Capitão da Copa de 82, Oscar acredita que entrosamento traz favoritismo para o Brasil
24 novembro 2022 às 13h05

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Aline Bouhid e PH Mota
Oscar, o José Oscar Bernardi, ex-zagueiro do São Paulo (onde sagrou-se campeão brasileiro em 1986 e paulista em 1980, 1981 e 1985), foi o capitão da Seleção Brasileira que encantou o mundo durante a Copa da Espanha de 1982. Zagueiro que misturava técnica e garra, o atleta começou a carreira profissional na Ponte Preta. Em 77, ele fez parte da equipe da Macaca que foi vice-campeã paulista. Oscar formava o miolo de zaga com Polozzi, que depois defenderia o Palmeiras.
Em entrevista para o Jornal Opção, ele comentou a relação entre o favoritismo e a pressão sobre um time superfavorito, além da relação entre o futebol e a política. Ídolo da Ponte e São Paulo, defendeu a atuação do técnico Tite e acredita no potencial da Seleção Brasileira para conquistar o hexacampeonato. Ele ainda comentou a convocação, destacando a polêmica da opção por Daniel Alves e a opção que faria pela convocação de uma surpresa como Endrick, do Palmeiras.
Aline Bouhid – Você é da geração de 80, que foi vista como favorita, mas não chegou ao título. A Seleção de 2022 também chega com esse favoritismo. Como enxerga a relação entre esse favoritismo e a pressão sobre um time superfavorito?
Oscar – Eu acho que a Seleção da década de 80 pegou uma geração de grandes jogadores, uma fase áurea de atletas muito técnicos que jogaram um futebol muito bonito. Não era somente marcação e correria, era um futebol bem cadenciado, mas com bastante classe, uma geração de ouro. Não digo que as outras também não foram. Acho até que a geração de Ronaldinho, Ronaldo, Cafu, Romário, Bebeto, Roberto Carlos, etc, essa geração também foi muito boa. Depois disso o futebol se tornou um pouco mais físico, de velocidade, de marcação e de não deixar o adversário jogar, ao invés de se preocupar em ser muito ofensivo.
Os treinadores hoje têm muita cautela para saber como o adversário joga e se precaver, e na nossa época não. O próprio Telê Santana dizia que nosso tipo de jogo era esse e não iríamos mudar se o adversário era de um jeito ou de outro. A forma de jogar do Brasil era sempre a mesma. Lógico que tomávamos precaução em detalhes dentro do jogo que podíamos observar, em escanteios, bolas paradas, mas no mais o time era ofensivo e gostava de jogar mesmo. Hoje isso mudou. Primeiramente tentam não deixar o adversário jogar, para depois impor ritmo de jogo.
Em 82, o Brasil entrou como favorito, como sempre. Estávamos ganhando tudo antes de ir para Copa, não só ganhando como dando show de futebol e a esperança do brasileiro era bem grande. É lógico que na Copa do Mundo já tem mais pressão e nervosismo, tem a responsabilidade principalmente para jogadores de defesa, como é meu caso, mas a gente administrava bem pela experiência que já tinha nos clubes.
Aline Bouhid – Ainda na década 80, um movimento muito importante foi o da Democracia Corinthiana, com nomes como o de Sócrates. Como você vê a relação entre política e futebol? Qual sua opinião sobre jogadores que se posicionam politicamente, como fez Neymar recentemente?
Oscar – Eu sinceramente acho que o jogador pode se manifestar, pode ter o seu lado e falar do que pensa. O jogador não é um alienado, ele sabe o que é melhor par o país na opinião dele e devemos respeitar, como um cidadão qualquer. Alguns fazem movimentos quando tem a oportunidade de estar na mídia, com jogos televisionados ou mesmo dando entrevistas, e podem opinar sobre política.
Acho que é um direito dele e de qualquer cidadão se posicionar sobre votos. Ninguém vai fazer política barata e ficar falando o tempo todo sobre quem vai votar. O tempo em que Neymar se posicionou foi propício, pois foi uma semana antes da eleição. Mas lógico que não deve ser para comprar briga para um lado ou outro, porque o jogador perde sentido no que almeja. O mais importante é a sua profissão, é o esporte. Não se pode confundir e passar o ano inteiro envolvido numa campanha. Ele tem, lógico, sua vida fora do futebol e pode se posicionar, mas agora acabou, bola pra frente, pensar na vida dentro do campo.
Na minha época teve esse movimento do Sócrates, mas para nós, ele não dizia porque estava fazendo aquilo ou o que queria com isso.
PH Mota – A Seleção de agora vem de uma base anterior que é praticamente a mesma, inclusive, com o mesmo técnico da anterior, o que é algo incomum para o Brasil nas Copas. Isso favorece o desempenho em campo?
Oscar – O tempo que os jogadores jogam entre si na Seleção facilita muito. Quanto mais tempo você fica junto, mais facilita o desempenho e entendimento entre todos os atletas. Você acaba conhecendo mais não só no relacionamento, mas também dentro do campo, já sabe a forma de jogar e tem um entrosamento muito melhor.
O Tite vem mantendo a base da Copa anterior ao longo do ciclo. Tem jogadores que estão na primeira vez sendo convocados, mas Tite já tem uma base não é de agora, vem das Eliminatórias e dos amistosos. Creio que por isso o Brasil é favorito. O Brasil tem um bom futebol, tem técnica, velocidade, experiência e é bem competitivo. Se você for analisar os times europeus, vai ver que tem times muito bons e até gosto de ver Campeonato Inglês por exemplo. Pegam os melhores do mundo e trazem para os clubes, o que gera um alto nível técnico, mas quando vai jogar a seleção inglesa, que não tem os estrangeiros, é diferente. O Brasil chega com um time bem competitivo para disputar.
Aline Bouhid – Além do Brasil, quem mais é favorito?
Oscar – Também tem Argentina, Inglaterra e França. Talvez Portugal possa ser uma surpresa. E ainda tem sempre a chance de um time africano surpreender, como Camarões que está no grupo do Brasil, ou Senegal, porque sempre acontece alguma surpresa. Mas com certeza Brasil, Argentina e França são os três maiores favoritos.
Aline Bouhid – Como defensor, o que você acha dos zagueiros atuais da Seleção?
Oscar – Acho muito bons e bem convocados. Marquinhos e Thiago Silva tomaram conta da posição, tem muita experiência e são também destaques nos clubes. Não fazem coisas extraordinárias, porque zagueiro é pra isso mesmo, defender bem e é o que eles fazem. Nessa parte o Brasil está muito bem escalado e gosto bastante.
A lateral me parece ainda não decidida. Não sei quem o Tite vai escalar, mas creio que não será o Daniel Alves. Apesar disso, acho que a defesa é um dos pontos fortes do Brasil.
PH Mota – Como você avalia a polêmica sobre a convocação do Daniel Alves?
Oscar – Acho que o Daniel é um grande jogador, foi muito vencedor por onde passou e tem muitos títulos. Quando veio para o Brasil, para o São Paulo, não fez muita diferença, embora seja um jogador acostumado com grandes campeonatos e grandes finais. Ele é muito frio, não sente o jogo e é muito experiente. Se botar para jogar, não vai fazer feio, mas talvez pelo momento que está passando, talvez não fosse o mais indicado.
Mesmo assim, acho que o Tite não cometeu nenhuma injustiça de não levar alguém. Teria chance de convocar mais uns dois ou três, claro que sim, mas de forma geral, não há nenhuma injustiça. Daniel completa um plantel muito bom e eu desejo bastante sorte para a Seleção. O Brasil vencendo, todo mundo vence.
Eu ficaria feliz, talvez o Brasil todo, se ele tivesse levado uma surpresa como o Endrick do Palmeiras, um jogador de 16 anos já despontando como titular. Seria uma surpresa, porque ninguém conhece. Um jogador desse entrando no jogo, com a velocidade que tem, com a técnica e disciplina, poderia estar lá também. Mas de modo geral, está tudo dentro dos conformes.
