Dívida de centenas de milhões da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), pacientes morrendo na fila de espera por vagas na UTI, médicos e enfermeiros anunciando paralisação devido às condições de trabalho, falta de insumos nas unidades de saúde, secretário preso investigado por corrupção, nova secretaria entregando o cargo uma semana após tomar posse, e intervenção do estado na pasta municipal. Esses são alguns dos pontos que destacam a situação calamitosa que o sistema público de saúde de Goiânia vive. Apesar de muitos chamarem o que se vive de crise, isso é ser otimista, já que o descaso com a pasta se mostra como algo recorrente na atual gestão. 

A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde do Estado de Goiás (SindSaúde-GO), Neia Vieira, resume: “crise é algo agudo, e nós estamos vivendo um problema crônico na saúde”. 

Não apenas Rogério Cruz (Solidariedade) e o ex-secretário Wilson Pollara são culpados pela situação que se vê nos dias de hoje. São grandes responsáveis? Sim, mas não os únicos. O sistema tripartite do poder vincula as ações do executivo ao aval e vigilância do Legislativo, portanto, vale questionar: onde estavam os vereadores de Goiânia durante os outros anos de gestão? 

Em repetidas prestações de contas do chefe do Executivo Municipal na Câmara de Vereadores, Rogério Cruz apresentava dados que indicavam superávit na arrecadação do município e, ao mesmo tempo, déficit na receita geral. Na prestação de contas do 2º e 3º quadrimestre de 2023, por exemplo, o relatório apresentado pela Secretaria de Finanças (Sefin) mostrou que as despesas subiram mais de R$1 bilhão entre 2022 e 2023, um salto de R$7,10 bilhões para R$ 8,34 bilhões, sendo uma das maiores variações nos gastos envolvendo pessoal e encargos, que subiu de R$ 3,39 bilhões para 4,21 bilhões no comparativo entre os anos.

“O déficit pode acontecer em qualquer momento. Mas não se preocupe que nós estamos trabalhando para que isso seja restabelecido”, tranquilizava o prefeito. 

Ao longo do mandato de Cruz foi possível ver atuação intensa de órgãos de fiscalização como o Tribunal de Contas do Município (TCM), o Ministério Público de Goiás (MPGO) e entidades representativas dos servidores da Saúde, como o Cremego, Simego e SindSaúde-GO. Entretanto, para além de dois ou três parlamentares de oposição mais consistente, os vereadores da Câmara de Goiânia não questionavam muito intensamente as movimentações do prefeito. 

Até o início deste ano, quando começaram a se mobilizar de forma mais visível, a Casa de Leis da capital assistiu atônita às trocas de secretário, ignorou as denúncias feitas pelas entidades sindicais ligadas à Saúde e aprovou as prestações de contas de Cruz. “A Prefeitura de Goiânia não chegou nessa situação sozinha. Não foi apenas responsabilidade do Executivo”, provocou Neia, ao resumir a situação.

Que o desrespeito crônico à Saúde de Goiânia que se vive hoje sirva de alerta para todos os parlamentares que aplaudiram cada apresentação de Rogério Cruz (Solidariedade), aprovando toda e cada uma das ações de sua equipe, que levaram ao caos que se vive hoje. 

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