A rivalidade no futebol e nos outros esportes não se resume apenas a proximidade em termos de localidade, como seria o clássico Brasil e Argentina, mas pode escalar e transcender para questões envolvendo a política externa entre países. Por exemplo, no críquete, Índia e Paquistão antagonizam um dos maiores clássicos do planeta por conta das Guerras indo-paquistanesas, iniciadas em 1947 e que perduram em rusgas até hoje.

E na Copa do Mundo do Catar, como fica? Talvez um dos melhores exemplos seja o clássico entre os hermanos e a Inglaterra. Apesar de estarem em lados opostos do globo, as duas nações protagonizaram uma guerra em 1982 pelas Ilhas Malvinas – ou Falkland Islands, como preferem os ingleses, que venceram a batalha.

Quatro anos após o conflito armado que ceifou quase mil vidas, os dois países se enfrentaram nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, realizada no México. Se não bastasse todo contexto fora de campo, os argentinos venceram o duelo por 2 a 1 com o famoso gol da “La Mano de Dios”, em que Maradona marca usando a mão. Na época, a vitória foi considerada uma “revanche” por conta da guerra.

Atualmente, as relações entre as duas nações já foram restabelecidas, mas talvez no futebol a mágoa pode ser revivida. Lembrando que, dependendo dos resultados, podemos ter uma nova reedição do duelo nas quartas de final.

Provocações

A antiga região da Iugoslávia sempre teve inúmeros conflitos e histórias terríveis, principalmente no final do século XX. Todas as guerras na região deixaram incontáveis refugiados que buscaram abrigo em outros países da Europa, por exemplo, a Suíça. Anos depois, refugiados e/ou descendentes diretos reconstruíram a vida em novos lugares, como os jogadores Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri.

Só que a dupla de origem kosovar não esqueceu os eventos que precederam a independência da Sérvia, em 2008. No passado, os sérvios perseguiram etnias albanesas que compõem a maior parte da população do Kosovo. Fora que a Sérvia ainda não reconheceu a soberania da nova nação.

Tal contexto histórico motivou que Xhaka e Shaqiri fizessem provocações durante a vitória da Suíça por 2 a 1, ainda na fase de grupos da Copa do Mundo de 2018. Os dois foram os autores dos gols suíços no triunfo e comemoram fazendo o sinal da águia, símbolo da bandeira da Albânia. A comemoração gerou um “mal-estar” para a Sérvia e rendeu multas, já que a FIFA proíbe a política dentro das quatro linhas.

Por coincidência do destino, as duas seleções que estavam no mesmo agrupamento que o Brasil no último mundial, também estão juntas agora. Sérvia e Suíça fazem parte do Grupo G com Brasil e Camarões.

Otan vs. Irã

Outra rivalidade externa que será refletida nos gramados de Doha estará dentro do Grupo B é Estados Unidos e Irã. Fora que se levar em conta os outros dois concorrentes, Inglaterra e País de Gales, temos EUA e Reino Unido que são membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ou seja, basicamente, temos um Otan versus Irã.

Atualmente os dois países até negociam um acordo nuclear e o fim das sanções americanas, mas ainda possuem diversos impasses diplomáticos. Além disso, as duas nações já estiveram envolvidas em conflitos armados no Oriente Médio, principalmente na Guerra Irã-Iraque.

Em 1998, as seleções se enfrentaram também na fase de grupos da Copa do Mundo, só que o duelo foi considerado o “jogo da paz”. Mesmo sendo tratado com segurança máxima pela organização, a vitória por 2 a 1 do Irã quebrou protocolos e promoveu uma “trégua”. Os iranianos cumprimentaram e distribuíram buquês de flores para os americanos e todos os jogadores posaram juntos para uma foto especial.