Adelice, Gerusa e Agripina são três mulheres que tiveram suas vidas transformadas através da coleta de sementes nativas. Com histórias singulares, entrelaçadas pela restauração do Cerrado, essas mulheres quilombolas com conhecimentos milenares sobre bioma, encontraram nas sementes nativas uma fonte de renda, de empoderamento e de independência financeira.

Adelice Farias da Silva. Foto: divulgação

Moradora da comunidade Kalunga Ema, em Teresina de Goiás, Adelice Silva conta como a coleta transformou sua vida desde a conclusão do curso de coleta, em 2015. “Eu entrei de ajudante, ajudava as pessoas a pegar as sementes, mas não era cadastrada, foi quando fiz o curso de coleta e beneficiamento e passei a integrar a Associação de Coletores de Sementes Cerrado de Pé. De lá para cá muita coisa mudou, hoje consegui comprar um lugarzinho para mim e fazer uma casinha”, conta a coletora e instrutora que reúne a filha e as comadres da comunidade para coletarem juntas

Geruza Soares Pereira. Foto: divulgação

A experiência de Gerusa Pereira começou há seis anos. Ela relata como a coleta de sementes se tornou uma fonte de renda que melhorou a situação financeira de toda a sua família com necessidades diárias e possibilitou a compra de eletrodomésticos, como geladeira e fogão. “Em 2018, iniciamos as atividades e já comecei a gostar. Em 2019, nossa atividade foi dando mais renda e à medida que os anos passam melhoram mais e mais. Antes eu não tinha as minhas coisas, agora estou conseguindo comprar com o dinheiro da semente. Já senti uma grande mudança na minha vida”, relata a coletora que sai para coleta em média três vezes por semana, acompanhada do esposo, além de também realizar o beneficiamento e pesagem do produto.

Adelice Farias da Silva. Foto: divulgação

Para Agripina Tartuliano, o início da coleta de sementes foi em 2018, e ao longo dos anos, ela testemunhou um aumento constante na renda e nas melhorias em sua qualidade de vida. Ela enfatiza a importância do dinheiro gerado pela coleta para adquirir bens desejados. Agripina ressalta como, ao longo do tempo, a coleta de sementes transformou sua vida financeira, mas também contribuiu para o aprimoramento de suas habilidades na prática. “A gente mexia muito com roça, plantava colhia e saímos desse emprego para a coleta de sementes, onde mais do que coletar sementes, ajudamos a manter o Cerrado em Pé. Além da fonte de renda, estamos ajudando a salvar o planeta”.

Essas mulheres transcenderam as barreiras tradicionais, ao protagonizarem a coleta de sementes nativas no Cerrado. Integrantes da Associação Cerrado de Pé, elas demonstram que a coleta sustentável é mais do que uma atividade econômica, mas uma ferramenta poderosa de transformação.

Em alusão ao dia Internacional da Mulher, comemorado nesta sexta-feira, 8 de março, a Rede de Sementes do Cerrado, destaca esse protagonismo feminino celebrando a trajetória dessas mulheres extraordinárias e todas as demais cujas vidas foram tocadas e transformadas pela força da natureza e da determinação feminina.

Para a Presidente da RSC, Camila Motta, a coleta de sementes tornou-se mais do que uma simples atividade econômica; é um símbolo de autonomia, superação e fortalecimento comunitário. “Essas mulheres personificam a resiliência feminina e a capacidade de transformar a realidade através da conexão com o Cerrado. O trabalho das coletoras de sementes assim como o de outras mulheres que atuam na cadeia da restauração me fortalece como mulher na luta pela conservação desse bioma tão importante em nossas vidas”, completa.