Temer tira economia do buraco e quer ser candidato à Presidência
24 fevereiro 2018 às 15h07

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No gozo de seus direitos políticos, emedebista começa movimento para ser o nome de seu partido na eleição de outubro

O presidente Michel Temer (MDB) está disposto a continuar no cargo e pretende disputar a reeleição em outubro. Na quarta-feira, 21, a coluna Radar, de Veja, saiu na frente e informou que o emedebista entrou em campanha. Sustentaria a informação o fato de a Secretaria de Imprensa da Presidência da República (Secom) ter pedido que os ministérios organizem os feitos das pastas para entrevistas.
Diferentemente de Lula da Silva, criminoso condenado em segunda instância e, portanto, ficha suja, Michel Temer tem todo o direito de disputar a eleição, desde que se entenda com seu partido. Qualquer ocupante de cargo Executivo sempre é, em tese, candidato à reeleição. Se a regra eleitoral permite — e ela permite —, Temer pode ser candidato.
Mas, o que o leitor/eleitor quer saber é se o presidente terá chances de sucesso nessa empreitada. Como a popularidade muito baixa não recomenda, pode-se imaginar que que Temer e seus aliados esperam reverter esse quadro.
De fato, há duas circunstâncias que pode alavancar a pretensão do emedebista. A primeira está explicitada na nota da coluna Radar (os louros que a intervenção federal [no Rio de Janeiro] pode lhe trazer). A segunda é a recuperação da economia.
Comecemos pela primeira, a intervenção. A medida pode dar aprovação ao Palácio do Planalto, mesmo que seja cercada de polêmica. Desde os entraves logísticos que envolvem uma profunda movimentação das Forças Armadas na cidade do Rio de Janeiro aos problemas de ordem jurídica, além dos custos financeiros.
O governo federal espera que todas as dificuldades da intervenção sejam superadas e a operação em seu todo seja bem-sucedida — ou que pelo menos os fatores positivos sejam maiores que os negativos. Se for assim, Temer e o governo ganharão pontos com a opinião pública.
Aqui é bom lembrar que pesquisa do Instituto Paraná feita em todo o Brasil mostra que 74,1% dos entrevistados aprovam a intervenção no Rio de Janeiro. E mais, 67,6% querem que seja estendida para Estados com índices altos de violência, como Ceará, entre outros. Por aí se vê que Temer estaria no caminho certo.
Ânimo na economia
Quanto à recuperação da economia, essa já vem ocorrendo desde que o emedebista substituiu Dilma Rousseff na cadeira presidencial. A saída da desastrosa petista e sua equipe de néscios em economia, por si só, já deu um ânimo renovado ao mercado. Aliado a isso, Temer teve o grande mérito de entregar a condução da economia a um craque, Henrique Meirelles.
A recuperação da economia vem ocorrendo. Nos menos de dois anos que Temer está no poder, a inflação saiu de 10% para menos de 3%; a Selic caiu de 14,25% para 6,75%; a recessão de 3,6% saltou para um crescimento de ao menos 3,5% neste ano. Há muito ainda a melhorar, mas todos os indicadores mostram que a recuperação seguirá em 2018, seja na criação de empregos, baixa inflação, juros menores e continuidade do crescimento.
Se isso se confirmar, Temer será beneficiado em alguma ordem. A dúvida é até que ponto isso poderá potencializar sua hipotética candidatura. Deu certo com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na década de 1990, com o Plano Real, que deu ao tucano eleição e reeleição. Lula da Silva (PT), que teve a sabedoria de não desmanchar o que FHC tinha feito na economia, também se beneficiou eleitoralmente.
O problema para Michel Temer é que nem os partidos de sua base aliada, incluindo o próprio MDB, estão levando muita fé na potencialidade de sua candidatura à reeleição. Em reunião da Executiva Nacional do MDB na quarta-feira, 21, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, foi enfático na defesa da candidatura de Temer.
Mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), reconduzido à presidência do MDB, pensa diferente. Jucá disse que o partido trabalha para ter candidato próprio à Presidência, e citou outros nomes além de Temer, incluindo o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles — sem espaço no PSD, o goiano está negociando filiação ao MDB.
“Nós estamos discutindo qual é o nome mais viável, mais factível, que possa ganhar as eleições”, afirmou Romero Jucá. Segundo reportagem do “Estadão”, dirigentes do MDB sustentam que Michel Temer somente será candidato se, em abril, chegar a dois dígitos de aprovação.
Na sexta-feira, 23, Temer disse que a intervenção no Rio de Janeiro foi uma “jogada de mestre”, mas afirmou que a iniciativa não tem nenhum objetivo eleitoral, e ressaltou que não será candidato à reeleição. A negativa é teatro político. Se ele estiver razoavelmente bem na hora certa, será sim candidato.
DEM não gostou
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) — ele mesmo pré-candidato à Presidência —, afirmou, com visível má vontade e certo desdém, que a possível campanha de Temer é “problema” do MDB e do Planalto.
No diagnóstico do DEM, segundo “O Estado”, um cenário assim forçaria Maia e o tucano Geraldo Alckmin a se unirem em torno de uma candidatura única de centro, na tentativa de impedir um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e um nome da esquerda.
Integrante da ala oposicionista do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) disse ao jornal que a entrada de Temer na disputa seria “inconveniente” para o MDB. “Eu vejo o senador Renan Calheiros (AL) com Lula. Vejo o presidente do Senado (Eunício Oliveira) com Lula e o (senador) Jader Barbalho (PA) também. Como é que eles vão juntar esses cacos?”, questionou o senador.
Integrante da tropa de choque de Temer e vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) avaliou que, se o presidente concorrer, inviabilizará não só Henrique Meirelles — que já perdeu a bandeira da reforma da Previdência —, mas também Maia. “Michel é candidatíssimo”, disse Mansur.
Em seu jeito meio oblíquo, Meirelles disse que é “prematuro” apostar no que a base aliada fará. “Vamos ver como tudo isso se desenvolve”, disse o ministro. Mas nos bastidores de Brasília é sabido que Michel Temer patrocinará a candidatura de Meirelles — mas isso só se ele próprio, Temer, não se viabilizar a tempo.
Henrique Meirelles também pode ser beneficiado

Em setembro do ano passado, o colunista escreveu artigo intitulado “Os 8 em pré-campanha à Presidência da República”, com uma análise ligeira dos nomes que naquele momento estavam colocados no jogo sucessório, assumidamente ou não: Lula da Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Jair Bolsonaro, João Doria, Joaquim Barbosa e Henrique Meirelles.
Reproduzo as últimas linhas daquele artigo:
“Volta e meia se diz que o PMDB, sem opção de candidato para a eleição presidencial de 2018, não descarta tentar “roubar” o ministro do PSD [Henrique Meirelles] para lançá-lo candidato à Presidência.
O problema aí, é que se a economia se recuperar de fato, naturalmente haverá um outro candidato ‘natural’… que vem a ser Michel Temer, do PMDB.
Mas isso é tema para outra coluna.”
Bem, eis então que se apresentou o tema para outra (esta) coluna. Nesse ponto, convém lembrar: a melhora da economia beneficia também, diretamente, o goiano Henrique Meirelles. Aguardemos, então. l