Minha concentração para aprender o que quer que fosse esteve sempre abaixo da média.

Quando entrei na escola era um custo me manter acordado, o que só acontecia graças aos truques de professoras já escoladas em alunos da minha laia.

E logo que venci o sono, descobri o prazeroso poder mental da divagação.

Foi assim que minha mente insipiente, tábula rasa para a acomodação do conhecimento, se converteu no território sem forma da imaginação.

Passei a divagar por qualquer coisa – e sobre qualquer coisa.

A hipotenusa, por exemplo, me fazia pensar na medusa, na musa, na andaluza.

O pouco que aprendi não foi por sede de conhecimento, mas apenas para instrumentalizar minha imaginação.

Alguns rudimentos de história, por exemplo, bastaram para que eu convivesse intimamente com figuras de várias épocas – da Guerra do Peloponeso à Revolução Sexual de 60.

Satisfeita minha imaginação, esses rudimentos eram lançados ao vale do esquecimento.

Só a literatura sobreviveu a esse perverso descarte. Isso porque me tornei personagem secundário de cada livro que li e que calou fundo na minha imaginação.

Quando sinto que estou esquecendo o que li nalgum deles, volto a relê-lo com a avidez de quem foge da morte. E imagino, logo existo.