O primeiro governo de Marconi Perillo (1999-2002) foi alvissareiro para a área da cultura. Com o historiador e letrista Nasr Chaul à frente da antiga Agepel (Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira), foram criados o Fica (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, na Cidade de Goiás), o Canto da Primavera (em Pirenópolis) e o Tempo (Festival de Teatro de Porangatu).

Para além dos festivais, o primeiro governo Marconi resgatou, ainda que timidamente,  a construção de uma política pública de cultura, interrompida anteriormente com o fim do governo de Henrique Santilo (1987-1990).

Já em seu segundo governo (2003-2006), Marconi se rendeu à cultura do espetáculo e da ostentação. A cambaleante Agepel foi rebaixada a agência de promoção de festivais — o Fica, o Canto da Primavera e o Tempo.

E recebeu uma inglória tarefa, típica da megalomania dos antigos mecenas: tirar do papel o Centro Cultural Oscar Niemeyer — projetado pelo próprio –,  cronicamente inconcluso.

O governo Alcides Rodrigues (2006-2010) cumpriu, sem brilho, a batida agenda dos festivais. Foi marcado pelo exotismo de ter à frente da pasta da cultura a polivalente Linda Monteiro, primeira-dama da Terra FM, baluarte do mau gosto country-Gyn.

Com Gilvane Felipe à frente da Agepel, Marconi devolveu a pasta da cultura ao bom gosto, mas iniciou seu terceiro governo (2011-2014) sem grandes pretensões para a a área pela qual sempre fez questão de manifestar especial apreço.

Mas os artistas e a sociedade impuseram ao governo uma nova agenda da qual, pelo menos num primeiro momento, ele não pôde se desvencilhar.

A promoção da Agepel a Secretaria Estadual de Cultura (SECULT-GO) e o penoso parto do Fundo Estadual respectivo são recentes conquistas que a comunidade cultural supunha absorvidas pelo próximo governo Marconi.

Autoproclamado “o governador da cultura” em encontro com artistas ocorrido no palácio das Esmeraldas no início do ano, Marconi se disse amante das artes em geral – e dos livros em particular.

Naquela ocasião, ao refluir de um abrupto corte perpetrado por seus tucanocratas no nascente Fundo Estadual de Cultura, o governador afirmou estar aberto ao diálogo com o segmento cultural, pelo qual ratificou seu especial apreço.

Menos de um mês após reeleito, “o governador da cultura” enviou à Assembleia Legislativa o projeto de lei da reforma administrativa, que dentre outros cortes rebaixa a Secult-GO à subcondição de subsecretaria no âmbito da Secretaria Estadual de Educação.

Em nível federal, foi no governo Sarney (1985-1990) que a cultura ganhou status de política pública autônoma em relação à educação, com a criação do Minc (Ministério da Cultura).

Tendo sobrevivido a todos os governos desde a sua criação, o que não é pouco, o Minc foi fortalecido no governo Lula, com a marcante ascensão de Gilberto Gil ao posto de ministro.

A gestão do ministro Gil contribuiu para consolidar a cultura como política pública, por meio de instrumentos como o Plano, o Sistema e o Fundo Nacional de Cultura. Por exigência legal para o repasse de recursos federais, esses três instrumentos devem ser replicados nos estados.

E a gestão do plano, do sistema e do fundo nos estados com mais de meio milhão de habitantes deve ficar a cargo de uma secretaria (exclusiva) de cultura.

Nessa linha, em 2012 o governo Marconi converteu a Agepel em Secult-GO, e em 2013 implementou o Fundo Estadual de Cultura. Em dois anos os recursos destinados à área quintuplicaram, apesar do desmantelo da máquina.

Agora, surpreendentemente, “o governador da cultura” propõe o desmonte da pasta – e, consequentemente, o desmonte das incipientes políticas públicas a ela afetas.

Sempre que anexada à gigantesca pasta da educação, a raquítica cultura é engolfada. Disso até Sarney já sabia, tanto é assim que criou o Minc.

Marconi também sabia, tanto que transformou a Agepel em Secult-GO. Mas isso foi em 2012, antes da reeleição.

Agora ele defende uma subsecretaria para a subcultura. O problema é que a subcultura só pode ter, no máximo,  um subgovernador.

Os artistas acusaram o golpe abaixo da linha da cintura. Promovem,  em protesto, bundaços cênicos pelas praças do poder.

Bundaços cênicos… Própria metáfora, incautos artistas.