Otávio Lage, eleito e não nomeado
16 abril 2014 às 16h24
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Jales Naves
As eleições de 1965 em Goiás para governador foram as mais disputadas de todos os tempos e em todas as instâncias, quando os dois principais partidos políticos, que eram rivais, novamente se enfrentaram nas urnas. Do pleito surgiu uma nova liderança: o governador eleito Otávio Lage.
Fazendeiro moderno e inovador, um dos responsáveis pela consolidação da cultura do café na região do Vale do São Patrício e até então desconhecido do mundo político, ele se destacou pela dinâmica administração que realizou em Goianésia —, então uma cidade pequena, inexpressiva —, como prefeito de 1962 a 1965, e também por ser filho do deputado federal Jalles Machado, um dos principais líderes da UDN histórica e que se sobressaiu pela firme atuação como parlamentar, defendendo os interesses de Goiás e lutando contra os aliados de Getúlio Vargas no Estado, em especial o antigo PSD.
Determinado, ousado e com uma mensagem nova, para tirar Goiás de um atraso histórico, que o deixava na lanterna dos Estados brasileiros, ele conquistou o direito de ser candidato pela União Democrática Nacional numa disputa muito acirrada. Venceu na convenção estadual do partido o deputado federal Emival Caiado, considerado favorito, e lutou para ocupar espaço e consolidar sua candidatura com mais três partidos: PTB, PSP e PDC. Foi difícil obter o apoio do governador eleito de forma indireta, marechal Emílio Ribas Júnior, e da cúpula militar, pois, um dia antes da convenção udenista, o presidente da República, marechal Humberto Castello Branco, lançou a candidatura a governador, pelo PSD, do deputado federal Gerson de Castro Costa, conforme registraram os jornais do dia.
Depois de superar os obstáculos e dificuldades que se antepunham e assumindo a liderança desse processo, Otávio Lage soube se impor, consolidar a sua candidatura e, utilizando-se de estratégias de marketing, conquistar o eleitorado, a partir de um mote especial. A crítica da oposição, de ser despreparado para a função por ser “roceiro”, foi utilizada como instrumento dessa mudança: ele chegava às cidades sempre com um chapéu na cabeça e entrava pelas principais ruas montado a cavalo, ou num trator, ou numa carroça, e saía cumprimentando todas as pessoas. Dessa forma, foi se tornando conhecido, divulgando sua plataforma de trabalho, centrada em três eixos — educação, energia e estradas — e firmando seu nome.
Na oposição, que ainda dominava o Estado, simbolizada pela figura do senador Pedro Ludovico, o candidato era o médico e deputado federal José Peixoto da Silveira, um dos principais quadros do PSD, que tinha ocupado as três principais secretarias de Estado (Fazenda, Educação e Saúde), além de ter sido deputado estadual.
A situação era difícil, mas prevaleceu a mensagem desenvolvimentista, a proposta de construção de um novo Goiás a partir dos três eixos, o que realmente aconteceu. E o resultado, favoreceu o candidato da UDN.
Essa observação se torna importante ainda hoje, não só para resgatar o nome e o importante trabalho realizado pelo ex-governador Otávio Lage, como para fazer justiça a um dos mais expressivos governantes de Goiás.
Nos últimos anos, seus netos tiveram de defendê-lo diante de críticas improcedentes, injustas e que não correspondiam à verdade. Eles admiravam o avô pela postura íntegra, pelo comportamento ético e por ser um empreendedor preocupado em unir forças para viabilizar projetos, como a destilaria de álcool, a cogeração de energia a partir do bagaço da cana, o plantio de seringueiras, a inovação tecnológica no campo a partir de sementes certificadas etc.
Quando frequentavam o ensino médio, já se preparando para o vestibular, vários de seus netos tiveram de discutir com os professores de História, que teimavam em dizer que ele tinha sido nomeado governador de Goiás pelos militares. Inclusive, uma questão em vestibular de uma importante instituição de ensino superior, em 2003, tratava desse tema e dessa forma, colocando Otávio Lage como governador nomeado e não eleito em pleito democrático e popular.
Otávio Lage foi, na verdade, o único governador de Goiás eleito no período militar, em pleito direto e com a efetiva participação do eleitor. Um registro que se torna necessário diante da falta de compromisso de professores com a verdade e que atinge uma pessoa que foi, por princípio, um democrata no exercício de suas funções no Executivo goiano, honrando o mandato que cumpriu, mesmo em um período de exceção.
Jales Naves é jornalista e biógrafo de Otávio Lage.
“Um outro ângulo para o ‘roubo’ do papa”
Vejo o gesto do papa Francisco (foto) de ficar com o crucifixo de seu confessor morto por outro ângulo. O que acontece quando o caixão desce à sepultura? Tudo o que está dentro dele é destruído. O corpo se decompõe, as roupas e os demais objetos se deterioram. Aquele crucifixo – valioso porque pertencente a um padre misericordioso – por causa do gesto de Jorge Bergoglio, foi poupado da destruição. Continua sendo útil! Mais, do que isso, hoje ainda serve de inspiração ao ser humano Francisco, que humildemente usou a infeliz palavra “ladrão” para explicar o que fez.
Pois fiz isso também, eu mesma, no cemitério, no momento em que o caixão de minha mãezinha se fechava, ao retirar de seu peito a fita vermelha do Apostolado da Oração [movimento católico], extremamente valiosa para ela, a ponto de, ao sentir que se aproximava o momento de partir para a casa do Pai, pedir-me que a vestisse com o uniforme do Apostolado e pusesse, em seu peito, sua fita vermelha de zeladora. Aos prantos, concordei. E fiz-lhe a vontade. Sem o menor embaraço, “salvei” da destruição a valiosa fita, com a medalha e a insígnia do Coração de Jesus. Hoje a envergo eu, sobre meus ombros, como zeladora que me tornei do Apostolado, sentindo que carrego comigo algo que ela beijava e usava com muito carinho. E, unida à minha mãezinha, hoje na eternidade feliz, me sinto forte e inspirada para assumir com responsabilidade minha condição de apóstola da Oração.
Foi roubo isso? Claro que não! É preciso ser alguém muito ignorante em matéria de fé – ou muito mal intencionado mesmo – para interpretar assuntos como esse dessa forma. Obrigada, Senhor, pelo papa Francisco. Abençoai-o agora e sempre! E enviai vosso Espírito Santo sobre todas aquelas pessoas que usam sua inteligência de forma equivocada e fazem juízos descabidos, amargos e, mesmo invocando o vosso nome, são capazes de dispersar ao invés de unir.
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“Friboi sempre participou da política”
Antônio Alves
Dizer que Júnior Friboi (foto) não precisa de governo para ficar rico é uma aberração. Ele sempre participou da política como financiador de campanha. O financiador de campanha não ajuda o político: ambos se ajudam, seja de uma forma ou de outra. Isso não quer dizer que praticam atos ilícitos, mas que o poder econômico caminha junto com o poder político. Se você for candidato sem dinheiro, termina a campanha e nem o pessoal do seu bairro fica sabendo, ou melhor, nem seus amigos.
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“Cadê a reforma política?”
Sobre o artigo “Ecos da ditadura” (Jornal Opção 2021), de Daniel dos Santos Rodrigues, creio que Contardo Calligaris [psicanalista e colunista da “Folha de S. Paulo”] não está dizendo nenhuma novidade [ao falar que falta um projeto ao País]. De muito, Sérgio Buarque já dizia que a democracia sempre foi um grande mal-entendido entre os brasileiros. O PT teve o mérito de enxergar os miseráveis do País. Ficou nisso. Garante-se eleitoralmente por isso e nada mais que isso. O PSDB somente separou uma elite paulista, mais paulista e governou para São Paulo. Política café com café.
No fundo, precisamos de reformas, as mais variadas (tributária, política, do Judiciário, para ficar com três). Fora isso, continuaremos fazendo da nossa democracia um imenso e emaranhado mal-entendido. Parabéns ao autor, quando se lembrou das reformas que nunca fizemos. Esse é o ponto. Por falar nisso, onde anda a reforma política proposta com tanta veemência pela presidenta? Esperando um outro junho vermelho?
Arivaldo Araújo é servidor público federal.
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“Francisco pode promover uma ruptura radical”
P. C. Albuquerque
Até para um leigo protestante como eu, que acompanha, de longe, as ações e posturas do papa Francisco, fica evidente que ele está em rota de colisão com os interesses da alta cúpula vaticanista. O Vaticano é uma cidade-Estado, um ente híbrido composto por duas naturezas: uma política (estatal) e outra religiosa (Igreja). A impressão que se tem é de que o papa fez uma opção pelo aspecto Igreja, deixando para um plano secundário o aspecto político. Pode-se, diante disso, vislumbrar uma ruptura radical dentro desse panorama dividido, tendo por um lado os que não abrem mão do status quo e, por outro, os “seguidores”’ de Francisco. Para muitos, isso é improvável, mas não é impossível.
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“Duas frases de Chico Ludovico”
Natanry L. Osorio
Ao Jornal Opção nossa gratidão pela justa homenagem ao grande mestre Chico Ludovico (edição 2022), extraordinário homem, médico que exercia a medicina como missão e verdadeiro sacerdócio. Chico era um sábio e nunca me esqueço de duas coisas que dele ouvia: “Deixe seus filhos pisarem na terra, o que não mata engorda.” Outra foi aos 40 anos. Tinha grande dúvida se deveria fazer cirurgia de mioma com retirada do útero e ele me disse: “Naty (forma de ser tratada em família), para mim depois dos 40, quando uma mulher como você, que já tem cinco filhos não quer mais outros, o útero passa a ter duas funções: porta-bebê e porta-câncer.”. De imediato autorizei a cirurgia, feita com maestria por ele, meu primo, padrinho de casamento e grande amigo. Nunca me arrependi. Que o Senhor o tenha na anta glória.
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“Hora de nos aprofundarmos sobre as questões tecnológicas”
Hélio Augusto Abreu
O texto “Marco Civil da Internet tenta pôr ordem naquilo que se esvai pelo ar” (Jornal Opção 2022) é muito interessante e instigante. Faz-nos pensar nas estratégias adotadas pelo governo com relação a simplesmente atender a um apelo tecnológico momentâneo ou nos aprofundarmos realmente em um estudo para chegarmos a elaboração série de medidas que nos colocam na vanguarda tecnológica que possa se moldar de acordo com as inovações.
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“Resenha à altura de Vargas Llosa”
Maria Helena Coutinho
Excelente a resenha “Mario Vargas Llosa mostra que a cultura está a serviço do espetáculo” (Jornal Opção 2020, caderno Opção Cultural). O autor, Salatiel Soares Correia, vai além do conhecimento da obra do escritor peruano. É realmente culto.
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“Bakunin, abnegado defensor das classes oprimidas”
Nestor Máquino
Parabéns a Carlos Russo Jr. e ao Jornal Opção pela boa matéria “Bakunin: agitador, internacionalista, libertário e antiautoritário” (caderno Opção Cultural, edição 2021). Bakunin é, sem dúvidas, o principal expoente do socialismo anarquista e um dos mais injustiçados teóricos das ciências sociais. Isso sem contar que foi um dos maiores exemplos de abnegação e firmeza na defesa dos interesses das classes trabalhadoras e oprimidas.
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“Parabéns por não distorcer a história”
Álvaro Freire
Parabéns ao jornalista Marcos Nunes Carreiro por seus artigos, sempre cheio de lucidez e isenção. Venho acompanhando seus artigos e me surpreendo positivamente a cada um que vejo. Parabéns por não distorcer a história, como faz a maioria dos grandes meios de comunicação, de maneira que não se conheça a verdadeira história de nosso País. Uma mentira contada várias vezes acaba como verdade. E isso não é por acaso: é tudo arquitetado e planejado.
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“Com medo de viver”
Thyrza Flores
Sem entender tamanha violência dos últimos tempos. Pedi a Deus mais tempo e me vejo com medo de viver.