Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (novo Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego na última quinta-feira, 9, mostram que o Brasil teve uma queda significativa nos números de criação de empregos formais, ou seja, com carteira assinada, em janeiro de 2023. Se comparado com o ano anterior, a queda é de cerca de 50,2%.

Em janeiro deste ano, já no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a economia gerou 83,3 mil empregos, enquanto que no mesmo mês do ano passado, foram criados 167,3 mil postos de trabalho. Portanto, a queda foi de mais da metade. A percepção da piora ainda é mais latente se colocarmos na conta os anos de 2020 e 2021, período em que o país ainda vivia momentos críticos em sua economia por causa da Covid-19. Nesses dois anos, o país abriu 112 mil vagas e 254,2 mil empregos formais. Dessa forma, este foi o pior resultado desde 2020.

O economista Aurélio Troncoso, professor e coordenador do Centro de Pesquisas do Mestrado da Unialfa, faz uma avaliação da atual conjuntura que o país está passando e explica o porquê das empresas estarem demitindo, em vez de contratar novos funcionários. Segundo ele, o Brasil está vindo de um período de quatro anos de recuperação da empregabilidade. O economista lembra que quando o ex-presidente Bolsonaro (PL) passou para o governo eleito, a taxa de desempregados estava em 8% e agora com apenas dois meses de gestão, já chegou a 9,3%, o que preocupa.

Para Troncoso, um dos principais fatores é a falta de um plano de governo do atual presidente. “Com a falta de um plano de governo, as empresas passaram a não contratar e esperar para ver qual seria as medidas econômicas tomadas por este governo. Porém, até o momento o que vemos é um governo sem nenhum tipo de planejamento e isto não é bom para a economia porque traz insegurança jurídica para as empresas. Ao invés de contratar, elas demitem”, pontua.

Desconfiança de empresários

O professor destaca uma das falas de Lula, ainda na campanha, quando ele dizia que iria criar uma lei para proibir a demissão. “Esse tipo de fala assusta o empresário que tem uma carga tributária muito grande sobre a folha e, diante da possibilidade de ter uma lei que o proíba de demitir, ele começou a demitir antes que a lei fosse criada”, esclarece. Troncoso faz uma alerta em relação a essa lei, ele diz que, “ caso essa lei for aprovada, com certeza muitas empresas sairão do país, ocasionando demissões em massa”.

O economista ressalta, que a mais recente colaboração do governo para que as empresas demitam mais do que contratam, é a pressão em cima do Banco Central para a redução de taxas de juros. “Eu particularmente sou a favor de taxas de juros mais baixas, contudo, precisa ter as condições ideias para que essas taxas possam baixar e, no Brasil, por enquanto, ainda não temos essas condições”.

Outra razão que gerou baixa nas carteiras e a não contratação, no olhar do economista, foi o aumento da dívida pública logo no início do governo, com um aporte financeiro de praticamente R$ 200 bilhões. Para Troncoso, motivos não faltam para que os empresários fiquem com o pé atrás e enxuguem ao máximo seus quadros de funcionários. Os questionamentos em relação ao controle fiscal também pesam nessa balança, segundo o professor.

“A partir do momento que o governo fala que déficit público não tem importância, isto significa que o governo não tem o controle fiscal do país. Essas declarações assustam o empresário que vai pisar no freio no que tange a investimentos em um país assim. O empresário sabe que essa conta vai chegar lá na frente” , alerta.

O professor também pontua o cenário de aumento de impostos como elemento que contribui como destaque negativo nesta área. “Quando você onera o país, isso vai para o bolso da população e principalmente para o empresário. Lembrando que tudo no Brasil se produz usando o óleo diesel, ou energia elétrica, ou por gás natural e, quase na íntegra, é transportado sobre rodas. Tudo está ligado ao combustível, então quando o governo sobrecarrega esses itens com impostos, isso gera um aumento de preço para a população. O empresário vendo tudo isso, ele não faz investimentos e, se ele não faz investimentos, ele também não vai gerar emprego. Toda essa situação ocasiona um aumento de estoque, que vai refletir em demissões”, finaliza Aurélio Troncoso.

Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.