Após mais de 20 anos sob a guarda da família em Aracaju (SE), os crânios de Lampião e Maria Bonita foram submetidos a um processo de reconstrução e análise forense na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Os restos mortais do casal de cangaceiros chegaram à instituição em 2021 e passaram por três anos e meio de estudos conduzidos por uma equipe multidisciplinar.

O crânio de Maria Bonita estava quase intacto, enquanto o de Lampião chegou fragmentado, exigindo um trabalho minucioso de recomposição. Segundo os pesquisadores, os ossos apresentavam sinais de decapitação, fraturas perimortem e problemas bucais graves. Tentativas de extração de DNA não tiveram sucesso, devido à conservação inadequada com querosene e à exposição prolongada ao sol. Ainda assim, os especialistas confirmaram a identidade dos cangaceiros com base em evidências históricas e forenses.

Lampião e Maria Bonita foram mortos em 1938, durante uma emboscada na Gruta de Angico, na divisa entre Sergipe e Alagoas. Suas cabeças ficaram expostas por décadas no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, até serem sepultadas em 1969. Em 2002, os crânios foram transferidos para a família, que temia a perda dos restos mortais no cemitério onde estavam enterrados.

A reconstrução dos crânios marca uma nova etapa na preservação da memória do cangaço. A família Ferreira, descendente direta do casal, anunciou a criação do Memorial do Cangaço, um museu que reunirá armas, joias, fotografias e objetos pessoais dos cangaceiros. O espaço, previsto para ser inaugurado nos próximos três anos, também funcionará como centro de estudos sobre o movimento que marcou a história do sertão nordestino.

Para o historiador José Guilherme Veras Closs, responsável pelo estudo, o trabalho vai além da reconstrução física: “Trata-se de reconhecer a humanidade por trás dos ícones históricos. O cuidado com os remanescentes humanos deve ser tão respeitoso quanto o cuidado com os vivos”, afirmou.

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