Fiz análise no limiar da vida adulta – ou melhor, no fim de uma adolescência que eu teimava em retardar.

O tempo era de transtorno e conturbação, e talvez por isso mesmo eu brigasse tanto com meu analista para não conhecer as difíceis verdades trazidas à tona por Freud e Lacan.

Eram tais e tamanhos meus tormentos – inclusive o de pagar a conta do analista –, que costumo dizer a quem me pergunta: melhor do que fazer análise é ter feito análise.

A fala e a escuta que, no divã, precipitavam minhas angústias e medos, agora funcionam como uma espécie de segredo do cofre, como uma chave (mestra) de acesso a inimagináveis riquezas.

Meu analista, outrora o imaginário déspota esclarecido dos meus afetos, agora é o oráculo a quem recorro sempre que preciso aprender algo novo que ficou pra trás.

“Você pode aprender”, ele me dizia a cada pequena derrapada ou grande fracasso.

E me ensinava que fazer sucesso não é proibido, nem é fácil aceitar o sucesso alheio.

Ainda o ouço. Aliás, o ouço muito melhor agora, passada aquela forte chuva.

Às vezes tenho vontade de voltar ao divã. Mas ainda me assombram aqueles tais e tamanhos tormentos tão caros à psicanálise.

E pensando bem, o melhor do divã ficou em mim. Está em mim, indelevelmente. Basta que eu aprenda com a fala e a escuta de outros tempos, mas que não tem tempo.