Um poema de Yêda Schmaltz

24 maio 2020 às 00h00

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A obra de Yêda Schmaltz merece tanto reedição quanto mais repercussão nacional. Não fica a dever a nenhum dos grandes poetas brasileiros
A goiana Yêda Schmaltz (1941-2003), uma das poetas que abrilhantaram o Grupo de Escritores Novos (GEN), merece ter sua obra reeditada, tal a sua qualidade. Merece mais repercussão nacional.
Yêda Schmaltz também era crítica e entendia como poucos de artes plásticas.

Chuva de poesia
Yêda Schmaltz
Está caindo uma chuva de poesia na minha horta.
A poesia está batendo na porta, Carlos,
e pulando pela janela;
a poesia está me afogando em poesia.
Tem uma chusma de poesia no banheiro
e uma alca/teia na esquina.
A poesia parece o Nascimento de Vênus:
saiu nadando da piscina.
A poesia não deixa por pouco; a poesia
não deixa por menos: nobiscum mutambas est,
ou melhor dizendo, com “ela”, é no pau da mandioca,
no pau da goiabeira.
Meu deus, ela não pode fazer
isto comigo! Caí em decúbito dor-
sal.
A poesia parece nuvem de gafanhoto,
horda de guerreiros.
Está caindo uma horta de poesia na minha chuva;
ela é Pessoa restrita mas não se endireita:
quando cai, é sempre oblíqua e me leva con-
sigo.