Brasil acima de tudo, mas meu pato ao vinho primeiro

19 julho 2025 às 21h00

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Na virada dos anos 80 para 90, no século passado mesmo, ou seja, ontem, o Brasil vivia uma pujança de identidades onde liberdades se construíam na identidade da juventude. Ao mesmo tempo também se formavam concentos e pré-conceitos de todos os tipos. Na virada da década, com o fim da ditadura militar, a sociedade vivia uma transformação na sua rotina diária e a expectativa de uma renovação nos rumos do país. O brasileiro enquanto sociedade sempre olhou mais para fora do que para dentro. A influência dos Estados Unidos no Brasil sempre foi algo bem presente a partir da Segunda Guerra Mundial (ante disso a França dominava o idealismo da alta sociedade).
Durante a Segunda Guerra, os EUA estavam preocupados com a aproximação de países latino-americanos com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Para evitar isso, o governo Roosevelt lançou a Política da Boa Vizinhança. Hollywood começou a mostrar o Brasil de forma exótica, simpática e então surge personagens como Zé Carioca, criado pela Disney.
No pós-guerra (anos 1950), o Brasil se urbaniza rapidamente e cresce o consumo de bens culturais americanos. Chegam com força o cinema de Hollywood, as músicas jazz e rock, os refrigerantes. O inglês se torna uma referência e uma aspiração principalmente para os jovens da elite.
Durante a ditadura militar (1964–1985), o Brasil se alinha aos EUA no contexto da Guerra Fria. Isso ampliou ainda mais a influência cultural. O EUA deram apoio técnico e econômico aos militares no contexto da Guerra-Fria. No dia 1º de abril de 1964 uma ordem sigilosa dos chefes do Estado Maior Conjunto dos Estados Unidos deu início ao maior deslocamento de unidades de combate até então realizado no Atlântico Sul. Era a “Operação Brother Sam”, que consistiu no envio de uma força-tarefa naval com destino ao litoral brasileiro em apoio ao levante dos quartéis que derrubou o presidente João Goulart com um golpe de Estado. Com a vitória rápida dos golpistas, a força-tarefa não chegou a entrar em ação em águas territoriais brasileiras. Teve sua rota cancelada no final da tarde de 3 de abril de 1964. A história da Operação Brother Sam permaneceu em segredo durante 13 anos. Só foi contada em 1977.
Nos anos 1990, após a queda da União Soviética, o poder de globalização dos Estados Unidos se consolidou com franquias de TV, moda e a internet quera dominada por empresas estadunidenses.
Durante esse todo esse período, para boa parte dos brasileiro, tudo que era bom era de fora, ou melhor, tudo que era bom, descolado e inovador vinha dos Estados Unidos. Virou o idealismo; o mesmo deslumbre que nos anos 20 havia com Paris e a identidade francesa na sociedade brasileira, que na época tinha a Europa como modelo.
A elite brasileira sempre esteve longe de casa, se encheu e contaminou o meio com o que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata, após a derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. O esse complexo de inferioridade já chegou até à Presidência da República quando o chefe do Executivo bateu continência para a bandeira dos Estados Unidos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o bolsonarismo vive de um idealismo utópico apelando para que os Estados Unidos atue, tal qual atuou financiando ditaduras e guerras. O então presidente que era o patriota agora revela sua face antibrasil e antibrasileiro. A conjuntura política dos últimos anos tem exposto, de forma inegável, os riscos relacionados à ambição desenfreada de líderes que não medem esforços para subverter os fundamentos da soberania e da democracia. Em meio a investigações que apontam para a tentativa de golpe e a utilização de manobras obscuras, a figura de Jair Bolsonaro emerge como um retrato das mazelas de um sistema que privilegia o poder a qualquer custo.
O que os pretensos candidatos a presidência farão a partir de agora. Já há empresários que querem distância do ex-presidente, porque a família está rifando o Brasil em nome de interesses pessoais. Isso porque doeu no bolso e quando doi na conta não tem quem que compre uma ideia maluca de articular com o presidente dos Estados Unidos para boicotar a indústria brasileira. Bolsonaro protagoniza uma verdadeira tragédia política – uma rifa organizada pela própria família para escapar das consequências judiciais, que se encaixa no mesmo repertório de estratégias utilizadas pelo magnata republicano norte-americano.
Ao traçar paralelos com a trajetória política de Donald Trump, fica claro que há uma convergência preocupante de estratégias e ideologias. Ambos os líderes utilizaram de artifícios que reforçam o culto à personalidade, a disseminação de informações tendenciosas e, sobretudo, a instrumentalização do poder para fins escusos. Enquanto Trump alimentava uma retórica de “América em primeiro lugar”, que culminava em políticas protecionistas e xenófobas, Bolsonaro – em sua vertente autoritária – aposta em discursos que desvalorizam a importância da soberania estatal e da integridade das instituições democráticas. Essa afinidade, que embora aparente, traduz-se na materialização de medidas que efetivamente atacam os pilares do Estado Democrático de Direito
Mas o drama político não se restringe apenas às fronteiras brasileiras. A influência da cultura política norte-americana, promovida e celebrada por figuras como Trump, encontrou terreno fértil em Bolsonaro. Essa simbiose é particularmente perigosa, porque transcende as barreiras de um mero campo eleitoral, se estabelece no âmago de uma ideologia que valoriza o autoritarismo, a rejeição à pluralidade e o desprezo pelas instituições democráticas.
Toda essa postura, ressentimento, ódio, interesses particulares foi o que colocou uma tornozeleira em Bolsonaro e levou bolsonarista, que adotaram políticos de estimação, para a prisão condenados a mais de 15 anos. Hoje a extrema-direita vive de ressentimento. Antes já não havia argumento com embasamento, porque para os militantes é tudo sobre como a vida deles é difícil, como o rico tem que ficar mais rico e sobre como o clã Bolsonaro precisa ser protegido.
Jair Bolsonaro e sua família demonstrou que para sempre ele será adepto a se colocar antes de tudo e todos e também se colocaram no papel de submissão, cujo o qual nenhum vira-lata se colocaria. Farinha pouca meu pirão primeiro. Para ficar mais adequado aos padrões de classe dos Bolsonaro, Brasil acima de tudo, mas meu pato ao vinho primeiro.