A Copa do Mundo dos pobres. Lula para presidente da Fifa

Iúri Rincon Godinho

Especial para o Jornal Opção

Para que alguém assistiria a Alemanha espancar a desnutrida de títulos no futebol Costa Rica? E a Espanha, o melhor time que vi jogar nesta Copa, só ia ganhar de 2 a 0 do Japão porque já entraria classificada para as oitavas de final e jogaria para o gasto. É o grupo da morte para os desmilinguidos japoneses e costa-riquenhos.

Do alto dessas certezas, eu, o colonizado com panca de colonizador, escutei com desprezo o primeiro tempo de Alemanha X Costa Rica e Espanha X Japão no rádio do carro, pensando em tudo menos futebol. Uma juíza mulher pela primeira vez na Copa seria o mais emocionante da tarde. Certeza.

Os dois favoritos fazem 1 X 0. Normal. Espanha e Alemanha classificados.

No segundo tempo, ainda sob o poder avassalador de todos os desestímulos, coloquei na Globo mais para ouvir o Tiago Leifert que não entende de futebol tanto quanto eu, mas é simpático e divertido. “Os japoneses cantam: o Japão é o time da virada, o Japão é o time do amor”, diz ele, parodiando o canto da torcida vascaína. Sensacional.

O Japão faz um gol. Deve ser porque a Espanha não está nem aí pro jogo. Com aquele toca daqui, toca dali, deve estar colocando o Japão na roda, os nipônicos correndo doidos sem achar a bola.

Só que não. Os japoneses cresceram, viraram gigantes, trocaram de tamanho com os espanhóis, colocaram pressão, ganharam as divididas, armaram um ferrolho.

A Costa Rica empata. Zebraça. O Japão vira. A Costa Rica vira.

Aí não.

Todos meus pelos se arrepiam. Assisto dois fantasmas aprontarem. Nós, brasileiros, amamos o Davi ganhar do Golias. Desprezamos quem faz sucesso (ladrões, corruptos, Espanha, Alemanha) e quem não faz (fracassados, Costa Rica, Japão). Somos o único lugar do mundo em que o segundo lugar é o primeiro perdedor.

A Alemanha vira o jogo e goleia. Mas sofre uma maldição: depois da Copa do Brasil em 2014, foi eliminada na primeira fase em dois mundiais. Um fantasma mais poderoso que a Costa Rica. O Japão vence e fica em primeiro no grupo. A Espanha vira coadjuvante.

Aconteça o que acontecer, só pelo susto, esta é a melhor Copa do Mundo que já vi e o Brasil ainda nem foi eliminado. O Marrocos, primeiro colocado que deixou Croácia e Bélgica para trás, é a campeã improvável da fase de grupos. Irã e Arábia Saudita quase conquistaram as vagas. Até a Tunísia fez bonito. Esta é a Copa da esquerda, dos descamisados, dos necessitados do futebol. O presidente da Fifa deve ser o Lula. Ou o Maduro.

Pelo que está acontecendo, o Goiás será campeão Brasileiro e o Goiânia vence o Campeonato Goiano 2023.

Iúri Rincon Godinho é escritor e jornalista.