O grande poeta Félix de Bulhões, o Castro Alves de Goiás

23 agosto 2020 às 00h00

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Félix de Bulhões se suicidou, aos 41 anos, e deixou uma poesia ímpar. Era irmão de Leopoldo de Bulhões
Na terça-feira, 25 de agosto, completam-se 195 anos do nascimento de Félix de Bulhões.
Félix de Bulhões é, sem dúvida, uma das maiores expressões de todos os tempos da literatura goiana.

Poeta corajoso, colocou sua arte contra a escravidão. Sob esse aspecto, ele tem semelhança com o grande Castro Alves, pois ambos, ele antes do baiano, fizeram Direito na famosa Faculdade do Largo do São Francisco, de São Paulo.
Félix de Bilhões se suicidou aos 41 anos. Ele era irmão do grande político Leopoldo de Bulhões (foi ministro da Fazenda), que foi senador e ministro da Fazenda. Leopoldo contrariou-se com a Igreja Católica que, na época, tinha tratamento discriminatório aos suicidas.
Leia, a seguir, um de seus poemas mais famosos.
Só
Félix de Bulhões
Parei! — chegado havia ao cimo da montanha
Aspérrima e tamanha —
O sol morria além!
Parei; sentei-me à beira do caminho,
Sentei-me ali sozinho,
Eu só, sem mais ninguém.
Olhei atrás e avante. – Os largos horizontes
Debruçam-se nos montes.
E longes, por além,
De branco e azul e fogo e púrpura toucados,
Diziam contristados:
“Tu só sem mais ninguém.”
Percorro o estádio feito em um só lance d’olhos
Sem contar os abrolhos,
E muito, muito além,
Nas veigas serpentes o trilho venturoso
Que eu correra ditoso,
E só, sem mais ninguém.
Atrás deixava o prado, a vida, a flor, o aroma,
E o doce amor que assoma
Na juventude. Além,
Além a névoa densa, a dúvida insegura,
Além a bruma escura,
Eu só, sem mais ninguém.
Avante a escarpa está de crua descambada,
Precípite e eriçada,
Um passo mais além,
Eu vou com passo firme e resoluto e certo
Para o eterno deserto,
Eu só, sem mais ninguém.