“Um elogio tamanho família para os guardas metropolitanos”
16 abril 2016 às 12h13
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Valéria Ramos*
Era uma sexta-feira. Como de costume, entrei no Eixo Anhanguera no centro da cidade com destino a Trindade, por volta das 17h40. Claro, ônibus lotado. Desci do trabalho para a plataforma, rezando, pedindo a Deus que tivesse um banco, afinal, depois de uma semana inteira de trabalho e praticamente em pé todas as viagens, o cansaço é inevitável. E desta vez eu tinha mais um agravante: uma mochila com compras que eu estava levando para casa, o que complica ainda mais a entrada no coletivo.
Entro e, por um milagre, sento. Mas, como alegria de pobre dura pouco, mais uma vez o pneu furou. Na plataforma do HGG [Hospital Geral de Goiânia], tivemos de descer. O ônibus já estava lotado e teve de abandonar a viagem em uma plataforma já lotada de gente.
Diante de tanta gente e nada de ônibus vazio, o jeito foi encarar um cheio mesmo — mas muito cheio. Até tentei falar com uma amiga, para tentar uma carona, mas não obtive sucesso.
E foi nesta hora que os bandidos me “filmaram” e me escolheram para assaltar. A cada plataforma, mais gente entrava. Percebi três pessoas estranhas se esfregando demais em mim, inclusive uma mulher que todos os dias vende chocolate dentro do eixo. Era impossível me desvencilhar deles, tamanha era a multidão que ali estava. De repente, senti que mãos mexiam na minha mochila, mas era impossível até puxar a mochila, não havia espaço pra respirar, quanto mais para acudir uma mochila.
Tanto tumulto, me fez pensar em descer na Praça A e esperar um ônibus mais vazio para conseguir chegar ao Terminal Padre Pelágio. De fato, fiz isso. No que a porta abriu, percebi os bandidos saindo também e antes mesmo de descer, abri a mochila para conferir se o celular estava, pois senti que alguém havia aberto o zíper. Não deu outra. O celular não estava. Comecei a gritar como louca dentro do Eixo e saindo dele para a Praça A. Dizia: “Me ajudem! Segurem esse rapaz para mim, ele pegou meu celular, segurem!”
Em poucos minutos, um monte de gente se aproximou de mim tentando ajudar. De repente, uma senhorinha me disse: “olha, você não pensou em chamar a polícia, mas eu chamei. Me desculpe se fui intrometida, mas não aguentei vê-los ali e não avisar. Outra pessoa me disse que ele se escondeu no banheiro!”. Corri para o banheiro e quando lá cheguei, a Guarda Civil Municipal, já tinha feito uma vistoria no banheiro e nada do tal de ladrão. De repente, outro grita dizendo: “Ele correu para aquele lado!”. Um guarda se aproximou de mim, perguntou como era o rapaz e me disse: “A senhora espere aqui!”. Esperei, afinal ele é autoridade e estava tentando me ajudar, mas não acreditava em momento algum que em algum momento pudesse reaver meu celular.
Os quatro guardas entraram na viatura e saíram como loucos. Eu ali, parada, olhando para o tempo, e gente e mais gente querendo saber o que houve. De repente, em menos de dez minutos, a viatura volta. Dentro de mim pensei: sabia que não conseguiam pegar o ladrão, voltaram rápido demais. Mas, para minha surpresa, o guarda veio falar comigo e disse: “É esse o celular da senhora?”. Eu não podia acreditar no que estava vendo. Eu chorava como criança, tremia como vara verde. Só consegui dar um abraço de agradecimento no guarda. Que coitado, ficou até assustado. Acho que nenhuma vítima tinha sido tão empolgada ao receber de volta um bem tão simples!
Só depois eu acordei para a situação e perguntei: “E o rapaz? Vocês pegaram? A resposta não podia ter sido melhor: “Sim, está na viatura.” Não sei contar o que senti naquela hora. Para mim, era uma chance em um milhão de conseguir tal feito: tanto prender o ladrão quanto recuperar o celular.
Mas o fato é que contei tudo isso apenas para deixar aqui um elogio tamanho família para aqueles guardas. O trabalho realizado por eles naquele dia foi um espetáculo! Não me canso de agradecê-los e de rezar por eles. Tive muita sorte, porque eles haviam acabado de chegar à Praça A para prender outro ladrão e acabaram prendendo o que me assaltou. Mas, independentemente disso, eles foram rápidos demais. Confesso que ainda estou impressionada com a ação deles. E rezo, especialmente para que nunca se corrompam, que trabalhem sempre para servir o cidadão que necessita. Que sejam mesmo defensores daqueles que trabalham, que necessitam do Eixo para esse fim.
Infelizmente não sei o nome deles, mas posso vê-los em qualquer lugar que os reconhecerei. E se um dia isso acontecer, os agradecerei de novo. Mas pretendo ligar no telefone da guarda — diga-se de passagem, para quem precisar, é o 153. Certamente saberão me dizer quais eram os responsáveis naquele dia pelo belo trabalho. Estou feliz que tenham conseguido me ajudar e triste por saber que muitos não tiveram nem terão a mesma sorte, haja vista que esses mesmo guardas me disseram: “O nosso trabalho é muito difícil, porque o efetivo da Guarda Municipal é muito menor que o número de bandidos”. Isso é triste. E é preciso refletir e agir no sentido de conter tanta violência nos ônibus, especialmente do eixo.
Há dias queria ter escrito, mas ainda estou muito abalada. Só me animei neste momento, depois de ter entrado no portal G1 e ler que ontem à noitinha, um adolescente de 15 anos, que faz o mesmo trajeto que eu, reagiu a um assalto e matou o bandido. Ele não teve a sorte que eu tive de ter um guarda perto dele. E muito provavelmente, sua vida se complicou um pouco por ter matado uma pessoa, mesmo que um ladrão. Infelizmente, quem fica preso é o cidadão de bem. Eu sou adulta e minha cabeça ainda ferve por me lembrar do fato; fico imaginando a cabeça desse adolescente.
Sabemos bem que pagamos muitos impostos que deveriam ser revertidos na segurança, no transporte e na educação. Onde está esse dinheiro? Porque não temos nada disso de qualidade… Ressalto aqui que tirei inúmeras fotos do ladrão do Eixo. Mas creio que a história de crime desse rapaz não cabe aqui falar. É uma vida extensa, apesar da pouca idade. Dá mais um texto longo. O que ficou de tudo isso para mim, a lembrança boa que carrego e vou carregar por muito tempo, foi o ótimo trabalho realizado pela Guarda Civil Metropolitana. Parabéns a eles mais uma vez! Mereciam uma digna homenagem pela seriedade do trabalho desempenhado.
*Valéria Ramos é secretária.