Um nome cobiçado pela oposição e pela situação

18 abril 2014 às 13h21

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Para valorizar ainda mais o próprio passe, líder ruralista Ronaldo Caiado recorre à estratégia de deixar para a undécima hora sua decisão sobre com quem vai se aliar

O deputado Ronaldo Caiado, do DEM, é cobiçado por praticamente todos os partidos que pretendem lançar candidato ao governo, para compor a chapa majoritária, na vaga ao Senado, cargo que o ruralista quer disputar. A exceção dos que querem Caiado é o PT, obviamente pelas diferenças ideológicas — embora petistas mais pragmáticos tenham falado em algum momento que sim, poderiam recebê-lo.
Espertamente, por saber que decisões importantes não podem ser tomadas de afogadilho, no emocional ou num quadro geral ainda nebuloso, Caiado segura sua definição. Se pudesse, se tivesse um partido mais forte e não dividido, ele se lançaria candidato ao governo. A maioria absoluta de deputados e prefeitos democratas, além do senador Wilder Morais, está com a base aliada governista.
Se não tem o controle de fato, mas tem o controle de direito do DEM goiano, Caiado tem o tempo da sigla para uma composição. O que é moeda de troca valiosíssima. Por isso os partidos querem Caiado, mas não só por isso. O líder ruralista é um político que certamente vai agregar à chapa que ele entrar, por ter um expressivo eleitorado cativo e por vocalizar um pensamento conservador que encontra eco em boa parte da sociedade.
O PMDB, hoje dividido entre iristas e friboizistas, quer o presidente do DEM goiano. Que já acenou algumas vezes sobre a possibilidade. Sendo Iris o candidato ao governo, as coisas ficariam mais fáceis. Principalmente se o PT insistir na candidatura solo de Antônio Gomide. Sem o PT na aliança, a barreira ideológica estaria quebrada.
Com Friboi as coisas ficam mais complicadas, uma vez que é por demais sabido o contencioso do líder ruralista com o frigorífico da família do empresário José Batista Júnior — uma história de oligopólio que historicamente prejudicaria os agropecuaristas brasileiros.
O PSB quis Ronaldo Caiado, que chegou a andar com o empresário Vanderlan Cardoso, o candidato ao governo, em juras mútuas de consolidação da chamada terceira via. Ao ingressar no projeto presidencial do pernambucano Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva vetou a aliança com Ronaldo Caiado. O que Eduardo Campos, sem força moral para fazer valer sua autoridade de líder da aliança (ele é o presidente nacional do PSB), aceitou. Com o veto marinista, Caiado ficou numa situação incômoda e teve de cair fora, para desolação absoluta de Vanderlan.
A base aliada governista quer Caiado. Ou, pelo menos, uma boa parte, arriscaria dizer, a maioria da base quer Caiado. São três razões principais, que seguem enumeradas sem prioridade de ordem: uma, pela identificação natural com o DEM, que já faz parte do governo Marconi; dois, pelo já referido tempo de TV; e três, pelo valor intrínseco do político Ronaldo Caiado.
Há um problema na base aliada, no entanto. A vaga ao Senado já estaria “prometida” ao deputado federal Vilmar Rocha, presidente do PSD. E, de fato, uma guerra surda foi aberta na base entre os adeptos de Vilmar e os que veem em Caiado um nome mais consistente para vitaminar a chapa governista. Sabe como é, melhor entrar com força total porque o adversário não será fácil, ao contrário do que alguns governistas podem estar pensando.
Com a ida de Caiado para a base, Vilmar seria deslocado para a vice. O problema é que o pepista José Eliton que continuar no lugar que já está ocupando. A engenharia é meio complicada principalmente por que o PTB de Jovair Arantes, como sempre acontece, dá umas insinuadas pela vaga de vice, o que é natural, cada partido tem mesmo de se valorizar.
Mesmo com todos os problemas, a ida de Caiado para a base marconista é mais “natural” do que para a oposição. Marconi tem demonstrado que receberia o líder democrata de bom grado, afinal, o arranjo seria bom pra todos. Caberia convencer o líder ruralista, que pode até não dar pinta, mas deve estar louco para “ser convencido”. Cabe ao chefe tucano organizar essa engenharia política.
Se do lado oposicionista pintar uma chapa com Friboi para o governo, Vanderlan Cardoso para vice e Iris para o Senado? Seria uma chapa fortíssima e a base governista necessariamente teria de ter Ronaldo Caiado, que do alto de sua experiência sabe a hora certa de fechar acertos políticos. Não é à toa que ele tem cinco mandatos na Câmara dos Deputados e sobrevive como destaque da oposição no Congresso, mesmo fazendo parte de um partido que teve a espinha dorsal quebrada por Lula da Silva.
Eduardo Campos turbina Vanderlan?
Na semana passada, Eduardo Campos (PSB-PE) foi lançado pré-candidato à Presidência da República, com a confirmação de que a ex-senadora Marina Silva será sua vice. Marina tem índices muito melhores que o presidente do PSB, mas só uma hecatombe tiraria o pernambucano da condição de candidato.
A expectativa agora é que comece uma lenta e gradual transferência de intenção de votos de Marina para Campos, o que ainda não aconteceu. Eles formalizaram a sua aliança em outubro, mês em que o pernambucano aparecia com 15% das intenções de voto no Datafolha. Caiu para 11% em novembro, foi a 12% em fevereiro e chegou a 14% no início deste mês.
Com Marina como o nome do PSB, as marcas dela são substancialmente melhores nos mesmos períodos: 29%, 26%, 23% e 27%. A registrar que o último levantamento do Datafolha foi feito logo depois do horário político eleitoral do PSB, com as inserções curtas da sigla no ar: Marina ascendeu de 23% para 27%, mas Campos ficou patinando de 11% para 12%.
Isso significa que o grosso do eleitorado simpatizante de Marina não está migrando automaticamente para Campos, mas não se pode desconsiderar que agora, com o anúncio “oficial” da parceria e as juras de amor eterno entre os dois, isso comece a ocorrer. A ex-verde recebeu quase 20 milhões de votos (19,33%) na eleição presidencial passada e certamente boa parte desse eleitorado continua convicto das qualidades de Marina Silva, predispondo-se a votar no seu companheiro de chapa, mesmo preferindo que fosse ela a candidata.
Eduardo Campos é o menos conhecido dos pré-candidatos, mas essa aparente desvantagem se torna uma vantagem relativa, considerando que é ele quem mais tem espaço para crescer a partir do momento em que o eleitor tome ciência de seu nome. Desde que, obviamente, a mensagem do socialista toque o coração desse eleitor.
No que nos interessa, o candidato do PSB ao governo de Goiás, Vanderlan Cardoso, pode ser beneficiado com um bom desempenho de Eduardo Campos? Há quem acredite que sim, mesmo a história mostrando que eleição presidencial pouco influencia em pleitos regionais.
Os otimistas dizem que Vanderlan passaria a ter um ponto de referência, como já tem sido desde o início da pré-campanha — ele não perde oportunidade de tecer loas à administração do parceiro em Pernambuco, às vezes até fazendo questão de esquecer que Goiás tem números tão bons ou melhores, o que obviamente não é de seu interesse propagar.
Na campanha, com toda certeza, o presidenciável pernambucano virá ao Estado algumas vezes. E Vanderlan Cardoso seria o esteio do pernambucano em Goiás, em tese auferindo as vantagens da influência positiva. Uma tese muito otimista que encontra guarida em algumas mentes.