Edêrgenio Vieira

Foto: Ryan Pierse/FIFA
Foto: Ryan Pierse/FIFA

Desde que o craque Andres Iniesta, da seleção espanhola, fez o gol na prorrogação na final da Copa da África do Sul, contra a Holanda, o mundo do futebol voltou os olhos para o Brasil. A Holanda é aquela que produziu a famosa “Laranja Mecânica”, time que jogava como uma orquestra, regida, é claro, por um maestro elegante de nome Johann Cruijff. Era uma equipe extremamente tática, fazia a bola rolar de pé em pé, em jogadas ensaiadas com admirável talento coletivo. Qualquer semelhança com o “tik tak” espanhol — apesar de o relógio dar sinais de que quebrou — não é mera coincidência.

O nome Laranja Mecânica foi inspirado no filme homônimo do excelente Stanley Kubrick. É bem provável que o intelectual José Maria e Silva tenha assistido não uma, mais inúmeras vezes o filme, como também lido o livro de Anthony Burgess, de 1962, que inspira a adaptação para o cinema. Infiro que o sr. Silva tenha contemplado e analisado este que é um dos clássicos da sétima arte, por isso não falarei do enredo: torna-se dispensável. Gostaria de destacar uma das características do protagonista: Alex DeLarge (Mal­colm McDowell) é um sociopata carismático, cujos interesses incluem música clássica (principalmente Beethoven), estupro e ultraviolência. Ele lidera uma pequena gangue de arruaceiros (Pete, Georgie e Dim), a quem ele chama de drugues (da palavra russa друг para “amigo”, “camarada”).

Alex narra a maioria do filme em Nadsat, gírias adolescentes compostas por corruptelas de idiomas eslavos (principalmente russo), inglês e cockney. Aqui eu recomendo àqueles que não conhecem o livro nem o filme assistam ou leiam. As duas obras são “fantabulosas”. O leitor deve se perguntar: mas o que o filme “Laranja Mecânica” tem a ver com o habilidoso articulista do Jornal Opção, José Maria e Silva? Penso eu que Alex, o protagonista do filme, lembra um pouco, um pouquinho, o sr. Silva.

José Maria e Silva está sempre disposto a vociferar contra tudo e contra todos. Seus ataques dirigem-se quase sempre a três temas: as cotas, a educação brasileira e, como não poderia deixar de ser, ao PT e “tudo que ele representa”. No artigo intitulado “Copa do Mundo prova que a doença do Brasil é o futebol” (Jornal Opção 2032), Silva elege mais um item ao qual decide vociferar. Aquele que é o esporte preferido de oito em cada dez brasileiros: o futebol.

José Maria e Silva faz parte de uma seleção brasileira de pessimistas, que inclui: Olavo de Carvalho, Demétrio Magnoli, Diogo Mainardi, entre outros. Mainardi, Magnoli e Carvalho adoram ser tratados como pessimistas. José Maria e Silva, para usar uma metáfora futebolística, também joga nesse time. Contudo, o pessimismo de Silva, não é nada sedutor e lírico como um pessimismo schopenhaueriano. Está, aliás, longe disso. Zé Maria — permita-me chamá-lo assim camarada? — me traz à memória o nome do lateral direito da seleção brasileira de 70 e 74, considerado o melhor lateral direito da história do Corinthians.
Pronto, Zé Maria. Está aqui a deixa para sua tréplica. Fale do Corinthians, que graças ao Lula construiu o Itaquerão com dinheiro público, do BNDES, o mesmo BNDES que turbinou as finanças e transformou o Grupo JBS do antes postulante ao governo de Goiás, Júnior Friboi, em um dos maiores conglomerados financeiros do mundo. Esse é o capitalismo à brasileira, financiado com dinheiro público…

Zé Maria, na ânsia de criticar e soltar sua inconfundível verborragia, recheada de referências a Marcel Proust ou mesmo Agatha Christie acaba transformando seu texto num “samba do crioulo doido”. Com toda reverência e respeito ao samba e ao crioulo que, se sabe sambar, nunca poderia ser doido, pois já diz a letra, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”.

A Copa é o menor dos nossos problemas, caríssimo Zé Maria. Aliás, quem dera nosso problema fosse a Copa. Os mesmos que criticam a Copa no Brasil, e José Maria é um deles, seriam os primeiros a vociferar contra o PT e dizer de sua incompetência em não conseguirem trazer a Copa para o Brasil, caso esta estivesse acontecendo em outro país.

Diversos autores românticos do Século XVIII no velho continente — aqui cito Herder, mas existem outros — acostumaram-se a criar identidades nacionais como fantasias sociais e psicológicas de massas com a capacidade de identificar um povo consigo mesmo. Logo, percebemos que ao alemão cabe a disciplina e o amor à ordem; aos britânicos, o espírito mercantil e a práxis do autogoverno; aos franceses, a “joie de vivre” e amor à liberdade, igualdade e fraternidade.

Inúmeros autores, de Hegel a Ranke, afirmam que os povos que são incapazes de forjar tais assinaturas estavam fadados a não desempenhar qualquer papel na história. Logo, sob o viés culturalista e romântico, que permanece vivo na expansão das ideologias radicais do século XX e XXI, acredita-se que um povo para se afirmar, enquanto nação, enquanto tal deveria ser, impreterivelmente, um portador de cultura própria e capaz de identificá-lo no conjunto do concerto das nações.

Muitos intelectuais brasileiros — cito Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Junior ou mesmo Gilberto Freyre — procuraram, no primeiro quarto do século passado, estabelecer a especificidade da cultura brasileira, de ser brasileiro, sua natureza e seu sentido. Ora, o que há de mais brasileiro do que o futebol, senhor Zé Maria? Não misture alhos com bugalhos ao dizer que “Torcer pela Seleção Brasileira nesse momento é como comprar droga na boca de fumo e fazer de conta que esse ato não financia o tráfico”. O futebol nos explica a capacidade do povo, em especial dos negros brasileiros, em apropriar-se de complexos culturais europeus e reproduzi-los enquanto marcador original da cultura brasileira. Nós nos apropriamos do futebol europeu, britânico em suas origens, tanto que nos primórdios do esporte bretão um bom capitão de time que se prestasse deveria ter em seu repertório um vasto conhecimento na língua da Rainha.

Esse mesmo esporte elitizado e britânico em sua gênese foi reinventado por nós brasileiros, pelos negros como parte da resistência cultural, rompendo com as regras das elites nacionais, abrindo as portas das equipes de futebol para o povo e conquistando para sempre o coração de todos os brasileiros. O futebol explica nossa irreverência, nossa ginga, nosso jogo de cintura para driblar a falta de hospitais, educação precária, o trânsito caótico e o transporte coletivo. O futebol pa­ra alguns, especialmente aos negros é a maneira mais rápida para ascender socialmente. Porque o futebol é ainda o que nos resta, mesmo que seja vendo de longe e pela TV. E, como todo brasileiro, também vou dar uma de gato-mestre: comecei falando da Holanda e do Carrossel Holandês e termino com eles, acho que essa vai ser campeã.

Edergênio Vieira é professor de Políticas Públicas em Educação no Instituto Federal de Ciências e Tecnológica de Goiás IFG/Campus Anápolis.

“Estava em Goiânia quando cassaram Iris Rezende”

Athos Cardoso

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A versão apresentada na matéria “A verdade sobre o golpe militar em Goiás” (Jornal Opção 2021) merece uma profunda investigação. Logo depois da cassação do então governador Mauro Borges, já capitão, fui transferido do BGP para o 10º BC em Goiânia. Havia lido “Torturados e Torturadores” que tratava muito do caso dos poloneses e da cassação, totalmente absurda, do Mauro.
Estava em Goiânia quando cassaram o então prefeito mais jovem do Brasil, Iris Rezende. Foi uma comoção no quartel. Todos gostavam dele, do coronel comandante ao cabo corneteiro. Não houve jeito, o moço foi cassado. Eu estou colhendo dados para escrever “O Ovo da Serpente”. Em Goiânia, graças a uma politiquinha de “caipiras”, foi criando forma a serpente dos atos que resultou no AI-5. É preciso investigar mais. Pena que esta “Comissão da Meia Verdade” é parcial e não aceita colaboração.

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“Os brasileiros não assumem seus papéis”

Barbara Esteves

Acho engraçado como sempre os brasileiros querem buscar apenas um “bode expiatório”. Para mim, o grande problema do Brasil é que as pessoas não assumem seus papéis. Os legisladores não legislam; os assessores não assessoram; os engenheiros não fazem projetos decentes; os gestores não fazem gestão. E por aí vai. Certamente a figura da presidente Dilma Rousseff é a mais alvejada e cobrada por todos. Todavia, é incongruente pensar que os “problemas do Brasil se iniciaram ou estão sendo piorados pelo governo do PT”. Os brasileiros, a meu ver, devem assumir a responsabilidade de suas escolhas e apoiar medidas que nos aproximem da justiça social, aproveitando que hoje não se pode esconder esqueletos no armário como 15, 20 ou 30 anos atrás.

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“Ainda me lembro como a economia interferiu em nossas vidas”

Luciane Lima

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Praticamente um ano após a publicação deixo meu comentário. Sou filha do agricultor Valdecir mencionado na matéria “A saga de um povo em busca de uma moeda” (Jornal Opção 1957). A matéria diz: “Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o agricultor Valdecir Ferreira Lima, ao tomar conhecimento de que todo seu dinheiro aplicado no overnight para a educação dos filhos estava bloqueado, fez algo completamente irracional: arremessou seu Chevette contra as vidraças de uma agência do Banco Safra”. Até hoje me lembro com muito horror sobre como a economia interferiu ferrenhamente em nossas vidas, de todos os brasileiros, e como sempre atingindo os mais fracos.

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“As pessoas são muito hipócritas sobre animais em laboratório”

Mariana Maciel

Concordo plenamente com o que disse o professor Elder Sales no artigo “E se não usássemos os animais… ou vegetais?” (coluna “Bio Lógica”, Jornal Opção On-Line). As possibilidades de estudo para formas de cura, de medicamentos, vacinas etc. ficariam muito limitadas, se é que haveria possibilidades. As pessoas são muito hipócritas em dizer que não se deve fazer isso com os animais, pois na hora em que é lançado na mídia que a cura foi encontrada para determinada doença são os primeiros a comemorar. Sequer se lembram de que, para se chegar àquele resultado, foram feitos diversos estudos e testes em animais.

Os cientistas não estão ali para maltratar ou torturar os bichos, mas, sim, para buscar formas de melhorar, qualificar os meios de reabilitação em saúde. Olhando para a situação dos animais, é claro que a gente se sente mal, mas até então é a forma mais viável para fazer estudos das reações de medicamentos, aparelhos e demais técnicas simulando o corpo humano, possibilitando então a evolução do conhecimento científico sobre as formas de cura em saúde.

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“Ética virou palavrão na política brasileira”

Josuelina Carneiro

A palavra ética pode ser considerada palavrão entre os políticos que vêm de todas as regiões do Brasil para a capital. A maioria da população brasiliense, como a do País inteiro, reclama da desonestidade e da falta de ética reinantes na vida pública. Os deputados federais Luiz Pitiman (PSDB-DF) e Antônio Reguffe (PDT-DF) parecem sérios e éticos, mas, em meio aos velhos, viciados e trambiqueiros políticos, pouco poderão fazer. O velho modo de fazer política ainda continua. Ou seja: aumento para o servidor público, shows artísticos (que adoçam a boca dos mais humildes e menos esclarecidos, ou a turma do que “eu quero é aproveitar”), distribuição de lotes, cestas básicas, bolsas variadas, construção de casas sem infraestrutura e por aí vai. Após fazer seu pé de meia e usufruir dos privilégios, o político em geral deixa o rombo para o sucessor pagar. É assim que funciona.
O Brasil caminha para a fa­lên­cia total. Eles abarrotam as instituições com comissionados e assessores em retribuição pelo bem que lhes fizeram, elegendo-os. Na hora de tomar decisão drástica para conter a sangria desatada com a verba pública, eles não se arriscam. Empurram o problema. Coragem e determinação são coisas que lhes faltam. Se a folha de pagamento dos servidores ultrapassa a arrecadação, o que eles fazem? Protelam. Não querem ser vistos como antipáticos e insensíveis perto de ano eleitoral. O ideal seria mão de ferro para conter o descontrole reinante, seja em Goiás ou em outro Estado. Político sério é aquele que tem o desprendimento de perder algo que muito lhe interessa se for em benefício do País e da população. Conhece algum?

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