Prefeito negociou mais cargos com Câmara Municipal do que com o Republicanos e isso lhe garante uma base para chamar de sua

Logo que Rogério Cruz assumiu a Prefeitura de Goiânia, o mercado de apostas políticas tinha dois principais palpites. O primeiro era que o apetite do Republicanos e da Igreja Universal por cargos na Prefeitura de Goiânia iria inviabilizar a administração do prefeito. O segundo era que sem o MDB de Daniel Vilela seria praticamente impossível montar uma base na Câmara Municipal.

Passaram-se mais de cem dias de gestão. Tempo suficiente para o MDB de Daniel Vilela desembarcar da administração municipal. O prazo também foi suficiente para o Republicanos ocupar pastas no Paço — até aqui de forma moderada e justa para o partido que comanda a Capital. Por outro lado, a base de apoio no Legislativo foi reconstruída sob a liderança do Rogério Cruz, e se tornou ainda mais ampla do que se desenhava no começo do ano — quando ele ainda era tido como vice-prefeito, que, embora tivesse assumido a função, quem ditava os rumos e as nomeações eram emedebistas.

A demissão de Andrey Azeredo da Secretaria de Governo, no dia 16 de março, fez com que nomes alinhados a Daniel e Maguito Vilela e até analistas políticos avaliassem que estava decretado o fim do governo de Rogério Cruz. Sem ele na condução das interlocuções com o Legislativo, a Prefeitura estaria sem rumo. O julgamento se baseia no fato de que Andrey seria o melhor nome para o cargo e que todos os apoios externos passavam por ele. De fato, não se pode negar que a experiência do ex-secretário de Governo dava peso para a gestão do republicano; afinal, ele foi vereador, presidente do Legislativo municipal e secretário do Paço em diversas gestões. Tudo isso lhe dava credenciais para compor apoio e respaldo à administração. Não há dúvidas de que o prefeito se questionou a respeito de quais seriam seus apoios e sua base. E a resposta é que pertencia ao secretário emedebista que a articulou e a costurou.

Ter a base de apoio em outras mãos que não sejam as suas é uma situação temerosa para qualquer chefe de Executivo. É daí que juntou a fome com a vontade de comer. Rogério Cruz abriu espaço para o Republicanos e tirou de campo Andrey. A partir daí coube a ele costurar seus apoios na Câmara Municipal, onde já atuou por dois mandatos. Isso lhe confere mais independência para conduzir seus projetos, em consonância com o Legislativo.

O desembarque da ala do MDB ligada aos Vilelas também veio a calhar. Deu ao prefeito Rogério Cruz espaços para montar sua própria equipe. Como bem disse a ex-vereadora e recém-empossada secretária municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, dra. Cristina Lopes, o pedido de exoneração de mais de 12 secretários do executivo “traz autonomia ao governo”.

E daí veio outra demonstração: a fome dos vereadores, inclusive daqueles filiados ao MDB, é maior do que a do Republicanos e da Igreja Universal, como se especulava desde o início da atual gestão. Aliás, essa fome de cargos será uma das provas de fogo que o prefeito Rogério Cruz terá que enfrentar. Saciar por completo o desejo por nomeações, sabe-se, é impossível. Sempre se tem em mente nomes e em mãos currículos que em número superam o quantitativo de vagas à disposição no Paço. Equilibrar isso, enquanto mantém a boa relação com os 33 vereadores que o apoiam — apenas dois podem ser considerados oposição: Ronilson Reis (Podemos) e Mauro Rubem (PT) —, o prefeito terá que imprimir ritmo e dar rosto para a atual administração.

Pode não transparecer tanto nas notícias e colunas políticas da capital, mas Rogério Cruz tem caminhado muito próximo do presidente da Câmara, Romário Policarpo (Patriota). Ele, que já está em seu segundo mandato à frente da Mesa Diretora da Casa, tem proximidade com o ex-prefeito Iris Rezende (MDB) e tem provado ser um exímio articulador. Após o desembarque emedebista, Romário se tornou ainda mais presente e, portanto, ligado a Rogério. Este é um fato positivo para o Paço. Vereadores foram eleitos pelo voto, conseguem ser o termômetro da satisfação ou insatisfação da população e, neste sentido, podem contribuir com o prefeito na condução da administração e na divisão das responsabilidades.

O ambiente atual é favorável e Rogério Cruz deve aproveitar para aprovar projetos e mudanças para que a capital possa ter uma boa retomada econômica e social no ambiente pós-pandemia. Também deve se valer o apoio quase de ampla maioria para reforçar as ações de enfrentamento à pandemia e ter sua própria marca como prefeito de Goiânia.

Apesar do desgaste, das acusações de traição e dos ataques, o rompimento do MDB com Rogério Cruz se mostra positivo. A situação permite que mais espaço seja dado para indicações do próprio prefeito e seu partido, e, principalmente, deu a ele meios de construir uma base para chamar de sua.

Pode-se concluir: Rogério Cruz é um articulador político habilidoso — que não deve ser subestimado por seus adversários — e, o que é crucial, está administrando de maneira competente a Prefeitura de Goiânia. Como diz um vereador, ele não deixou a peteca cair. Os que apostam no seu fracasso tendem a, digamos, fracassar.