O salário mínimo para suprir as necessidades de uma família de quatro pessoas em agosto deveria ter sido de R$ 6.389,72, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado na última quarta-feira, 6. O valor proposto equivale a 4,84 vezes o salário mínimo atual, de R$ 1.320.

Apesar de apresentar uma disparidade enorme, a distância entre os valores reais e ideais já foi maior. Em janeiro, o levantamento apontou que o salário mínimo deveria ser R$ 6.641,58. Em comparação com agosto de 2022, o salário mínimo deveria ter sido de R$ 6.298,91, isto é, 5,20 vezes o valor vigente na época, de R$ 1.212.

Com a pandemia de Covid-19, o rendimento domiciliar per capita caiu 4,3% em 2020, seguido por um tombo de 7,0% em 2021, quando foi estimado em R$ 1.484, o piso da série histórica. Em 2022, a renda média domiciliar per capita voltou a crescer, 6,9%, para R$ 1.586. Um estudo recente, no entanto, relevou que 29,6% dos brasileiros têm renda familiar inferior a R$ 497 mensais.

Para fazer o cálculo, o Dieese considerou o preço de alimentos básicos em 17 capitais brasileiras. Além disso, o levantamento se baseia no texto da Constituição brasileira, que diz que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

Em 2023, o preço da cesta básica caiu em 16 das 17 capitais pesquisadas. Natal registrou a maior queda, de 5,29%. Só em Brasília os alimentos ficaram mais caros (+0,35%). Para comprar uma cesta básica, o trabalhador que ganha um salário mínimo deve trabalhar, em média, 109 horas e 1 minuto. Esse tempo caiu em relação ao mesmo mês em 2022, quando a jornada média era de 119 horas e 8 minutos.

Preço da cesta básica nas capitais do Brasil. | Foto: Dieese

Fome no Brasil

Um relatório divulgado em julho pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) confirmou a piora dos indicadores de fome e insegurança alimentar no Brasil em 2022. Segundo a FAO, em 2022, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada, que é quando têm dificuldade para se alimentar. O levantamento também mostra que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave, caracterizada por estado de fome.

O cenário traz preocupação, pois o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014/2015 e, a partir de 2016, os índices só pioraram provocando o retorno em 2022, com sua situação piorada ainda mais no relatório atual.

Segundo a FAO no Brasil, o relatório mostra uma tendência que será difícil atingir a meta de acabar com a fome no mundo até 2030. “Além dos problemas de saúde causados pela pandemia globalmente, o mundo enfrenta dois grandes desafios: a fome e a má nutrição. Um em cada dez pessoas no mundo passa fome. Vemos que o mundo produz alimentos suficiente, mas há um grande problema de distribuição. Contudo, o caso do Brasil é diferente, graças as políticas publicas fortalecidas recentemente e à gigante produção alimentar, estamos certos de que o país irá sair novamente do mapa da fome, sem dúvidas”, destacou representante da FAO.

O Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome (MDS) e mais 23 ministérios em conjunto preparam o lançamento do plano Brasil sem Fome. A ação foi construída a partir do aprendizado da trajetória que levou o país a sair do Mapa da Fome. Programas como o Fome Zero e o Brasil Sem Miséria inspiraram a aposta na reativação de um repertório de políticas públicas que fizeram do Brasil uma referência mundial nessas áreas.

O Plano do Governo se organiza em 3 eixos: Acesso à renda, redução da pobreza e promoção da cidadania; Segurança Alimentar e Nutricional: alimentação saudável da produção ao consumo e mobilização para o combate à fome.