Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estados do Pará, localizado no Norte do país, e o Maranhão, no Nordeste brasileiro, lideram em número de migrantes em Goiânia, sendo o Maranhão o estado mais representado. O último censo de 2010 revela que aproximadamente 19.620 paraenses residem na capital, enquanto outros 31.519 estão na região metropolitana. Quanto ao Maranhão, os números são expressivos, com cerca de 40.399 residentes na capital e mais 72.764 na região metropolitana.

Goiânia se estabeleceu como uma cidade referência no país quando se trata de acolher migrantes provenientes de outros estados. São pessoas vindas de todas as partes do país em busca de uma vida melhor na capital de Goiás. A capital goiana, inicialmente projetada para abrigar 50 mil habitantes, hoje possui uma população estimada de 1.437.366 pessoas, segundo dados do censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desde o período de sua construção, Goiânia já acolhia pessoas de outros estados da federação em busca de oportunidades de trabalho, e essa realidade perdura. A capital goiana continua sendo uma terra de oportunidades, atraindo pessoas de todas as partes.

Dança do carimbó, típico do estado do Pará l Foto: Reprodução

De acordo com o Índice de Reposição Populacional do IBGE, entre 2005 e 2015, para cada 10 pessoas que deixaram Goiás, 23 chegaram ao estado em busca de uma vida melhor. Isso evidencia a escolha pela região central do país desde os primeiros anos de sua criação. Goiânia, conforme o último Atlas do Censo Demográfico de 2010, é a segunda capital que mais atrai migrantes no país, perdendo apenas para a capital federal, Brasília.

Esse processo de migração pode ser justificado pelas condições de vida em aglomerações maiores, levando a população a preferir residir em locais onde possam encontrar melhor qualidade de vida, além do fator econômico. Em cidades maiores, os imóveis se valorizam rapidamente, incentivando a venda para aquisição de outros ou mesmo a compra de mais de um imóvel para a família.

Migrantes

Camila Lopes Maciel, 24 anos, é natural de Bacabal, no Maranhão, e faz parte de uma família de seis pessoas. Ela relata que chegou a Goiânia aos 17 anos com o objetivo de estudar. Embora tenha vindo sozinha, contou com o apoio de um tio que já residia na cidade. Camila permaneceu com ele até concluir o curso de jornalismo.

Camila Lopes, natural de bacabal Maranhão l Foto: Arquivo pessoal

“A minha vida no Maranhão era tranquila, em uma cidade pequena, com uma família bem estruturada que sempre me apoiou nos estudos. Decidi vir para Goiânia porque percebi que lá não encontraria o que buscava, embora ainda não tivesse muita noção do meu futuro. Mas eu queria um lugar com mais oportunidades e ansiava por viver em um local novo. Como já tinha um tio muito próximo aqui, uni o útil ao agradável e me inscrevi no SISU para cursar na Universidade Federal de Goiás (UFG)”, relata Camila.

Atualmente, aos 24 anos, ela confessa que seu coração está dividido entre sua cidade natal e a capital goiana. “Digo que sou meio goiana. Aqui há boas oportunidades, com locais de lazer e cultura para aproveitar, o que é diferente da minha cidade que não oferecia isso. As pessoas são bastante receptivas, e me adaptei bem desde o início”, destaca.

Cuxá, comida típica do Maranhão l Foto: Reprodução

No entanto, Camila revela sentir muita falta da culinária do seu estado. “A comida é o que mais sinto falta; nossas comidas típicas são bem diferentes. Aqui não consigo encontrar cuxá, por exemplo, uma comida regional do Maranhão. É uma folha de vinagreira que cozinhamos. Sinto falta de comer um peixe fresco, desses de água salgada”, diz.

Alberto Morais Souza Lopes, 31 anos, relata que chegou a Goiânia em 2014 acompanhado de mais dois irmãos, sob a influência do irmão mais velho que já morava na capital. A mudança teve como expectativa a oportunidade de trabalho e uma melhoria de vida em Goiás, motivada pelas boas perspectivas de emprego em Goiânia.

Alberto compartilha que, apesar de ser natural de São Luís, capital do Maranhão, a vida da sua família era extremamente difícil. “Somos uma família numerosa e enfrentávamos muitas privações, já que apenas nosso pai trabalhava. Portanto, quando surgiu a oportunidade de vir para Goiânia, não hesitamos”, afirma.

Alberto Morais, é natural de São Luís do Maranhão l Foto: Arquivo pessoal

Ao completar nove anos na capital, Alberto não se arrepende da decisão. “Me casei aqui e tenho quatro filhos. Confesso que ainda não alcancei todos os meus objetivos, mas estou lutando por isso. No entanto, reconheço que minha vida aqui não tem comparação com a que tínhamos lá. É uma nova fase e de vitórias, graças a Deus”, destaca emocionado.

Ele ressalta que visita o Maranhão apenas para estar com os pais, mas nunca consideraria voltar a morar lá. “Nosso estado é muito rico, no entanto, sempre foi mal administrado por políticos que priorizam apenas seus interesses e suas famílias, sem se importarem com a população, que é composta por pessoas muito pobres”, desabafa.

Maria Madalena, 29 anos, é natural de Breves, no estado do Pará. Madalena faz parte de uma família composta por 9 irmãos e destaca que nunca testemunhou tanta pobreza em sua vida. “Muitas vezes, o que tínhamos para comer era peixe, que, aliás, tem em abundância por lá, farinha e açaí”, relata. Breves é uma cidade localizada às margens do Rio Amazonas.

Maria explica que chegou a Goiânia há quatro anos, convidada por uma amiga da mesma cidade que mora na capital. Ela conta que, um dia após sua chegada, conseguiu emprego em uma lanchonete e teve a oportunidade de concluir o ensino médio por meio do Programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA), o que, segundo ela, possibilitou um emprego com salário melhor.

Madalena destaca que já trouxe alguns irmãos e planeja trazer toda a família. No entanto, ela ressalta que sente muita falta da culinária paraense e da cultura, como, por exemplo, de um lugar para dançar o carimbó, dança típica do Pará. “Adoro dançar carimbó, mas aqui não tem um local para isso, então danço em casa mesmo (risos). Sinto falta de um açaí puro, porque os daqui são uma mistureba (sic.) danada, e de um peixinho fresco”, diz.

Ela, no entanto, assegura que voltar para Breves não faz parte de seus planos. “Breves agora só para visitar; penso que tenho muitos familiares por lá, inclusive meus pais, mas morar lá não está nos meus planos”, conclui.

Raimunda Luíza de França Silva, 65 anos, chegou a Goiânia pela primeira vez em 1996, acompanhando o tratamento de um dos filhos. No entanto, seu encanto pela cidade a fez retornar em 1999, decidindo fixar residência. “Foi amor à primeira vista”, revela Raimunda, natural de Presidente Dutra, no Maranhão.

A atratividade da cidade e as especialmente as oportunidades percebidas foram o que a cativou. “Além das possibilidades de melhoria de vida através do trabalho, há mais opções de estudo para os jovens. Isso foi o que eu percebi em Goiânia”, destaca.

Raimunda e a filha apresentam o tacacá, uma iguaria típica do Pará l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Ao chegar em Goiânia Raimunda iniciou seu negócio vendendo Tacacá – uma iguaria paraense que aprendeu a fazer no Maranhão – na rua 44 e na Feira Hippie. “Como há um grande fluxo de paraenses lá, decidi vender o tacacá e o negócio deu muito certo”, conta.

Desde 2005, Raimunda trabalha com a venda de comidas típicas do Norte, como ela prefere chamar, contando com a colaboração de sua família. Atualmente, oferece maniçoba, açaí puro do jeito que o paraense gosta, com a farinha de tapioca, ou conforme a preferência do cliente, além de tacacá, tapioca, cuscuz e vatapá.

Ressaltando que a maioria de seus clientes é da região Norte do Brasil, Raimunda observa que suas delícias também são apreciadas pelos goianos, com destaque para os acreanos. “Tenho muitos clientes goianos, mas a maioria é do Pará e do Acre”, revela. Atualmente, mantém dois pontos de venda, um no Setor Aeroporto e outro no Guanabara, sob o nome de “Delícia do Norte”. Raimunda enfatiza que a ideia de voltar a morar no Maranhão está completamente fora dos planos da família.

Lanchonete da Raimunda, onde o cliente encontra comidas do Norte do Brasil l Foto: Marco Túlio/ Jornal Opção

Lauro José de Mendonça Cerqueira, 61 anos, é natural de Itaituba – PA, cidade situada às margens do Rio Tapajós, considerado um dos mais belos rios do Brasil devido às suas águas transparentes. Lauro relata que chegou a Goiânia em 2004, em decorrência de uma transferência de trabalho.

Anteriormente, Lauro trabalhava na extinta Telecomunicações Aeronáuticas S/A (TASA), que foi transformada na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e, atualmente, ele está lotado na NAV BRASIL, empresa criada no governo anterior.

“Tenho um grande apreço por Goiânia; me apaixonei por esta cidade. Apesar de sentir muita falta de uma praia, de igarapés e rios para pescar, assim como das iguarias da minha terra, tais como tacacá original, açaí do nosso jeito, cupuaçu, peixe fresco, castanha do Pará, pato no tucupi, entre outros. Goiânia só falta uma praia para não ter do que reclamar”, destaca Lauro.

Lauro Cerqueira e a família l Foto: Arquivo pessoal

O funcionário público recorda que seus dois filhos se formaram na cidade, e sua esposa atua como servidora municipal na área de educação. “Por esses e outros motivos, tenho grande apreço por Goiânia e não cogito deixar a cidade – talvez quando me aposentar, quem sabe”, afirma. Lauro revela ainda que aprendeu a apreciar a culinária goiana, incluindo pratos como pequi, quiabo, guariroba e jiló.”

Silvana Andressa Barrada Ribeiro Ferreira, 37 anos, é natural de Itaituba – PA. Ela relata que seus pais eram meio nômades e não criavam raízes em um único lugar. Antes de vir para Goiânia, estavam vivendo em Porto Velho – RO, quando o patriarca da família resolveu que deveriam se mudar para a capital de Goiás, acreditando que seria um ótimo lugar para melhorar de vida.

Silvana conta que, devido à constante mudança, a família não adquiria bens e às vezes passava por necessidades. O início em Goiânia também não foi fácil, chegando ao ponto de seu pai, mesmo sendo empreendedor, considerar procurar outro lugar para recomeçar.

Silvana e a família l Foto: Arquivo pessoal

No entanto, Silvana explica que, nesse período, já estava namorando aquele que se tornou seu esposo, e por essa razão, seu pai decidiu não sair mais de Goiânia. “Meu pai sempre foi empreendedor, mas ele estava desgostoso e já queria ir embora de Goiânia. No entanto, como eu estava namorando, eu disse que se eles fossem embora, podiam até ir, mas eu não iria. Aí meu pai decidiu ficar, e desde então, as coisas foram dando certo, as portas foram se abrindo, e estamos até hoje aqui”, relembra.

Silvana é casada com o goiano Wilson Júnior e tem dois filhos. Ela ressalta que aprendeu a amar Goiânia e não há probabilidade de voltar para o Pará ou ir para qualquer outra cidade. “Aqui foi o único lugar que criei raízes. Aqui, Deus me deu o privilégio de ter uma família e uma empresa bem-sucedida na área de eventos. Goiânia é uma cidade abençoada por Deus”, assegura.

Assim como os outros conterrâneos, Silvana relata que sente falta da culinária paraense, mas já se acostumou com a gastronomia goiana, que, segundo ela, é uma das mais deliciosas do Brasil. “O Pará agora é somente para visitar os parentes e os lugares lindos que têm por lá”, afirma.

Leia também:

Conheça a história de Dona Florisbela, 87 anos, 16 filhos e que se descobriu artista