O tiro pela culatra da extrema-direita e a reação do Brasil às tarifas de Trump

12 julho 2025 às 21h00

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A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros por parte do presidente norte-americano Donald Trump representa uma escalada unilateral e politicamente motivada nas relações entre Estados Unidos e Brasil. A medida, anunciada nesta semana, foi justificada por Trump como uma resposta à suposta “perseguição” contra seu aliado político Jair Bolsonaro, além de críticas à atuação das autoridades brasileiras diante de empresas americanas de tecnologia. No entanto, o argumento não se sustenta do ponto de vista econômico e jurídico. Trata-se, na verdade, de uma retaliação explícita de conteúdo ideológico, que utiliza a política comercial para interferir na soberania jurídica de outro país.
A decisão de Trump revela o uso de instrumentos de comércio exterior como mecanismo de chantagem política, com o objetivo de pressionar o governo brasileiro a recuar em seus processos legais contra Bolsonaro. A gravidade dessa atitude está no precedente que estabelece: o de um país se utilizar de sua força econômica para proteger aliados políticos acusados de crimes graves em sua nação de origem. É um ataque à autonomia das instituições brasileiras e um desrespeito às regras internacionais do comércio. Até o momento o tarifaço ao Brasil pegou mal no mundo inteiro; aqui dentro de casa, o discurso e a celebração de militantes bolsonarista também não pegou bem e a extrema-direita não conseguiu tomar conta desta pauta.
O impacto da medida não se limita ao campo diplomático. Economicamente, ela atinge setores relevantes da exportação brasileira, como o de café, suco de laranja, carne bovina e têxteis. Afeta também o consumidor americano, que verá aumento no custo de itens de consumo básico, já que não há substituição imediata para produtos com o mesmo preço e qualidade oferecidos pelo Brasil. A reação no mercado internacional foi de alerta, com economistas e especialistas apontando o risco de abertura de uma guerra comercial e de ruptura na credibilidade das relações econômicas multilaterais. O próprio gesto de Trump foi visto por analistas como eleitoreiro, direcionado a agradar sua base interna e os defensores de Bolsonaro no Brasil.
Dentro do país, a extrema-direita brasileira, representada por parlamentares bolsonaristas e aliados como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tratou o ataque como uma demonstração de força de Trump e declarou em uma rede social: “Grande dia”. A postura é, no mínimo, vergonhosa. Celebrar sanções que prejudicam economicamente a população brasileira e que afrontam diretamente o governo eleito democraticamente é um ato de subserviência ideológica e deslealdade institucional.
Desde a derrubada do decreto do IOF pelo Congresso Nacional os agentes da extrema-direita se viram sem pauta e sem discurso, porque este se voltou contra a direita bolsonarista e contra sua agenda. A reação de Trump, o que seria uma estratégia do bolsonarismo, articulada pelo filho do ex-presidente, deputado Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde o dia 27 de fevereiro, mas novamente o tiro saiu bem errado, principalmente por conta da reação interna de várias organizações, federações e associações de todo o setor produtivo brasileiro que foram críticos ao carater eleitoreiro com destaque ao prejuízo econômico. Ou seja, parte robusta do apoio ao bolsonarismo veio contra a medida do líder de extrema-direita que impôs aumento de tarifas simplesmente com caráter eleitoreiro.
O governo Lula, por sua vez, adotou uma posição firme e responsável. O presidente deixou claro que o Brasil quer negociar e manter boas relações com os Estados Unidos, mas exigiu respeito às leis brasileiras e à soberania nacional. Lula negou qualquer conduta antiamericana por parte do governo brasileiro e rechaçou a tentativa de atribuir as tarifas à sua retórica política.
A resposta do Brasil, ao contrário do que esperavam os articuladores da crise, foi dada com maturidade diplomática. Lula acionou os canais institucionais do Itamaraty, iniciou consultas formais com embaixadores e buscou apoio de parceiros internacionais para conter os efeitos do tarifário. A legislação brasileira permite a aplicação de medidas de reciprocidade e foi colocada em análise, mas o governo optou, inicialmente, por esgotar as vias diplomáticas. Essa escolha revela responsabilidade e inteligência estratégica. Ao não ceder à provocação, Lula amplia seu capital político interno e fortalece a imagem do Brasil como ator racional e equilibrado no cenário global.
Especialistas apontam que a postura agressiva de Trump, ao contrário de enfraquecer o governo Lula, acabou gerando efeito contrário. O presidente brasileiro passou a ser visto como defensor da soberania nacional e foi apoiado até por setores mais críticos ao seu governo. A estratégia de Trump, que visava criar instabilidade e favorecer o campo bolsonarista, pode ter falhado justamente por seu excesso de truculência e falta de base legal. A repercussão internacional tende a isolar os EUA em uma postura de confrontação, enquanto o Brasil ganha respaldo por defender a legalidade e o respeito mútuo entre as nações.
Em resumo, o tarifaço de Trump é mais um exemplo da tentativa de transformar relações comerciais em armas de pressão política. O uso da economia como ferramenta de chantagem ideológica deve ser condenado, especialmente quando afeta populações inteiras e busca interferir em processos legais legítimos. A resposta firme do presidente Lula, amparada em princípios diplomáticos e legais, demonstra que o Brasil não aceitará imposições externas nem permitirá que sua soberania seja negociada em função de interesses eleitorais de líderes estrangeiros. O caminho escolhido pelo governo brasileiro reafirma um compromisso com a legalidade, o diálogo internacional e a defesa do interesse nacional. Diante da agressão de Trump, Lula respondeu com altura, deixando claro que o Brasil não está à venda e que a democracia nacional não será intimidada por tarifas.