No fim de semana não se falou de outra coisa: os milhares de clientes da 123 milhas foram pegos de surpresa com a decisão da empresa em suspender a emissão de passagens de sua linha promocional, com embarque previsto de setembro a dezembro de 2023. Diante disso, o presidente da CPI das Pirâmides Financeiras, o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) afirmou que os donos da empresa 123Milhas serão convocados para dar satisfações.

Segundo o deputado, o caso da 123Milhas está “configurado como um esquema de pirâmide financeira” pois a empresa fez a venda dos pacotes de viagem “sem o compromisso de arcar com a responsabilidade com seus clientes”. O pedido de convocação será ainda apresentado à CPI, que votará a provação do requerimento.

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Bloqueio judicial da contas bancárias

O Instituto Brasileiro de Cidadania (Ibraci) ingressou no domingo, 20, com uma ação civil pública junto à 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro contra a 123 Milhas. O Ibraci pede o bloqueio judicial das contas bancárias da empresa e de seus sócios e acionistas administradores. Solicita ainda que valor retido seja fixado pela Justiça, para garantir o pagamento de eventuais indenizações a consumidores.

Na sexta-feira, 18, a 123 Milhas suspendeu passagens aéreas e pacotes da sua linha promocional, com datas flexíveis previstas para o intervalo entre setembro e dezembro deste ano. A companhia alegou que o alto patamar da taxa Selic e os preços elevados das passagens aéreas inviabilizaram o negócio. Como solução, ofereceu devolver os valores pagos pelos clientes com correção de 150% do CDI no formato de um voucher, que pode ser usado no próprio site pelos próximos 36 meses.

A companhia ofereceu devolver os valores pagos pelos clientes com correção de 150% do CDI no formato de um voucher, que pode ser usado no próprio site pelos próximos 36 meses.

De acordo com o secretário nacional do Consumidor, Wadih Damous, os clientes da companhia que tiveram pacotes e a emissão de passagens aéreas suspensos podem ter direito a ressarcimento em dinheiro e não somente por meio de voucher.

No sábado,19, o Procon-SP também informou que solicitará esclarecimentos sobre o episódio à 123 Milhas. O órgão de defesa do consumidor também forneceu orientações básicas sobre o que os clientes da companhia devem fazer neste momento.

Provocação do Hurb

O desdobramento mais curioso dessa história toda saiu das redes sociais do Hurb (antigo Hotel Urbano), outra empresa de viagens que passou por maus bocados junto à opinião pública no último ano, devido a reservas não honradas. Em seu perfil no Instagram, o Hurb publicou no domingo um post ironizando a situação.

“Nós aprendemos com os nossos erros e hoje, com o Projeto Desfazer, usamos uma tecnologia que compra passagens aéreas 40% abaixo do preço médio do mercado. Não dá para insistir no erro, concorrência. Vem de DM (mensagem direta na rede social), que te mostramos como o Desfazer pode te ajudar #HurbTaOn”.

A postagem não ficou muito tempo no ar. Desde abril, a empresa não apenas teve que lidar com críticas de consumidores insatisfeitos com a não-entrega de pacotes, como teve outros problemas. A empresa trocou o seu CEO em abril, já que o fundador da startup, João Ricardo Mendes, se afastou do comando após cair nas redes um vídeo dele xingando e ameaçando um cliente insatisfeito. Em maio o Hurb teve a venda de novos pacotes suspensas pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), afetando cerca de 80% da receita do negócio e resultando na demissão de 40% do quadro de colaboradores.