Frase “de” Maria Antonieta é de Rousseau. Frase “de” JK é de Autran Dourado

15 agosto 2021 às 00h00

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A frase “que comem brioche!” não é de autoria da rainha que foi guilhotinada durante a Revolução Francesa
Muito alienada, a rainha francesa Maria Antonieta teria afirmado, ao ser informada de que o povo estava revoltado, porque não conseguia pão, que então comesse brioche. Na verdade, ela nunca disse isto. Não obstante, morreria na guilhotina, em 1793, aos 37 anos.

Quando Maria Antonieta tinha 9 anos, o filósofo Jean-Jacques Rousseau escreveu: “Finalmente eu me lembrei do expediente de uma grande princesa a quem foi dito que os camponeses não tinham pão, e que respondeu: ‘Que comam brioche’”. O filósofo, nas suas “Confissões”, evidentemente estava falando de outra princesa, e não da que foi morta, na Revolução Francesa, pelos jacobinos. Trecho em francês de “Les Confessions”: “Enfin je me rappelai le pis-aller d’une grande princesse à qui l’on disait que les paysans n’avaient pas de pain, et qui répondit: ‘Qu’ils mangent de la brioche’”.

Muito se atribui a pessoas que na verdade não disseram nada.
Na história do Brasil, atribuiu-se a Dom Pedro I, por exemplo, a frase “Independência ou Morte”, o brado retumbante às margens do Ipiranga. Consta que de fato ele não proclamou essa frase.
Na verdade Juscelino Kubitschek não teria dito, quando sua posse foi ameaçada, em 1956: “Deus me poupou do sentimento do medo”. Por sinal, a frase é atribuída ao poeta Augusto Frederico Schmidt e, ao mesmo tempo, ao escritor Autran Dourado.
Autran Dourado disse, numa entrevista: “Sou o autor da frase. Renunciei à vaidade por muito tempo, mas, como estou custando a morrer, resolvi contar a verdade”. Ele foi secretário de Imprensa do presidente Juscelino Kubitschek e escreveu um livro a respeito, “Gaiola Aberta — Tempos de JK e Schmidt” (Rocco, 222 páginas).