Desde 9 de maio de 2021, o dia 17 de outubro é lembrado como Dia da Música Popular Brasileira. A data foi escolhida em homenagem à pioneira da música nacional Chiquinha Gonzaga, nascida de 17 de outubro de 1847. O papel da pianista no nascimento de uma identidade musical brasileira é, de fato, inegável, mas a verdadeira expansão e consolidação da MPB como momento de efervescência cultural do país nasce a partir da Era dos Festivais, na década de 60.

É nesse período que artistas se veem numa posição de resistência civil contra a ditadura estabelecida no país, mas incisivos a partir do decreto do Ato Institucional nº5 (AI-5), baixado em 13 de dezembro de 1968. A partir da permissão de poderes autoritários, o governo tinha carta branca para, dentre vários outros, censurar a produção artística brasileira.

Foi dentro desse contexto que nomes essenciais da MPB se consolidaram como artistas de importância política. Emissoras como TV Excelsior, TV Record e TV Globo exibiam festivais que deram espaço ao nascimento das carreiras de gente como Caetano Veloso e Chico Buarque.

Em resposta a censura, a música tornou-se parte integral do protesto e da revolução. Artistas apostaram na responsabilidade social para usar a música como mensagem política, misturando referências oriundas da bossa nova brasileira com a música norte-americana. Dos Estados Unidos, vieram elementos de psicodelia que ajudaram a compor a Tropicália e referências das músicas de protesto de Bob Dylan e Joan Baez, por exemplo, contemporâneos do avanço de movimentos de contracultura e favor dos direitos civis.

Escritas há mais de 50 anos, porém, as obras parecem tratar do Brasil de 2022. Quando Caetano menciona a preguiça de quem lê tanta notícia, não dá para não pensar no formato de propagação de informações (ou desinformações) que pauta as eleições de 2022. Quem lê tanta notícia quando um título de WhatsApp é suficiente para pautar uma opinião?

Hoje, vemos o protesto resistir em movimentos como do rap, nos nomes de Emicida, Criolo, Djonga, Mano Brown e tantos outros, que ganharam reforço de sons nascidos também na representatividade LGBTQIA+. Seja no palco ou na postura fora deles, artistas como Pablo Vittar e Glória Groove levam diferentes vozes de revolução para propor mudanças e escancarar críticas sociais.

No dia em que se celebra a história da Música Popular Brasileira, é fundamental lembrar da história política do país. Da antiga e da recente. Enquanto uns amam daquela vez como se fosse a última, sobem a construção como se fosse máquina ou se sentam para descansar como se fosse sábado, lembremos dos muitos (quase 700 mil) que agonizaram no passeio público e morreram na contramão, atrapalhando o tráfego.

Apesar dos pesares, amanhã de ser um outro dia. E a MPB ainda estará lá por nós, para nós.