Anitta adere à esquerda e ao guru DiCaprio mas mostra que entende pouco de Brasil

12 maio 2022 às 12h31

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Patrulhada ideologicamente, a cantora se apresenta como crítica de Bolsonaro e nem percebe que China e os Estados Unidos são os maiores poluidores mundiais
Cilas Gontijo
O sociólogo José Guilherme Merquior sugeria que cantores e atores não têm a obrigação de apresentarem argumentos intelectuais a respeito de tudo. Porém, nos novos tempos, os das redes sociais, todos, ou quase todos, manifestam suas opiniões e, às vezes, são endeusados. Não pelas ideias em si, mas pela fama.
Anitta é talentosa como cantora e empresária. Porém, quando se comporta como analista política, há ressalvas a se fazer. A força do que diz não advém de seus argumentos, e sim da fama. Tipo: “Se a Anitta diz, então é verdade”. A rigor, ela se tornou uma palpiteira. Porque encontrou uma plateia favorável, quer dizer, um novo público, que, quem sabe, também se tornará consumidor daquilo que ela, habilmente, produz.
No Twitter, tempos atrás, Anitta escreveu: “Não apoio e nem quero fazer campanha para nenhum político, é um direito meu não querer opinar sobre política e eu só estou exercendo esse direito, não quero ser obrigada a odiar ninguém por isso, não quero ser obrigada a fazer campanha política, quando não foi esse o trabalho que escolhi, é totalmente incoerente dizer que eu apoio a morte à comunidade LGBTQ — quando eu faço parte dela”. A artista vinha sofrendo pressão para se pronunciar publicamente a favor do ex-presidente Lula da Silva.

A cantora resistia à patrulha ideológica de parte de seus fãs, à esquerda. Entretanto, sob pressão de artistas, Anitta sucumbiu. A cantora Daniela Mercury cobrou que a jovem artista saísse de cima do muro e descesse do lado do PT, ou seja, que se integrasse à campanha #EleNão.
Uma pergunta final: a esquerda está usando Anitta, para atacar Bolsonaro, ou Anitta está usando a esquerda para ganhar ainda mais dinheiro?
Definindo-se pela canhota, Anitta se jogou de corpo e alma na pré-campanha de Lula para presidente. Ela não tem economizado esforço para convencer seu público, na maioria composto de jovens, a votar em seu candidato.
A cantora promoveu lives e participou de um programa com a comentarista Gabriela Prioli, da CNN Brasil. Não mostrou preparo. Não soube, por exemplo, informar as finalidades específicas dos três poderes da República: Executivo, Judiciário e Legislativo.
Numa live, Anitta disse que não gostaria de ser nem de esquerda nem de direita. Frisou que não concorda quando dizem que Bolsonaro não fez nada de valor. Porque é possível que algo seja bom no governo. Chegou a sugerir que a pressão ideológica lhe faz mal. Ela se decidiu pela esquerda por receio de ser cancelada.
Porém, pelo visto, Anitta mudou de posição. Assim como outros artistas, entrou de vez na campanha contra o governo federal. Recentemente, junto com artistas de esquerda, participou da campanha para que jovens de 16 anos acima tirassem seus títulos de eleitor. A priori, é uma ação em defesa de cidadania. Mas a intenção real é outra. O que se quer é que tais jovens votem em Lula. E, claro, contra Bolsonaro. “Vamos tirar Bolsonaro do poder”, vociferou a “política” Anitta. Mas como fica a democracia, ou seja, o direito de as pessoas opinarem e decidirem por si em quem querem votar?
Morando nos Estados Unidos, Anitta uniu-se a famosos lacradores em defesa da Amazônia, tema sobre o qual parece não ter conhecimento preciso. Num vídeo, a cantora afirma que toda a terra do Brasil pertence aos indígenas. Chegou a dizer que, se forem à sua casa, se sentirá na obrigação de deixar que morem nela. Trata-se de hipocrisia? É o mais provável. Como se sabe, Anitta mora em residências protegidas, portanto inacessíveis. De sua imensa fortuna — 553 milhões de reais, segundo a revista “Forbes” —, a cantora já doou quantos centavos para a causa indígena? É provável que nada. Se doou, please, divulgue.

Anitta afirma que os indígenas são os maiores preservadores da natureza. Certo: muitos são mesmo. Mas há indígenas que são coniventes com garimpos ilegais. É preciso discutir o que é geral e o que é específico, admito.
Tida como “financista”, pois tem ligação com o Nubank, Anitta está estudando política, meio ambiente e agronegócio — o que é louvável. Por enquanto, não tem sido uma boa aluna. A cantora declarou que o gado e a agropecuária são os responsáveis pela destruição das florestas. Para reduzir o consumo, a artista defende o aumento do preço da carne. Noutras palavras, talvez sem querer, a estrela internacional está sugerindo que só os ricos devem consumir carne. Sua ideia é contraditória com o socialismo ao qual recém-aderiu.
Anitta avalia que gado é só carne? Na próxima aula sobre agronegócio, seu mestre poderá explicar que bolsas, blusas, sapatos e sofás, em alguns casos, derivam do couro do gado.
A cantora fará algum comercial sobre produtos de beleza e automóveis? Nos bancos, em determinados veículos, o couro é de gado. Nos pneus dos veículos pode estar presente a gordura do boi, que possui ácido esteárico, usado para conservar a forma do pneu sobre atrito intenso.
Sabe de onde vem a insulina para diabéticos, cara Anitta? Do pâncreas do boi ou de uma vaca. Sabe o queijo? Para se fazer um queijo precisa-se do coalho e é exatamente do bucho que é extraído a renina para a produção do coalho.

Como se sabe, Anitta viaja para o exterior de avião. Então deve saber que no mocotó existe um óleo usado nos lubrificantes aeronáuticos. Se precisar de raios x, ou se vai saborear um sorvete, é preciso saber que é das canelas do boi que vêm os ingredientes. A cantora é dona dos cachorros Tobias, Plínio, Charlie e Olavo. Pois a ração deles é feita de ossos do boi e da vaca.
Até as cordas dos instrumentos dos músicos que acompanham Anitta, e de outros músicos, derivam da carcaça do gado. Enfim, a sobrevivência de milhões de famílias depende do agronegócio.
Anitta se encontrou com Leonardo DiCaprio e disse que o ator americano entende mais sobre florestas do que Jair Bolsonaro. O presidente respondeu: “Eu converso todos os dias com milhares de brasileiros. Não são famosos, mas são a bússola para nossas decisões, pois ninguém defende e sabe mais sobre o Brasil do que seu próprio povo”. De acordo com publicação da revista “Veja”, o desmatamento na Amazônia foi maior nos governos FHC e Lula. O levantamento foi feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foi divulgado no próprio site do PT. O sabe-tudo de Hollywood não deve ter dito isto à brasileira Anitta.
Bolsonaro disse a Anitta e ao seu novo guru, Leonardo DiCaprio, que o Brasil possui a matriz energética mais limpa entre os países do G20, e dentre eles estão os Estados Unidos, terra do ator, França e Alemanha, que são outros dois países que não param de dar pitacos sobre a Amazônia.
Sobre menores de idade, Bolsonaro disse: “Que bom que concordam comigo sobre incluir os jovens nas decisões dos rumos do país. Certamente também concordam que aqueles que escolhem o caminho do mal, do homicídio, do estupro, também são maduros para responder por seus atos”.
Num vídeo com o deputado Alessandro Molon, do PSB do Rio de Janeiro, Anitta assegura que o “pum” (o gás metano) das vacas é o maior responsável pela “poluição”. A cantora deveria diz, para mostrar que é bem-informada, que a China é a maior poluidora do planeta — e quase não tem gado. Por sinal, o país de Leonardo DiCaprio é o segundo maior poluidor da Terra. Porque é o país mais industrializado do mundo. O Brasil ocupa o 13º da lista, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Por esse motivo o presidente pede que Anitta aconselhe seu amigo Leonardo DiCaprio, já que ambos estão muitíssimos preocupados com a poluição do planeta, a se desfazer de seus jatos e iates. “Esses veículos soltam mais CO2 na atmosfera em um dia do que dezenas de famílias brasileiras em um mês. Antes de sair dando lição, é preciso dar exemplos.”
Uma pergunta final: a esquerda está usando Anitta, para atacar Bolsonaro, ou Anitta está usando a esquerda para ganhar ainda mais dinheiro?
Cilas Gontijo é estudante de Jornalismo na Faculdade Araguaia.