“O normal seria as pessoas defenderem interesses coletivos”
19 março 2016 às 09h51
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Lá pelos idos dos anos 1980, um certo poeta denominado Renato Russo nos alertou com uma simples frase: “Que País é este?”. Este mesmo poeta, depois, escreveu um verso: “festa estranha, com gente esquisita, eu não estou legal”… Este é o nosso País e o nosso povo, que mantém o foco na festa mas não se preocupa com as mínimas coisas que dizem respeito à melhoria de sua vida, condição “sine qua non”. A preferência é pela baderna e não diminuição da perda.
Outro grande poeta dos anos 80, de nome Cazuza, enalteceu algumas palavras que não vão se perder: “A tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos”. Assim como ele, o povo brasileiro é muito “exagerado”, e com seus exageros nunca chega a lugar algum.
A mediocridade e a utopia fazem parte desta Nação. São coisas arraigadas no âmago e no DNA da população brasileira, a ponto do absurdo tamanho que um conhecido escreveu nas redes sociais: “Praticando o exercício da civilidade”. Que civilidade? Participar da mancha de protesto dos loucos por poder? Colocar o manto sagrado – diga-se camisa verde e amarela e a bandeira nacional – e mostrar-se patriota? Lutar na guerra ninguém quer, não é?
É belo aparecer na mídia e criticar o vazio. Mas abrir mão dos seus ganhos e salários, de seus patrimônios e propriedades, de suas viagens, de suas vantagens e de suas propinas, para melhoraria de toda a nação, ninguém quer, não é vero? Várias pessoas que não tinham nada num determinado governo e que agora possuem vantagens e patrimônios, estavam protestando contra o outro governo. Por que será mesmo? Para melhorar a condição social do país ou simplesmente para continuar aumentando seus ganhos? Patético.
Tudo isso seria cômico se não fosse trágico. O normal seria as pessoas estarem em defesa dos interesses coletivos. Mas o que se vê, é simplesmente a disputa pelo poder, pelo ganho indiscriminado e pela manutenção da massa assoberbada e arrebatada, nos pântanos da pobreza extrema. Igualmente, como já bem esclarecido pelos estudo de Michel Foucault, a disputa pelo poder é um divisor de águas. O poder é a mola propulsora, é o motor que impulsiona todos esses fatos, tornando os menos afortunados de pensamento e ideologia, uma nova massa de manobra midiática e uma nova classe manipulada pela perda do poder.
Ou simplesmente, porque os manobrados não admitem que o sejam. Lastimável.
Não tem nada a ver com discurso político-partidário, de qual lado estamos. O objetivo é uma disputa desleal, velada e sagaz, onde o objeto central é a manutenção do “status quo”, do ganho já conquistado, dos valores desvelados. Infelizmente, ninguém está manifestando por um país melhor, mas sim pela melhoria dos seus ganhos próprios.
O Brasil e os brasileiros sempre foram assim, e sempre o serão. Adoram o “pão e circo”, mas se esquecem de que depois eles próprios precisam limpar o coliseu. A mídia e os partidos políticos são autocratas, para não dizer “antropodercêntricos”. Nunca irão perder a centralidade do Poder.
Como sou faixa preta, não preciso me esconder por trás de rótulos e fazer de conta que a situação irá melhorar por causa de uma veste ou outra. Fico muito entristecido em pensar que a atitude das pessoas só é momentânea, pois quando chega a “hora H”, que é nas urnas, não fazem o mínimo esforço para mudar a situação atual do país. É triste essa utopia e essa desfaçatez de momento.
Leonardo Ângelo Stacciarini de Resende é advogado e professor de educação física.