O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o esperado em sua última decisão, em agosto, e anunciou uma nova redução de meio ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que agora se encontra em 12,75% ao ano, atingindo seu nível mais baixo desde maio de 2022. O Comitê justificou essa medida como sendo “consistente com a estratégia de levar a inflação a convergir para a meta ao longo do horizonte relevante, abrangendo os anos de 2024 e, em menor grau, 2025”.

O Copom enfatizou a necessidade de adotar uma abordagem serena e moderada na condução da política monetária diante da situação econômica atual. Isso se deve à expectativa de que o processo de desinflação será gradual e à importância de ancorar as expectativas em torno das metas estabelecidas. Foi comunicado que novas reduções de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões estão em consideração, porém, a magnitude total desses cortes dependerá da evolução dos indicadores inflacionários, especialmente daqueles mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, bem como das projeções de inflação a longo prazo.

Quanto ao cenário fiscal, o Copom ressaltou a importância do cumprimento das metas fiscais como um fator que pode contribuir para a ancoragem das expectativas inflacionárias e para a orientação da política monetária.

Inflação

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em agosto, o indicador ficou em 0,23% e acumula 3,23% em 12 meses . Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada pelos economistas.

O índice fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.

No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.

As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,86%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,9%.

Crédito mais barato

A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia. Isso porque juros mais baixos barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 2% para a economia em 2023.

O mercado projeta crescimento maior, principalmente após a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas) cresceu 0,9% no segundo trimestre . Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 2,89% do PIB em 2023.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.