A conversa sobre aquele  estonteante placar de 7 a 1 do jogo que malogrou a Copa das copas vai durar anos a fio. E não é pra menos.

Mesmo para os pouco aficionados ao esporte de Garrincha, como eu, a derrota foi estupefaciente. (Essa palavra esquisita eu tinha guardado pra um romance existencialista que jamais escreverei.)

Antes do jogo, um amigo expert me advertia sobre a propalada superioridade germânica também nas quatro linhas, e eu cogitei admitir o 1 a 0 que ele apostara no bolão.

Mas a derrota veio sonora e de chofre, do tamanho das pragas do Egito.

Tirou o país do berço esplêndido da glória presumida, e o deitou no incômodo divã da tragédia anunciada.

Dizem que o Brasil não é seu futebol — e vice-versa –, mas agora fica bem mais difícil divisar a linha imaginária que separa um do outro.

Aliás, antes e durante esta Copa o imaginário parece ter conduzido a realidade.

“Não vai ter copa” e “vai ter a Copa das copas” foram as duas infantis construções políticas que se alternaram, convertendo num patético Fla x Flu de terceira as mazelas e virtudes de um torneio mundial de futebol no Brasil. (Minhas desculpas ao Fla e ao Flu.)

O destino inescapável do hexacampeonato apregoado pela mídia reverberou no campo, em amargas lágrimas de pânico. E o pânico – aprendi no divã – é um poderoso e eficaz paralisante.

Felipão, o homem cordial sem medida e sem método, foi atropelado pelas circunstâncias. Deu a elas o nome de pane.

A Alemanha se portou com o anfitrião como o visitante da “Ilíada” e de tantas outras narrativas: entrou em nossa casa, cortês e elegantemente, para subjugar nossa mulher da vida – a bola.

Perdemos a mulher da vida. Ela voltará?

Como os deuses antigos, a mulher da vida tem seus caprichos e exige certos sacrifícios.

O maior deles já foi feito: a geração do gozo — ou melhor, do pânico — por antecipação, e da glória como tarefa, perdeu. E perdeu fragorosamente.

A realidade virou o imaginário pelo avesso. E talvez um bom jeito de organizar a realidade seja começar organizando o imaginário.

O problema é que não temos sete vidas. Só nos restaram os sete pecados.