O PT sempre foi forte em Goiânia, tanto que elegeu três prefeitos — Darci Accorsi (pai da deputada), Pedro Wilson e Paulo Garcia.
Há três questões relevantes reveladas pelo Opção Pesquisas. Primeiro, se se mantém estável, na faixa de 22% — um bom índice —, Adriana Accorsi não sobe, o que acontece, em parte, porque há outros candidatos consistentes na disputa. Mas também pode revelar teto, não se sabe se instransponível.
Segundo, Vanderlan Cardoso caiu para terceiro lugar — a rigor, dada a margem de erro (de menos de 4 pontos percentuais), está empatado com Adriana Accorsi. Mas a queda para terceiro lugar cria, de fato, um ruído na campanha. Porque cria-se a expectativa de que está se desidratando e pode cair mais nos próximos levantamentos.
Terceiro, ao saltar para o primeiro lugar, Sandro Mabel, ainda que esteja empatado com Adriana Accorsi (o postulante do União Brasil está 3,3 pontos percentuais à frente, com a margem de erro do levantamento do Opção Pesquisas sendo de 3,5%), descolou-se de Vanderlan Cardoso (superando-o em 5,4 pontos percentuais).
Até o momento, nenhum candidato havia descolado dos demais. É fato que, em relação a Adriana Accorsi, Sandro Mabel não descolou inteiramente, mas vale registrar que a ultrapassou. Porém, quanto a Vanderlan Cardoso, o postulante do União Brasil descolou e, ao descolar, puxou-o para baixo, deslocando-o para o terceiro lugar.
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Disputa tende ser entre esquerda e centro-direita
O quadro exposto pela pesquisa sinaliza para um segundo turno entre uma política de esquerda, Adriana Accorsi, e um político de centro-direita, Sandro Mabel.
Era (e é) natural que isto acontecesse, pois é sempre difícil de se ter, na segunda etapa da disputa, dois candidatos de centro-direita, como Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso.
Dificilmente Sandro Mabel retira votos de Adriana Accorsi, mas é quase certo que o candidato do União Brasil absorva votos “de” Vanderlan Cardoso. Porque os eleitorados dos dois apreciam candidatos moderados e adictos da gestão.
Há a tendência de, ao observar Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso, os eleitores optarem pelo voto útil. Como a expectativa de poder — dada a virada que ocorreu a menos de 20 dias do pleito — mudou, é possível que o candidato do União Brasil comece a absorver votos do postulante do PSD.
Embora isolado e sem o apoio de um grupo forte, Vanderlan Cardoso permanece consistente, ou seja, está no jogo. Mas, se cair um pouco mais, a desidratação pode se ampliar. Parte de seu eleitorado não irá para Adriana Accorsi, por uma questão ideológica, mas a maioria deles não tem nenhuma restrição a Sandro Mabel. Então, insista-se, o candidato do União Brasil pode conquistá-los. Pelo menos parte substantiva deles.
A rigor, Vanderlan Cardoso está ficando para trás. Mas, a bem da verdade, ainda não se pode sugerir que deixou de ser competitivo. Frise-se: o líder do PSD continua no jogo. Mas já é visto com reservas pelos eleitores. Está se cristalizando a ideia de que não tem chance de ser eleito, ou seja, de superar Adriana Accorsi e Sandro Mabel. Este é seu problema. O isolamento político (seu grupo corre o risco de não eleger nem vereadores) e o voto útil são seus principais “adversários”, digamos assim.
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Fatores decisivos: Ronaldo Caiado e grupo político
Por que Sandro Mabel cresceu, superando candidatos tão consistentes quanto Adriana Accorsi e Vanderlan Cardoso?
Primeiro, há os méritos do candidato. Definido como pré-candidato e, em seguida, candidato, Sandro Mabel, verdadeiro workaholic, não deixou de trabalhar um dia sequer. Acorda cedo e dorme tarde. Nunca diz que está cansado e sempre atende e conversa com as lideranças da capital. Anota as ideias expostas e dá satisfação àqueles com os quais dialoga. Aqui e ali, comete algum deslize, mas em geral isto é derivado da vontade de acertar e de participar.
Há também o mérito de que Sandro Mabel é um gestor altamente qualificado. Com presença ativa tanto na esfera privada — foi CEO da empresa que produzia as Bolachas Mabel durante décadas — quanto na pública (foi deputado federal por três mandatos, sempre do alto clero), ele tem ideias precisas do que e como fazer em Goiânia.
Porém, como surgiu como candidato bem mais tarde do que Adriana Accorsi e Vanderlan Cardoso, portanto aparecendo atrás deles, precisou e ainda precisa de um grupo de sustentação forte.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, foi e é o principal avalista de Sandro Mabel. Com seu apoio enfático, o candidato do União Brasil pôde procurar as lideranças políticas, comunitárias e empresariais de Goiânia e abrir conversações.
O aval de Ronaldo Caiado foi crucial. Mas, se o candidato não tivesse qualidades, se não soubesse dialogar com as forças políticas e sociais da cidade, não teria crescido. As pessoas que conversam com Sandro Mabel sempre ressaltam duas palavras — “vontade” e “garra”. O candidato do UB realmente demonstra ter vontade de gerir a capital do Estado. Há uma energia viva na sua fala e na linguagem de seu corpo. O mesmo se pode dizer de Adriana Accorsi, que demonstra ter amplo interesse em gerir a cidade na qual mora.
Já de Vanderlan Cardoso pode-se sugerir que parece sempre “cansado” e “desmotivado”? Talvez. O candidato do PSD parece que está desconectado dos goianienses atuais. Ao buscar amparo em Pedro Ludovico — e o fundador de Goiânia é realmente importante, mas poucos o conhecem hoje —, que nunca havia sido citado e homenageado por ele, o recado é o seguinte: Vanderlan Cardoso não mantém contato com as figuras de proa da sociedade atual. O que reforça a ideia de que, social e politicamente, está isolado. Sua força deriva mais de recall do que da campanha atual.
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Eleitores já estão decidindo o segundo turno
Mais uma vez, fica comprovado que os eleitores começam a definir o voto na hora certa, quer dizer, a partir das campanhas eleitorais, quando os projetos e o contraditório entre os candidatos são apresentados. Por isso, pode-se dizer que, a 14 dias das eleições, os eleitores mexeram no quadro e já começaram a “eleger” os candidatos que devem ir para o segundo turno.