O diretor de cinema, escritor e poeta italiano foi assassinado por um garoto de programa aos 53 anos. Há registro de que a motivação do crime pode ter sido política

Susanna Pasolini (mãe do cineasta), a cantora Maria Callas e Pier Paolo Pasolini | Foto: Reprodução, em 1969 | Foto: Terenci Moix

Assisti à beatificação do padre José de Anchieta (1534-1597) no Vaticano, celebrada pelo papa João Paulo II, na manhã de 22 de junho de 1980, num domingo.

À tarde, eu e dois companheiros de viagem fomos assistir, no Estádio Olímpico de Roma, à decisão do Europeu, entre Alemanha e Bélgica, 2 X 1 para os alemães. Após o jogo, tivemos dificuldade para encontrar um táxi. Apanhamos um ônibus e fomos para uma estação ferroviária, onde pegaríamos um táxi. A estação ficava junto à Piazza dei Cinquecento. Imensas filas buscando táxi. Alguém nos disse que na praça se encontrariam táxis irregulares, sem fila. Fomos.

Pasolini em Roma | Foto: Reprodução

Na praça vimos muita gente estranha e então me lembrei de que fora nela que o cineasta Pier Paolo Pasolini, que era homossexual, foi procurar parceiro e o que encontrou o iria matar. Os amigos preferiram voltar à estação e esperar o tempo que fosse pelo táxi.

Pasolini esteve no Brasil em 1970, no auge da ditadura militar, não obstante fosse um esquerdista. No blog Marca Páginas, Cláudia Alves escreve: “Em março de 1970, um avião vindo da Itália, com destino a Argentina, fez um pouso de emergência na cidade de Recife, no litoral brasileiro. Nesse avião, viajavam Pier Paolo Pasolini e Maria Callas, ambos a caminho do Festival de Cinema de Mar del Plata, no qual apresentariam ao público o filme Medea (1969). Pasolini havia escrito e dirigido o filme e Maria Callas, grande cantora lírica, havia atuado como a protagonista Medeia”. O diretor de cinema, escritor e poeta escreveu: “No aeroporto em construção, passando/diante de um grupo de operários que trabalham, dos olhos/que se levantam aos passageiros/É assim que o Brasil me saúda”.

Giuseppe (Pino) Pelosi: o homem que matou o cineasta Pier Paolo Pasolini | Foto: Ansa

No dia 2 de novembro de 1975 ele foi à Piazza dei Cinquecento atrás de parceiro. Saiu de lá, em seu carro, acompanhado de um garoto de programa, Giuseppe “Pino” Pelosi, de 17 anos, que era conhecido como a “Rã”. Foram para Óstia, que fica a apenas 26 quilômetros de Roma, no mar Mediterrâneo.

O jovem o matou. Algum tempo depois morreria de câncer, na prisão.

Outra versão sobre o assassinato do prosador e poeta italiano
“Todos os Corpos de Pasolini” é um livro de qualidade sobre o diretor de cinema e escritor italiano | Foto: Jornal Opção

No livro “Todos os Corpos de Pasolini” (Perspectiva, 378 páginas), Luiz Nazario, doutor em História pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta outra versão sobre o assassinato do cineasta italiano: “Oriana Falacci investigou para ‘L’Europeo’ as circunstâncias misteriosas do crime numa série de reportagens, mencionando a existência de três assassinos: Pelosi e dois jovens que chegaram depois, montados numa motocicleta. Estes teriam espancado Pasolini, e deixado Pelosi sozinho: aflito, ele passou o carro sobre o corpo e fugiu. Nas unhas de Pasolini foram encontrados resíduos de pele que não pertenciam a Pelosi: o escritor teria tentando desesperadamente defender-se”.

Luiz Nazario sugere, inclusive, que o assassinato pode ter resultado de uma ação política.

Pasolini tinha apenas 53 anos.