O jornalista Narceu de Almeida e a última entrevista de Vinicius de Moraes

31 maio 2020 às 00h00

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O compositor, poeta e diplomata relatou que foi demitido do Itamaraty pelo general Arthur da Costa e Silva

Nascido em Anápolis em 1933, Narceu de Almeida Filho iria se tornar jornalista importante, no Rio, destacando-se principalmente na antiga revista “Manchete”.
Foi correspondente em Londres e Paris e depois retornou ao Rio.
Narceu de Almeida fez a última entrevista do grande compositor Vinicius de Moraes. Nessa entrevista Vinicius, diplomata de carreira, tendo sido, por exemplo, cônsul em Los Angeles, conta que foi demitido do Itamaraty por determinação do general Costa e Silva, o segundo presidente da ditadura civil-militar.
Costa e Silva ordenou que Magalhães Pinto, o ministro do Exterior, promovesse a demissão, porque o compositor era de esquerda.
Narceu de Almeida também era de esquerda e morreu novo, com apenas 52 anos, em 1985.

Trecho da entrevista
“Ponha-se esse vagabundo para trabalhar”
Narceu de Almeida — Quando você foi exonerado do Itamarati, em 1968, houve alguma alegação específica?
Vinicius de Moraes — O Otto (Lara Resende) sabe de uma história muito engraçada que aconteceu: quando o decreto veio de Brasília, assinado pelo presidente Costa e Silva, o despacho dizia: “Ponha-se esse vagabundo para trabalhar”. Aí, dizem que o Magalhães Pinto botou a mão na cabeça e chamou o Otto imediatamente, comentando: “Ih, isso vai dar um barulho dos diabos. Escreve um arrazoado aí para mandarmos para Brasília”. O Otto escreveu e, por isso, o despacho não se tornou público. Mas a exoneração veio de qualquer maneira. O que para mim foi ótimo, porque eu já não aguentava mais aquilo, mas tinha um problema moral devido aos filhos, pois com 24 anos de carreira eu estava mais ou menos próximo da aposentadoria. Tinha certo medo de jogar aquilo tudo pra o alto. Mas quando me livraram desse problema moral, fiquei muito satisfeito.