Sob nova direção
15 setembro 2014 às 09h55
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A venda de todo boteco, mercadinho ou birosca de rua deveria ser regulada pela mão forte do Estado.
Parece uma medida intervencionista, mas não é.
Quer dizer, até é – as questões de mercado obedecem a uma dialética bastante peculiar –, mas sempre a bem do capitalismo desenvolvido.
E a bem, também, do consumidor mal acostumado.
Dia desses fui tomar a vitamina de sempre, na lanchonete de sempre.
Venderam a lanchonete; pior, adulteraram a vitamina.
Só o capitalismo desenvolvido é capaz de evitar tragédias desse naipe.
E o Brasil tem um bom exemplo. Alguém ainda se lembra do caso Ambev?
Quando Skol, Brahma e Antarctica resolveram acabar com a concorrência, muitos bebedores temeram a descaracterização de suas respectivas cervejas prediletas.
Paranóia pura. Cada cerveja seguiu com seu gosto, seu cheiro, seu malte próprio. Tudo devidamente regulado pelo Estado.
Não teve a mesma sorte a vitamina da lanchonete da esquina lá de casa, agora sob nova direção e péssimo gosto.
Num colóquio sobre as agruras da vida adulta – no propício ambiente das redes sociais, evidentemente –, descobri que o mercado vizinho à minha amiga também mudou de dono.
E mudou as coisas de lugar, a qualidade das coisas, o preço das coisas, o cheiro das coisas.
Ah, os cheiros! Alguma agência reguladora devia proibir a mudança dos cheiros das coisas e dos lugares de que gostamos.
O cheiro do pão de queijo da minha infância era muito melhor do que o pão de queijo da minha infância. (Que aliás não era mau.)
Nestes tempos bárbaros, basta uma birosca mudar de direção e ficamos nós à deriva, ao deus-dará, em total abandono — em busca do cheiro perdido.