Rejeição pauta disputa eleitoral e deve ser principal desafio de novo presidente do Brasil
05 outubro 2022 às 18h50
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Os primeiros dias de campanha para o segundo turno da corrida presidencial escancararam o teor das eleições 2022 em todo o país: a rejeição foi o principal motor das campanhas. Seja por parte das estratégias oficiais de partidos ou do posicionamento de militantes. Apostar no ódio ao adversário parece ser o principal viés de dois lados.
Se a adoção de um método massificado de produção e repasse de fake news baseada no anti-petismo move o bolsonarismo desde a campanha de 2018, agora foi a vez do anti-bolsonarismo ensaiar uma resposta. Ainda na campanha, o que se viu foi um vasto esforço pela mobilização do voto útil, na intenção de agregar votos para Lula (PT), apontado como único capaz de barrar o avanço de Bolsonaro no país. Foi a estratégia, inclusive, que agravou ainda mais os atritos entre o ex-presidente petista e o então candidato Ciro Gomes (PDT), que mesmo tendo confirmado apoio ao ex-adversário para o segundo turno, deixou clara a insatisfação com a postura durante a disputa.
Agora, a militância tenta destacar ainda mais os lados falhos de Bolsonaro (PL), especialmente diante dos olhos de grande parte de seu eleitorado: os evangélicos. O que se viu na primeira semana de segundo turno foi uma série de associações do candidato a elementos normalmente condenados pelos cristãos, como presença na maçonaria, defesa do aborto e diálogo com sauditas pouco tolerantes ao cristianismo. As vítimas do anti-petismo, agora usam do anti-bolsonarismo para seguir a mesma cartilha de estratégias para tentar impedir a reeleição do atual presidente.
Ao que parece, a polarização entre petistas e bolsonaristas tem, de fato, pouca motivação na identificação de eleitores com as personas ou pautas defendidas por cada um dos candidatos. Especialmente nas discussões online – que muitas vezes seguem regras e linhas de raciocínio peculiares, frequentemente destoantes da lógica do mundo real –, os principais argumentos para votar em qualquer uma das opções apontam sempre para o mesmo caminho: a total repulsa pelo retorno do adversário ao poder.
Em Goiás, a eleição para o Senado também viu a mesma lógica nas urnas. Liderando as pesquisas de intenção de voto com folga durante todo o período de campanha, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) não conseguiu superar a rejeição e foi vítima de uma ascensão não prevista do adversário Wilder Morais (PL), que garantiu a única cadeira disponível para o Estado na disputa deste ano.
O que não estava previsto – ou foi ignorado pela campanha, por opção, fé ou estratégia – era um tremendo avanço de Wilder, que figurava apenas em terceiro nas principais pesquisas. Não era surpresa, porém, que os dois primeiros colocados – Marconi e Delegado Waldir (UB) – lideravam também os quesitos de rejeição. Somado a isso, o alto índice de indecisão parece ter sido convertido em grande parte para o candidato do bolsonarismo.
Em Goiás, o Senado viu a coroação do bolsonarismo (intrinsicamente movido pelo anti-petismo), mas também do anti-marconismo e, talvez, até mesmo do anti-peessedebismo, registrado em todo o país com a conversão do partido em nanico no cenário político.
Por ora, o movimento dos antis viu um forte crescimento dos anti-petistas nas eleições legislativas de todo o país. Para a Presidência, Lula mostrou pequena vantagem no primeiro turno, mas vai depender da manutenção da rejeição para repetir o feito no segundo e retornar ao Planalto. Independentemente de quem levar, a rejeição de cerca de metade do país não ficará só na disputa eleitoral, mas deve pautar também a próxima gestão ao longo dos próximos quatro anos.